O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que deu início à crise no PT e no governo Lula com as denúncias do mensalão, disse em entrevista ao programa "Roda viva", da TV Cultura, transmitida nesta segunda-feira, que seus objetivos foram cumpridos. De acordo com ele, a denúncia do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza é a maior prova disso, mas criticou o fato de que apenas três deputados tenham sido cassados.
- Essas condenações são políticas. Fui cassado por não ter provado a existência do mensalão e, vinte dias depois, o Dirceu foi cassado por ter comandado o esquema.
Durante a entrevista, Jefferson disse que o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira foi abandonado pelo partido. Questionado sobre a entrevista que o petista deu ao jornal "O Globo", em que revelou que o PT pretendia arrecadar R$ 1 bilhão durante a campanha, Jefferson disse que a atitude só se justifica pelo fato do ex-dirigente não estar conseguindo conviver com a situação. Jefferson disse acreditar ainda que o ex-secretário esteja com medo e sugeriu que Silvinho estaria sofrendo ameaças.
- Silvinho olhou os prefeitos do PT que foram mortos. Ele deve ter sido ameaçado para dizer isso - afirmou.
Roberto Jefferson disse que o PT e o PSDB fizeram um acordo para não convocar o banqueiro Daniel Dantas na CPI dos Bingos. O ex-deputado também envolveu o PFL no suposto acordo para não convocar o dono do Oportunity, que acusa o PT de ter cobrado uma propina de US$ 50 milhões.
- Houve um acordo. Ninguém quer mexer no passado com Daniel Dantas, porque atinge um pouco o PFL, o PSDB, e no presente o PT. È um banqueiro com muitas relações, muitos interesses. A reunião com o ministro da Justiça foi na casa de um expoente do PFL, o senador Heráclito Fortes (PI).
Na entrevista o ex-deputado Roberto Jefferson disse que as absolvições de parlamentares na Câmara também foram frutos de acordos entre o PT e o PSDB. No ano passado, ele já dizia que apenas ele, José Dirceu e outros dois deputados seriam cassados.
- Eu disse e repeti, houve um acordo entre o PT e o PSDB, duas cabeças rolariam, a minha e a do José Dirceu. Na minha análise, pela reputação e pelo passado, eu pensei: o Pedro Correia (PP-PE) e o José Janene (PP-PR) vão junto. Creio ainda que o Janene (PP-PR) possa ser cassado.
O ex-deputado também ironizou o comportamento do Conselho de Ética da Câmara:
- É um monte de gente com pose de freira, e freira não é. Quando o caixa dois financia um partido, financia o partido todo. A Comissão de Ética indicou a cassação daqueles que foram descobertas, mas quantos ali foram financiados pelo mesmo esquema?
O deputado cassado Roberto Jefferson voltou a inocentar o presidente Lula de responsabilidade no mensalão, mas disse que ele foi omisso:
- Não podia acusar o presidente, não estive com ele. Não mantive nenhuma conversa que pudesse me permitir uma acusação contra ele. O Lula, enho isso como convicção, não participou disso, não estava neste esquema do PT. O presidente ficou muito preservado. É um pouco culpado por omissão, mas não chegou nele. Não vejo o presidente envolvido diretamente envolvido nessa operação de dinheiro, de financiamento de partido.
Apesar de isentar o presidente Lula, Roberto Jefferson disse que vai votar no tucano Geraldo Alckmin nas eleições deste ano.
- Meu voto é do Alckmin. Torço pelo surgimento de uma terceira via. O PSDB é a mão direita dos banqueiros e o PT a mão esquerda. O povo cansou disso. Precisava de um candidato que representasse um pouco as forças de produção. Prefiro o Alckmin. Ele tem estrutura para fazer em torno de si uma união muito mais ideológica, de compromisso muito mais claro, do que o presidente. Se o Lula ganhar a eleição como vai ser? Vai fazer o mensalão de novo?
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