O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou nesta segunda-feira que não retira uma palavra das acusações de corrupção que fez contra o próprio partido na entrevista que deu à revista "Veja". No entanto, o pernambucano disse que não quer avançar e citar casos concretos de corrupção envolvendo o PMDB.
"Dei um pontapé inicial, abri um debate que sei que é polêmico, mas espero que haja uma pressão de fora, da sociedade, para dentro para mudar essa prática fisiológica", afirmou Jarbas, acrescentando que não vai sair do partido nem acredita que será expulso.
O peemedebista disse que vai lutar por uma reforma no sistema político e reiterou apoio ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB), para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. Questionado sobre o argumento do senador Pedro Simon (PMDB-RS) de que o apoio deveria ser dado para um nome do próprio partido, Jarbas alfinetou:
"Da última vez que falamos em nome próprio, quase que o (Anthony) Garotinho saiu candidato", afirmou em referência ao ex-governador do Rio de Janeiro.
Agora que Jarbas já deu coletiva para comentar a entrevista, espera-se que o presidente da Câmara e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), enfim se pronuncie sobre o caso. No domingo, após as declarações, ele e outros caciques da legenda, como José Sarney (PMDB-AC), presidente do Senado, e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do partido na Casa, preferiram ficar em silêncio.
Nesta segunda-feira, o partido limitou-se a divulgar uma nota em que minimiza as declarações . De acordo com o PMDB, o senador não cita nenhum caso concreto e "lança a pecha de corrupção a todo sistema partidário". O partido classificou as declarações como um desabafo, "ao qual a Executiva não dará maior relevo".
Jarbas também afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tem sido altamente conivente com a corrupção." Segundo o senador, "Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas a corrupção tem sido uma marca do governo dele." Na entrevista à revista "Veja", ele já tinha dito que o Bolsa Familia "é o maior programa oficial de compra de votos do mundo." O Palácio do Planalto disse que não vai comentar as afirmações de Jarbas.
Sarney e Renan
O senador pernambucano afirmou que mantém o diálogo com o presidente do partido e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), mas irá se recusar a participar de reuniões convocadas pelo líder do partido, Renan Calheiros, ou de encontro com o presidente do Senado, José Sarney. "Com a presidência do partido tenho diálogo. Agora, do gabinete do senador Renan e do senador Sarney vou procurar passar ao largo."
Procurado pelo G1, José Sarney disse que não iria comentar as declarações feitas por Jarbas Vasconcelos. Renan Calheiros disse que a resposta à entrevista era a nota divulgada pelo partido.
Sobre a nota do PMDB, que qualifica a entrevista de "desabafo" e diz que suas críticas não merecem atenção, o senador qualificou como "respeitosa" com sua história no partido, do qual é fundador. Para ele, o partido se perdeu no caminho da corrupção "nos últimos dez anos".
Corrupção
Para Jarbas, a entrevista tem a função de abrir um debate dentro do partido, e na sociedade, sobre corrupção e disser ser equívoco esperar que apresente nomes. "Ofereci uma peça inicial, a entrevista à revista 'Veja'. Não tiro uma virgula, uma linha, tudo o que eu disse ao repórter foi fiel. Exigir de mim que eu tenha uma lista no bolso, que eu vá apontar corrupto, que eu vá apresentar isso ou aquilo é um equivoco. Não sou auditor."
Sobre o pedido do senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC), que deseja saber se é considerado corrupto por Jarbas, o senador pernambucano disse que não irá se manifestar. Afirmou ainda que não se sentiria atingido caso outra pessoa tivesse classificado o PMDB ou o Senado como corrupto ou medíocre. "Se algum colunista ou jornalista disser que o Senado está completo de mediocridade e corrupção, eu não vestiria a carapuça."
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