Pessuti recusa a Sanepar; e Beto "perde" ala do PMDB
O ex-governador Orlando Pessuti (PMDB) recusou ontem o convite para assumir a presidência da Sanepar. Horas depois de ser comunicado sobre a decisão, o governador Beto Richa (PSDB) anunciou o retorno de Fernando Ghignone para comandar a estatal.
Líder da base na Assembleia nega crise e fala em "ajustes"
Apesar de ter criticado projetos do governo do Paraná nos últimos dias, o líder do governador Beto Richa na Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), negou que haja qualquer crise ou desorganização do Palácio Iguaçu na articulação com a base. Sobre os projetos de lei que foram devolvidos, o tucano disse que isso é natural diante da mudança de comando na Casa Civil, que ocorreu há 20 dias. "São ajustes necessários. A máquina administrativa é muito ampla e, muitas vezes, na vontade de acertar acontecem falhas", justificou.
Sobre o papel do PMDB na base, Traiano garantiu que a boa relação com o partido permanece. "A sintonia continua muito próxima com o governo. É claro que há divergências internas no PMDB, mas os deputados do partido continuam conosco e defendem uma aliança em 2014."
Críticas
Já o líder da oposição, Tadeu Veneri (PT), não poupou críticas a Richa. Segundo ele, a crise é evidente. Disse que o jogo de interesses no governo é tão grande que "ninguém se entende". "A multiplicidade de comandos transformou o governo num agrupamento de interesses muito diferenciados, em que cada um defende o seu próprio [lado]."
O petista ressaltou ainda que a "falta de rumo" se traduz na criação de cada vez mais cargos comissionados, mesmo diante do fato de 48,75% da receita do estado estar sendo gasta com pessoal o limite máximo permitido é de 49%. "Há um corpo técnico qualificado no Executivo, mas há uma diretriz política de desconsiderar os seus pareceres", criticou.
Às portas de uma crise. O início de 2013 tem sido bastante complicado para o governador Beto Richa (PSDB). Nesta semana, em especial, o cenário político para o tucano reservou problemas na Assembleia Legislativa, críticas por parte de deputados da base aliada e dissabores em relação às costuras políticas para a eleição de 2014.
Desde segunda-feira, o Executivo voltou atrás em pelo menos quatro projetos de lei enviados à Assembleia. Ontem, outra proposta, que tratava de ONGs, recebeu críticas até do líder do governo no Legislativo. Além disso, deputados do PSDB e do PMDB reclamaram do atendimento que recebem no Palácio Iguaçu.
Por fim, a recusa do ex-governador Orlando Pessuti de assumir a Sanepar enterrou as esperanças de amarrar desde já uma aliança com o PMDB para 2014 e solidificou a possibilidade de os peemedebistas também terem candidato ao governo.
Projetos polêmicos
Na segunda-feira, o governo decidiu incluir no projeto que cria a Secretaria de Governo a proposta que prevê a instalação de 23 escritórios regionais pelo estado o projeto de criação das regionais, que estava em tramitação desde 2012, já havia enfrentado resistência. Ontem, porém, o trecho que trata das representações no interior foi retirado, diante do atraso que isso causaria à criação da nova pasta.
Isso porque os parlamentares aliados reclamam que a medida iria criar "deputados paralelos", pois os coordenadores de cada escritório teriam contato constante com prefeitos e vereadores. Além disso, eles temem que os nomeados se tornem adversários políticos fortes nas próximas eleições. Maior partido da Casa, o PMDB, por exemplo, já disse que votará contra a proposta se ela chegar a plenário.
Outro projeto retirado foi o que abria a possibilidade de empresas privadas fiscalizarem as rodovias estaduais com radares eletrônicos. Além da oposição, o próprio líder do governo na Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), disse não ver a necessidade de instalação de novos radares.
Também foi retirado do Legislativo, para "rediscussão interna", o projeto que aumentaria o capital social autorizado para a Agência de Fomento do Paraná. Um dos motivos seria o fato de a medida retirar o Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU) da Secretaria do Desenvolvimento Urbano, recém-assumida por Ratinho Jr. (PSC).
A resistência da base às propostas do governo se soma às reclamações dos deputados em relação ao tratamento que recebem de secretários estaduais. De um lado, a bancada do PMDB alega que parlamentares do partido não são convidados para participar da inauguração de obras nas cidades de suas bases eleitorais. De outro, os deputados do PSDB dizem que o governo prestigia mais os peemedebistas que, ao contrário deles, "não precisam pedir licença" quando vão ao Palácio, segundo palavras de um tucano.
A proximidade da eleição para a presidência estadual do PSDB também tem causado dor de cabeça a Richa. Por ora, quatro parlamentares se colocam como candidatos, e nenhum parece disposto a abrir mão da disputa. Traiano, que é um dos concorrentes, defende que somente a reeleição do governador ao comando do partido seria capaz de acalmar os ânimos.