A Polícia Federal concluiu, após sete meses, que os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino são os responsáveis pelo acidente com o Boeing 737-800 da Gol, que caiu em setembro do ano passado no norte do Mato Grosso. O Boeing se chocou no ar com o jato Legacy pilotado pelos americanos. No acidente morreram as 154 pessoas que estavam a bordo do Boeing, na maior tragédia da aviação brasileira. A PF pedirá à Aeronáutica que investigue a responsabilidade dos controladores de vôo militares.
De acordo com as investigações, além de trafegar na mesma altitude do avião da Gol, em desrespeito ao plano de vôo que havia sido traçado para o Legacy, só três minutos depois do choque os pilotos Lepore e Paladino teriam ligado o transponder, equipamento essencial para indicar a altitude exata do vôo. Perícias atestaram que o aparelho funcionava perfeitamente. Se forem aceitas as conclusões da PF, o Ministério Público Federal deve denunciar formalmente os pilotos à Justiça.
De acordo com as investigações, o transponder ficou sem funcionar de Brasília até o norte do Mato Grosso e só voltou operar quando os pilotos precisaram de ajuda para fazer um pouso emergencial. Pelo plano de vôo original, o Legacy deveria ir de São José dos Campos a Brasília a 37 mil pés de altitude. Ao passar pela capital, desceria para 36 mil pés, no norte de Mato Grosso subiria para 38 mil pés e seguiria até Manaus nesta altitude. A faixa de 37 mil pés estava reservada ao Boeing da Gol, que saíra de Manaus para o Rio de Janeiro.
O inquérito não vai incriminar nenhuma outra pessoa além dos pilotos americanos, indiciados por exporem a risco embarcação ou aeronave culposamente (sem intenção). O delegado da PF Renato Sayão, responsável pela investigação, vai enviar a investigação ao Ministério Público Militar, recomendando uma auditoria para apurar se houve crime cometido pelos controladores de vôo que atuavam em Brasília no dia do acidente. Sayão entende que uma possível falha na torre de controle aéreo deve ser alvo de investigação militar e não civil.
O acidente com o Boeing da Gol chamou atenção para problemas existentes no sistema de controle de tráfego aéreo no país. Em meio à crise, parlamentares da oposição começaram a defender a criação de uma CPI , instalada semana passada na Câmara. (Relembre o início do caos aéreo)
Pilotos foram indiciados em dezembro
A PF já tinha indiciado os pilotos americanos por exporem o avião a risco em 8 de dezembro do ano passado. No mesmo dia, os pilotos retornaram aos Estados Unidos. Na semana passada, foi divulgada a conclusão da investigação do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos (NTSB), segundo a qual o equipamento anticolisão não estava em pleno funcionamento.
Aeronáutica conclui cruzamento das caixas-pretas
A Aeronáutica também avança na investigação. A comissão responsável pelo relatório sobre tragédia finalizou o cruzamento de todos os dados das caixas-pretas do Boeing, do Legacy e da comunicação interna das torres de controle. Com esse cruzamento, a força aérea fez um vídeo com a reconstituição dos vôos, o que revelou que, na decolagem, as duas aeronaves estavam em perfeito estado de funcionamento. A primeira evidência de que algo estava errado surgiu 55 minutos antes do acidente. O transponder do Legacy deixou de emitir sinais para o radar. Segundo a investigação, nesse momento os controladores poderiam ter adotado algum procedimento de segurança para evitar a colisão. Sobre o transponder, a comissão trabalha com duas hipóteses: pane, que já foi descartada pelo fabricante, ou desligamento involuntário do aparelho pelos pilotos do jatinho.
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