Procurador diz que não alertou Cunha

Atualmente procurador de Justiça, Cláudio Lopes negou nesta sexta-feira (29) ter alertado qualquer pessoa sobre grampos telefônicos. Lopes classificou as acusações contra ele como "vergonhosas". "Não tenho nenhuma intimidade com o deputado Eduardo Cunha. Encontrei com ele umas duas ou três vezes. Uma delas para ver se ele conseguia, junto ao Ministério da Educação, credenciar a Fundação Escola do Ministério Público", revelou o procurador.

Lopes afirmou que foi alertado sobre o inquérito aberto pelo Ministério Público pelo procurador David Farias, então coordenador do Grupo de Combate à Sonegação Fiscal do MP. Lopes, porém, disse "não se lembrar" do nome de Eduardo Cunha no caso: "O David me alertou (sobre o inquérito). Eu disse que havia pessoas com foro privilegiado e, por isso, provas poderiam ser consideradas nulas. Não queria manchar a imagem do MP. Fiquei sabendo um ano depois que o caso foi para o Supremo. Não me lembro se tratava do Eduardo Cunha. Se houve vazamento, 500 pessoas manipularam. Foi a delegacia que investigou."

Cunha informou que nesta sexta-feira mesmo pediu ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e à chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, que investiguem a existência do relatório. "O assunto foi publicado pelo jornal O GLOBO em 2010 e dizia apenas que se tratava de um deputado (nas escutas telefônicas), sem divulgar o nome. Fui ao plenário e assumi. Não há qualquer relatório que tenha o meu nome", disse o deputado.

Em nota, Cunha escreveu: "Por si só, esse "relatório" merece uma investigação, e vou requerer para saber da sua legalidade, autoria, responsabilidade e motivações, provavelmente escusas, feitas inclusive por quem não teria competência legal para investigar, nem a mim, nem a um senador da República e nem ao chefe do Ministério Público estadual, detentores de foros especiais, fora, portanto, da competência da Polícia Civil. Se verdadeiro esse relatório, exigirei punição exemplar para os policiais que o montaram".

Cunha também falou sobre a relação com Magro: "Além de empresário, ele é advogado, foi meu consultor jurídico em ações na Justiça, derivando daí o meu relacionamento. E, além disso, o citado à época em 2010 era referente a dois fatos: um de apresentá-lo à direção de uma empresa privada (Braskem) e o outro de apresentá-lo a um corretor de um imóvel para o qual ele tinha a intenção de montar um restaurante em Brasília. Nada a ver, portanto, com sonegação ou qualquer atividade de natureza pública".

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Reportagem publicada na revista "Veja" desta semana informa que uma operação sigilosa no Rio de Janeiro pode ter vazado para os investigados, entre eles, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A investigação era por tráfico de influência. Um relatório da Polícia Civil do Rio, ao qual a revista diz ter acesso, afirma que os investigados mudaram de comportamento e passaram a conversar no telefone apenas assuntos pessoais - o que indicaria que eles sabiam que estavam sob escuta.

Como O GLOBO mostrou em uma série de reportagens publicada em novembro de 2010, um parlamentar do Rio era investigado por comandar fraudes e um esquema milionário de sonegação fiscal comandado pelo dono da refinaria de Manguinhos, Ricardo Magro. Cunha então afirmou que era ele o parlamentar investigado.

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Agora, segundo a "Veja", o trabalho da polícia teria sido prejudicado a partir do dia 21 de setembro de 2009. De acordo com a reportagem, 21 de setembro é também a data em que Cunha recebeu uma ligação do então procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes, e teria ido até a sala do procurador. Ao sair de lá, ligou para Magro, e sugeriu que eles se comunicassem por MSN. A partir desta data, quando então o grupo estaria ciente de que era vigiado, as investigações não avançaram mais.

"(...) após o dia 21/09, data em que a íntegra dos presentes autos foi encaminhada ao Ministério Público por requisição do Promotor de Justiça que atuava na investigação, os alvos interceptados passaram a apresentar um comportamento diferente daquele demonstrado nos outros períodos de interceptação: alguns simplesmente pararam de falar (...)", diz trecho do relatório da polícia.

Oito meses de investigação

Em oito meses de investigação a polícia seguiu, filmou e grampeou Cunha, o senador Edson Lobão Filho (PMDB-MA) e mais dez pessoas ligadas ao dono da refinaria de Manguinhos. Os investigadores "flagraram conversas comprometedoras e até viagens e shows, que não deixam dúvida sobre o estreito elo entre os dois políticos e o empresário", afirma a revista.

De acordo com a "Veja", Lopes, em 18 de setembro de 2009, teria pedido os autos do inquérito relativo a Cunha. O promotor David Francisco de Faria, da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal do MP estadual, entregou a papelada. Mas não sem antes reclamar. Ele teria dito a policiais que nunca havia recebido ordem parecida em uma década de carreira. David Francisco deixou o cargo dois meses após o ocorrido.

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As investigações sobre as ligações de Cunha com o esquema fazem parte de um inquérito sob análise no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a "Veja", Eduardo Cunha e Ricardo Magro se falavam até nove vezes por dia. Em 25 de agosto de 2009, Magro teria pedido a Cunha que ajudasse a Braskem (petroquímica da qual a Petrobras é sócia) a vender gasolina a Manguinhos. Cunha prometeu ajudá-lo. No dia seguinte, avisou que tinha notícias "lá da Braskem".