Após ver adiada a votação do projeto de repatriação de recursos por duas vezes, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) reuniu líderes da base aliada na Câmara dos Deputados para pressioná-los por um desfecho imediato. Diante de reclamações e reivindicações dos deputados, que se queixavam de trechos da proposta, Wagner ameaçou: “O Senado me avisou que já tem pronto outro projeto. Se a Câmara não aprovar agora, perderá o protagonismo no assunto”.
A provocação surtiu efeito e, no dia seguinte, o texto-base da proposta foi aprovado pelos deputados. Passada a tormenta, o ministro adotou postura oposta: ligou a deputados para agradecer a mobilização e atribuiu a eles papel de destaque na vitória. O episódio resume a mudança na estratégia de negociação política desde que Jaques Wagner assumiu o comando da Casa Civil.
Conhecido por equilibrar o estilo de instigador com o de conciliador, “Galego”, como é chamado pela presidente Dilma Rousseff, acelerou a tramitação de propostas de interesse do Planalto, mas ainda patina na aprovação de medidas do ajuste fiscal e na recomposição da base aliada.
Com respaldo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Wagner foi nomeado há quase dois meses com objetivo de melhorar a relação entre Executivo e Legislativo e enfraquecer o movimento pelo impeachment de Dilma.
No início, ao assumir papel semelhante ao do também lulista Ricardo Berzoini na articulação política, Wagner bateu cabeça com o chefe da Secretaria do Governo. Segundo relatos de ministros e congressistas, os dois chegaram a se atropelar nas mesmas tarefas.
Com o tempo, conseguiram delimitar atuações diferentes, mas deputados e senadores ainda reclamam da dificuldade de identificar qual dos dois interlocutores deve procurar para tratar de temas do Congresso. Na semana retrasada, por exemplo, Wagner e Berzoini receberam deputados e senadores para discutir o mesmo assunto: a votação dos vetos presidenciais.
Os críticos do ministro afirmam ainda que, ao priorizar a articulação política, Wagner tem dedicado pouco tempo ao controle da máquina administrativa, delegando funções a auxiliares e assessores. A postura é diferente da de seu antecessor, Aloizio Mercandante, que fazia questão de acompanhar as questões administrativas de perto.
As recentes vitórias do governo, como a manutenção da maior parte dos vetos presidenciais às pautas-bomba, são atribuídas por auxiliares de Dilma ao estilo “sedutor” e “acessível” de Wagner. Em oposição a Mercadante, o ministro dedica boa parte de sua agenda ao relacionamento político, costuma distribuir elogios públicos a governistas e a oposicionistas e atende tanto ao alto como ao baixo clero da Câmara dos Deputados.
Segundo colegas de Esplanada, enquanto Mercadante fazia questão de discutir as indicações para o segundo e terceiro escalões, o que atrasava as nomeações, Wagner evita interferir nos acordos firmados por Berzoini.
No governo, o baiano construiu o único canal de diálogo do Planalto com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ ), e costurou acordo de trégua com o peemedebista.
Na semana retrasada, três petistas que integram o Conselho de Ética da Casa não compareceram à sessão do colegiado em manobra que adiou ainda mais o processo que pode culminar na cassação do mandato de Cunha. No acordo de armistício, o peemedebista já avisou que só decidirá sobre um eventual pedido de afastamento de Dilma em 2016.
Pragmático, Wagner iniciou aproximação com Cunha antes de assumir a Casa Civil, quando ainda comandava o Ministério da Defesa. Em abril deste ano, o Exército Brasileiro condecorou o peemedebista com a Ordem do Mérito Militar. No evento, os dois combinaram de se encontrar e, desde então, mantêm conversas regulares. Se nos bastidores Cunha critica Dilma, faz questão de elogiar o ministro.
Como resume um governista, “enquanto Mercadante comandou a Casa Civil ao estilo Dilma, Wagner desempenha a função ao estilo Lula”.