Na véspera da votação da abertura do processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992, as principais lideranças da Câmara se reuniram no Restaurante Piantella, tradicional ponto de encontro dos políticos em Brasília. Durante o jantar, o “papa” do PMDB, Ulysses Guimarães, fez questão de se sentar ao lado do líder do governo, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). Pouco se falou sobre a queda do presidente, mas a escolha da cadeira era a senha de que o consenso estava montado.
“Você sabe que todas as grandes votações são decididas com antecedência, que ninguém chega lá no plenário sem saber o que vai acontecer, não é?”, lembrou Marco Aurélio Costa, dono do lugar à época e amigo de Ulysses, em entrevista à Gazeta do Povo, em 2013. Por medo da era dos smartphones e redes sociais, lugares como o Piantella perderam espaço como ponto de encontro dos políticos. A etiqueta dos jantares, não.
Foi à mesa que ocorreram as principais conversas sobre o impeachment de Dilma Rousseff na semana passada. Na segunda-feira (3), a própria presidente reuniu aliados em jantar no Palácio da Alvorada. O sinal do comportamento dos convidados não foi dado pela escolha das cadeiras, nem por questionamentos sobre o cardápio, mas por constantes saídas à francesa.
A 12 quilômetros dali, na residência oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) oferecia outro jantar. Quem foi aos dois, disse que o segundo estava mais cheio. Nele, Cunha teria conversado sobre a “fórmula ideal” para a abertura do processo de impeachment.
O peemedebista continuaria arquivando os pedidos, mas algum deputado recorreria contra a decisão, o que levaria a decisão para o plenário. Na quinta-feira (6), Cunha realmente arquivou sumariamente mais quatro processos. Mas não houve recurso.
Anfitrião tucano
Na terça-feira (4), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) abriu as portas do seu apartamento para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Compartilharam a comida com os dois últimos presidenciáveis tucanos e também senadores, Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Chegaram à conclusão de que o impeachment ainda não está maduro o suficiente para ser digerido.
A azia veio dois dias depois, quando um grupo de parlamentares ligados a Aécio passou a defender a antecipação de novas eleições, ao invés de impeachment. A ala tucana de Serra e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, estaria indisposta com a novidade. Preferiria um acordo com o PMDB de Michel Temer, que assumiria em caso de impeachment, ou simplesmente esperar por 2018.
Noutro encontro, na quarta-feira (5), cerca de 20 deputados da bancada peemedebista na Câmara se encontraram no Hotel Mercure para decidir se seguiriam Cunha, que rompeu com Dilma. Mais do que isso, planejavam uma forma de declarar apoio às manifestações contra a presidente convocadas para o dia 16 de agosto.
“Falava-se em derrubar a Dilma, mas não no que o PMDB faria depois disso. Quando todo mundo percebeu o caminho da conversa, não foi para frente: decidimos que cada um tomaria a sua decisão por conta”, descreveu um deputado que participou do encontro.
A decisão remete a outro ensinamento de Ulysses, para quem o uísque e o poire (aguardente de pêra) eram dois combustíveis indispensáveis para o desfecho das negociações políticas. “Depois da segunda dose, a conversa fica sempre de igual para igual”, costumava dizer o Dr. Constituinte.
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