Brasília (Folhapress) – Frente a frente com os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel (PT), o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, negou ter entregue R$ 1,2 milhão em propina ao deputado José Dirceu (PT-SP) e os acusou de servir a interesses da oposição.

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Na acareação promovida ontem pela CPI dos Bingos, João Francisco e Bruno Daniel disseram que Carvalho caiu em contradição e mentiu a serviço do governo federal.

Os dois disseram que, em três ocasiões diferentes, logo após a morte de Daniel, Carvalho falou que transportava dinheiro desviado de Santo André para Dirceu. Na época, Carvalho era secretário de governo da prefeitura.

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"Você se esqueceu que, naquele dia em casa (uma semana após o crime), entre um pedaço de bolo de aipim e outro, você não parava de falar. Disse que tinha medo de transportar tanto dinheiro para José Dirceu num Corsa preto?", perguntou João Francisco.

Carvalho afirmou que as declarações dos irmãos são criativas, mentirosas e levianas.

"Como você pode negar isso? Não é possível", disse João Francisco, que desafiou Carvalho a se submeter a um detetor de mentiras. "Eu o desafio a fazer um teste de polígrafo em um organismo internacional, porque nacional eu não confio."

A princípio Carvalho não respondeu. Depois, questionado pelo senador José Jorge (PFL-PE), afirmou: "Eu não conheço essa prática do polígrafo, mas não tenho medo de participar, podemos fazer".

Celso Daniel foi encontrado morto no dia 20 de janeiro de 2002. Meses depois, o Ministério Público de Santo André denunciou à Justiça um suposto esquema de corrupção na prefeitura da cidade que teria sido montado para abastecer contas eleitorais do PT. Ao tentar romper com o esquema que ele mesmo montou, segundo o Ministério Público e como admitem os irmãos, Celso Daniel teria sido assassinado.

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Enquanto os irmãos bateram de frente com Carvalho, acusando-o de ter participado da coleta de propina na prefeitura da cidade e de ter agido de forma parcial na apuração do crime, o chefe de gabinete adotou uma estratégia diferente.

Disse que Bruno e João Francisco estavam distantes de Celso Daniel, que não havia intimidade entre eles e que, após o crime, os dois "se voltaram contra todas as pessoas que Celso Daniel amou".

O assessor de Lula também acusou João Francisco de ser movido por interesses pessoais, de agir como lobista de uma empresa de transporte da cidade.

"Vocês nem tiveram interesse em ver o corpo (de Daniel)", afirmou Carvalho, que se disse assustado com a "frieza" dos irmãos do ex-prefeito. Ele os acusou de servir a interesses políticos da oposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a afirmação irritou os senadores.

Dirigindo-se a João Francisco, Carvalho disse: "O senhor nunca compareceu a nenhuma posse de Celso Daniel, mas foi à prefeitura diversas vezes defender seus interesses pessoais".

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Irritado, Bruno afirmou que o relevante é descobrir quem matou Daniel e o motivo de ele ter sido torturado pelos seqüestradores. "O que é relevante? Saber se a menina é filha de Daniel? Saber se João Francisco é lobista? Isso tudo parece ser uma cortina de fumaça para atrapalhar a investigação da morte."