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Em depoimento na CPI dos Bingos, o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito de São André Celso Daniel, assassinado em 2002, fez um minucioso relato de encontros e conversas que teve com empresários, políticos e o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto de Carvalho, antes e depois do assassinato do irmão. João Francisco Daniel foi convocado para esclarecer os vínculos entre a chamada máfia do lixo, que atuaria em algumas cidades de São Paulo, e irregularidades envolvendo donos de bingo.

Segundo ele, numa das conversas Gilberto Carvalho teria dito espontaneamente que recolhia dinheiro de empresários em Santo André e repassava para o então presidente do PT, o hoje deputado José Dirceu (SP). João Francisco Daniel está sendo processado por José Dirceu por calúnia e difamação. O Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou em julho de 2002 o pedido de instauração de inquérito para investigar Dirceu, considerando que o deputado não estaria envolvido no esquema de arrecadação de propina.

- Ele, Gilberto, era responsável por pegar o dinheiro em Santo André. Ele pegava o Corsa preto e levava o dinheiro para São Paulo para entregar ao José Dirceu - afirmou o depoente nesta quinta-feira.

João Francisco Daniel não soube explicar por que Gilberto Carvalho falaria de segredos de campanha para ele se não tinha uma boa convivência com Celso Daniel. O senador Tião Viana (PT-AC) questionou Francisco:

- O que aconteceu para o Gilberto falar isso?

- Eu não sei. Só o Gilberto pode falar - respondeu João Francisco.Tião Viana disse que respeita muito o direito de João Francisco e dos demais parentes de Celso Daniel de tentar esclarecer a morte do irmão, mas observou:

- A única ponderação que eu faço é o receio de que algum inocente possa ser destruído por um campo de dúvidas dele (Francisco) - afirmou o petista, dizendo considerar Gilberto Carvalho uma pessoa acima de qualquer suspeita.

De acordo com João Francisco Daniel, Carvalho o procurou após a missa de sétimo dia da morte de seu irmão. Carvalho teria lhe dito que o esquema era comandado por Klinger de Oliveira Sousa, então secretário de Obras da Prefeitura de Santo André, Sergio Gomes da Silva (o Sombra) e o empresário Ronan Maria Pinto.

- Ele (Carvalho) estava sério e disse: eu preciso confidenciar uma coisa. O Celso sabia do esquema do qual faziam parte o Klinger, o Sergio e Ronan. Ele me falou que pegava o dinheiro, com muito medo, pegava seu corsa preto e levava o dinheiro para São Paulo e entregava nas mãos do deputado José Dirceu, então presidente do PT- disse.

Na seqüência do depoimento, Francisco Daniel insinuou que parte do dinheiro seria arrecadado por integrantes de um esquema que teria encomendado a morte de Celso Daniel porque o irmão estava preparando um dossiê sobre as irregularidades. Segundo João Francisco Daniel, seu irmão foi "barbaramente torturado porque eles queriam informações". Ainda segundo o médico, mais de seis pessoas relacionadas ao caso já foram assassinadas. Ele afirmou também que tem recebido ameaças veladas, mas afirmou não ter medo de morrer.

O médico, que ainda não esclareceu o conteúdo do dossiê entregue à CPI, fala de um suposto complô formado por Sérgio Gomes da Silva, seguranças de Daniel, Ronan Maria Pinto e Klinger de Oliveira. O prefeito Celso Daniel foi encontrado morto em janeiro de 2002, dois dias depois de seqüestrado após jantar com Sombra.

Sérgio Gomes da Silva, que começara como segurança de Celso Daniel e chegou a dono de empresas de ônibus, foi apontado pelos seqüestradores como mandante do crime, segundo o Ministério Público. Chegou a ficar sete meses preso pelo crime mas foi solto em julho do ano passado. De acordo com uma testemunha, contou João Francisco Daniel na CPI, Sérgio deu um chute em Celso Daniel e pagou US$ 40 mil para os seqüestradores do prefeito. Testemunhas contaram ainda, conforme relato do irmão da vítima, que Sombra é uma pessoa de temperamento extremamente violento, que costumava impor suas vontades, ameaçando as pessoas com um revólver.

O irmão do prefeito disse também que desde o dia da morte de Celso Daniel busca informações sobre as causas e os mandantes do assassinato.

- Minha luta não é político-partidária, só quero que se faça justiça - disse.

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