São Paulo (AE) O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) roubou a cena mais uma vez. Fiel à tática de administrar homeopaticamente suas denúncias, num crescendo, Jefferson introduziu durante o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética um novo capítulo do escândalo. Segundo ele, com base em acordo feito com Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, um emissário do PTB e outro do PT foram a Lisboa, em janeiro, captar recursos na Portugal Telecom para pagar dívidas de campanha.
Jefferson ainda deixou no ar uma eventual participação do presidente Lula no episódio. Segundo ele, o envio dos emissários foi precedido de um encontro, promovido por Dirceu, entre Lula e representantes da companhia. "Vossa Excelência não era tão poderoso assim, pela monta do negócio, pelo tamanho da operação", insinuou Jefferson. "Vossa Excelência não está sozinho nisso. Não agiu em companhia de outros?"
O assunto veio à tona durante o duelo entre os dois deputados, esperado há dois meses, desde que Jefferson denunciou a existência do "mensalão" e atribuiu ao então ministro a chefia do esquema. Jefferson reiterou que recebeu apenas R$ 4 milhões de R$ 20 milhões prometidos ao PTB e assegurou que foi "com ordem de Dirceu" que os emissários visitaram a matriz da companhia para pedir ajuda financeira. "Tratei de todos esses assuntos com Vossa Excelência, que nos deixava a todos à vontade para qualquer conversa, na ante-sala do presidente Lula", pontuou Jefferson. Dirceu negou que tivesse autorizado a negociação e considerou grave a acusação.
Defesa
"É mais uma das denúncias que ele traz de tempos em tempos, para procurar me denegrir", rechaçou Dirceu. "Tratei, sim com o (Banco) Opportunity, com a Brasil Telecom, com a Telmex, dei sempre a posição do governo", admitiu. "Jamais fiz negócio escuso. Que a questão da Portugal Telecom seja investigada." Deputados que falaram depois pediram à mesa do Conselho que Jefferson fosse formalmente inquirido sobre quem eram os emissários.
Renúncia
O ex-ministro negou qualquer envolvimento com pagamento de mensalão a deputados aliados ou responsabilidade sobre operações financeiras decididas pela cúpula do partido nos últimos dois anos. Dirceu avisou que não vai renunciar, mesmo reconhecendo que corre o risco de ser cassado. "Não vou renunciar, vou lutar pelo mandato até o fim. Prefiro ficar sem os direitos políticos, se for o caso, do que renunciar para ter falsa sobrevida política. Se eu renunciasse, não conseguiria mais viver. Não seria uma morte política, eu perderia a alma", disse. Também negou desavenças com o presidente Lula, a quem defendeu.
Dirceu acusou Jefferson de prevaricação ao não denunciar a existência do mensalão. "Ele poderia ter denunciado tudo isso antes." Dirceu disse que não aceitaria prejulgamentos. "Quero ser julgado pelos erros que cometi, não por calúnias", insistiu. Ele negou saber dos empréstimos feitos pelo publicitário Marcos Valério no BMG e no Banco Rural para saldar dívidas do PT.
Também assegurou não ter tido interferência em dois pedidos feitos por Valério para ajudar sua ex-mulher, Maria Ângela Saragoça: o empréstimo no Rural e um emprego no BMG. Dirceu disse ter tido poucos encontros com o publicitário.
Na tentativa de se eximir das decisões da cúpula do PT, Dirceu reduziu a importância do ex-secretário-geral Silvio Pereira no governo. Negou que Silvio tivesse sala contígua à sua na Casa Civil, mas reconheceu que ele "foi delegado para falar em nome do PT" no momento em que o governo recém-empossado trabalhava na distribuição de cargos". Silvio saiu do PT na semana passada, quando foi descoberto que recebeu de presente um jipe Land Rover do diretor da empresa GDK, prestadora de serviços da Petrobrás.
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