O destino de dezenas de militantes de esquerda que desapareceram durante a guerrilha do Araguaia, no início da década de 1970, continua sendo um mistério, informou o governo federal na quarta-feira, num relatório que encerra quatro anos de investigações.
Há quatro anos, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu primeiro mandato, grupos de direitos humanos esperavam que seu governo ajudaria a explicar como e onde cerca de 150 adversários do regime desapareceram.
Entre os desaparecidos na ditadura militar, o caso mais emblemático é o dos cerca de 80 militantes do PC do B que sumiram na guerrilha do Araguaia, no sul do Pará.
Eles teriam sido mortos em confrontos com o Exército, mas só dez corpos foram achados desde a década de 1970.
Vários membros do PT participaram da luta armada contra a ditadura. O deputado federal José Genoino (SP), ex-presidente do partido, foi preso pelo exército durante a guerrilha do Araguaia.
Parentes das vítimas pediram ao governo e às Forças Armadas que revelem a localização dos demais corpos.
Mas uma comissão do governo foi incapaz de dizer como os guerrilheiros desapareceram ou onde estão seus restos, disse na quarta-feira o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
"Segundo as Forças Armadas, todos os documentos relativos à guerrilha do Araguaia foram destruídos", disse o relatório.
A comissão visitou dois lugares do Pará, onde ocorreu a maior parte dos confrontos, mas não achou nada, segundo Vannuchi.
O relatório recomendou que Lula libere documentos sigilosos que contêm possíveis pistas e ordene aos comandantes militares que busquem informações junto a oficiais que estiveram envolvidos no combate à guerrilha.
"Os atuais líderes militares são de uma geração que não tem sangue em suas mãos. Eles não estão envolvidos, então não precisam acobertar nada", disse Vannuchi.
A Lei da Anistia (1979) perdoou os militares e guerrilheiros pelos crimes cometidos durante a ditadura, e Vannuchi disse que o objetivo não é punir ex-oficiais. "Só podemos virar esta página negra da nossa história recente em um espírito de reconciliação."
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