O apelido “delação do fim do mundo” para as revelações de executivos e ex-diretores da Odebrecht envolvidos no escândalo da Lava Jato não poderia ser mais apropriado. Depois de o Brasil ser sacudido pelos primeiros vazamentos dos acordos de colaboração da Odebrecht, as investigações internacionais decorrentes das revelações da empreiteira chegaram a mais 11 países onde a empresa admitir ter pago propina. E, em cinco dessas nações, o caso caiu como uma bomba: envolvem no escândalo de corrupção cinco presidentes e ex-presidentes e uma ex-vice-presidente, além de outras altas autoridades.
No Brasil, as delações da Odebrecht citam o presidente Michel Temer (PMDB) e os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT.
Peru
O Peru é o país da lista com maior número de altas autoridades sob suspeita: três. O atual presidente Pedro Pablo Kuczynski é investigado pelo Ministério Público por supostamente favorecer a Odebrecht a ganhar uma concessão quando era presidente do Conselho de Ministros, no governo de Alejandro Toledo (2001-2006).
Toledo foi alvo na terça-feira (7) de um pedido de prisão formulado pelo Ministério Público peruano. O ex-presidente é acusado de ter recebido US$ 20 milhões para favorecer a Odebrecht na licitação para a obra da estrada interoceânica – que liga o país ao Brasil.
A Odebrecht também é suspeita de ter feito repasses ilegais de US$ 3 milhões a outro ex-presidente peruano, Ollanta Humala (2011-2016), e à ex-primeira-dama Nadine Heredia. O objetivo: financiar sua campanha eleitoral e facilitar os negócios da empresa.
Veto triplo na América Latina
Após as revelações do esquema de corrupção patrocinado pela Odebrecht no exterior, pelo menos três países proibiram a participação da empreiteira em obras públicas: Panamá, Peru e Equador.
Colômbia
Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos é acusado pelo MP local de ter recebido US$ 1 milhão de propina da Odebrecht em troca do contrato para construir uma rodovia. Parte desse dinheiro teria abastecido sua campanha eleitoral de 2014.
Santos pediu nesta quarta-feira (8), ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), máxima autoridade eleitoral do país, que investigue “a fundo” e “rápido” o suposto dinheiro da Odebrecht que teria financiado sua campanha de reeleição.
O Conselho já apura a suspeita de que a Odebrecht também pagou pelos serviços do marqueteiro brasileiro Duda Mendonça, que trabalhou na campanha de Ivan Zuluaga – derrotado por Santos em 2014.
Panamá, Equador e Guatemala
Nação usada para pagar grande parte das propinas internacionais da Odebrecht, o Panamá também tem um ex-presidente investigado por suspeita de participar do esquema. Ricardo Martinelli (2009-2014) e dois de seus filhos são investigados por supostamente terem recebido suborno de US$ 59 milhões. A Odebrecht toca grandes projetos de infraestrutura no país, como uma linha do metrô da Cidade do Panamá e um aeroporto.
No Equador, a empreiteira é investigada por pagar um total de US$ 33,5 milhões para servidores públicos em troca de facilidades em contratos com o governo. Não há investigação envolvendo o atual presidente, Rafael Correa, embora os supostos pagamentos tenham sido feitos durante seu governo. Mas o escândalo já afeta a campanha presidencial do candidato governista à sucessão de Correa, Lenin Moreno. Os oposicionistas tentam ligar Moreno ao que chamam de “governo corrupto”. A eleição ocorre no próximo dia 19.
Já na Guatemala, o escândalo da Odebrecht atinge, entre outros políticos, a ex-vice-presidente Roxana Baldetti (2012-2015). A empreiteira fez pagamentos de propina de US$ 18 milhões no país.
Interferência da OAS no Chile
Outra empreiteira investigada pela Lava Jato no Brasil, a OAS, é suspeita de ter financiado ilegalmente campanhas eleitorais no Chile. Na terça-feira (7), o Ministério Público chileno fez uma operação de busca e apreensão no escritório da OAS em Santiago, capital do Chile. O MP questiona a possível relação entre a OAS e o ex-candidato à presidência Marco Enríquez-Ominami. Durante sua campanha de 2013, ele teria usado um avião da empresa brasileira para se deslocar. O gasto não teria sido justificado ao Fisco chileno. Ominami perdeu a eleição de 2013 para Michelle Bachelet.
Outros países
O esquema de corrupção da Odebrecht para obter contratos públicos operou em pelo menos mais seis países, segundo admitiu a própria empreiteira. Nessas nações ainda não há acusações formais contra altas autoridades.
Na Argentina, os subornos somara US$ 35 milhões. Na Venezuela, US$ 98 milhões. No México, a Odebrecht admitiu ter pago US$ 10,5 milhões para ganhar obras públicas. A República Dominicana investiga pagamentos de US$ 92 milhões da Odebrecht a agentes públicos.
Fora das Américas, dois países da África também estão envolvidos no esquema de propina da Odebrecht. Em Angola, a empreiteira admitiu ter pago US$ 50 milhões em suborno entre 2006 e 2013, em troca de obras públicas. Em Moçambique, foram US$ 900 mil .
A origem das investigações
As investigações das ramificações do esquema de corrupção da Odebrecht fora do Brasil começaram a partir de um acordo entre a força-tarefa da Lava Jato com as autoridades dos Estados Unidos e da Suíça – países por onde circulou o dinheiro da corrupção.
Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Odebrecht admitiu ter pago um total de US$ 788 milhões de suborno em 12 países – incluindo o Brasil. A Odebrecht e a Braskem (empresa controlada pela empreiteira) assinaram um acordo de leniência com os três países que prevê o pagamento total de multas de US$ 3,5 bilhões para encerrar os processos que pesam contra elas.
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