Lupi foi demitido do ministério em 2011. Mas o partido dele, o PDT, comanda a pasta até hoje| Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Outro ministério

ONG investigada cometeu irregularidades em contrato do Turismo

Agência O Globo

Além do Ministério do Trabalho, outras três pastas também confirmaram ter firmado convênios com a ONG Instituto Mundial do Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC), alvo de investigação. Irregularidades em contratos com a entidade também foram constatadas no Ministério do Turismo, que firmou convênios entre 2007 e 2010 com o IMDC.

A pasta informou que foram repassados R$ 3,7 milhões ao IMDC. Em 2012, segundo a assessoria, o ministério "requereu esclarecimentos e a devolução de recursos com base indícios de irregularidades detectadas durante a análise de prestação de contas" e enviou à Controladoria-Geral da União um plano de providências sobre o assunto. Também foi criada uma força tarefa para a análise dos documentos.

A pasta do Desenvolvimento Agrário disse que convênios de R$ 144 mil com o IMDC foram assinados em 2008 e não estão vigentes. Segundo o Ministério da Cultura, um convênio foi firmado com a ONG em 2009, no valor de R$ 89,9 mil. A pasta determinou a reanálise das contas.

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Depoimentos de investigados pela Polícia Federal (PF) na Operação Esopo ligam o esquema de desvio de dinheiro do Ministério do Trabalho e Emprego ao ex-ministro da pasta e atual presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Segundo os depoimentos, o deputado federal Ademir Camilo (PSD-MG) era o intermediário da destinação de verbas federais do programa de qualificação profissional ProJovem aos municípios. Camilo negociaria a liberação do dinheiro diretamente com Lupi, na época em que ele era ministro.

O presidente do PDT foi demitido do Ministério do Trabalho em 2011, pela presidente Dilma Rousseff, por suspeitas de ter cometido irregularidades na pasta. O ministério, porém, continuou a ser comandada pelo partido até hoje. O atual ministro, Manoel Dias, é filiado ao PDT e ligado a Lupi.

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Um dos investigados pela PF, o prefeito de São João da Ponte (MG), Fábio Cordeiro, afirmou em depoimento que o deputado Camilo negociava diretamente com Lupi a liberação da verba do ProJovem – uma das principais fontes de receitas do Trabalho. O desvio de recursos ocorria, segundo a PF, por meio da ONG Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC). O instituto seria contratado pelas prefeituras sem licitação ou por meio de concorrência viciada para executar as atividades do programa.

Um ex-assessor do deputado – Marcos Vinicios da Silva – foi preso na operação da PF. Em entrevista, Camilo negou ter feito a intermediação da liberação do dinheiro. Mas admitiu que fez palestras de divulgação sobre ProJovem a prefeitos por convite do presidente do IMDC, Deivson Vidal. Camilo disse ainda que suas tratativas com Lupi foram apenas para cobrar um compromisso do então ministro de ampliar o programa em Minas Gerais. Afirmou ver as suspeitas contra Vidal com "certa indignação" e assegurou ter "total desconhecimento e repúdio" em relação a ações do seu ex-assessor. O ex-ministro Carlos Lupi não foi localizado para comentar o caso.

Grupo de trabalho

Ontem, o ministro Manoel Dias decidiu criar um grupo de trabalho que vai analisar os convênios firmados pelo ministério, em regime de mutirão. Não há prazo definido para os trabalhos nem foi informado o número de convênios que passarão pelo pente-fino.

50 mil grampos e nenhuma menção a trabalho

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De 50 mil conversas gram­­­peadas de funcionários do Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC), entidade sem fins lucrativos que está no centro das investigações da operação Esopo, em nenhuma há menção a serviços ­­reais sendo prestados.

O dado está no relatório em que a Polícia Federal pede à Justiça a autorização de buscas e decretação de prisões.

A pasta do Trabalho, diz a PF, tinha "altos funcionários devidamente remunerados pelos serviços prestados" – referência a supostos pagamentos de propina em troca de favorecimento da entidade. "Todos os diálogos travados entre os investigados [funcionários do IMDC] relativos a ‘trabalho’ diziam respeito a licitações fraudulentas, emissão de notas fiscais frias, repasses e saques de valores junto a empresas parceiras e contatos com colaboradores a fim de operacionalizar essas fraudes", diz a peça policial. Funcionários do IMDC eram monitorados desde 2011.