São Paulo (AE) – O porcentual de votos recebido no dia 3 de outubro de 1955 por Juscelino Kubitschek foi o menor de todos os presidentes eleitos no pós-guerra. Mas 50 anos depois ele continua sendo o mais querido dos presidentes brasileiros, admirado, inclusive, por muitos que nunca puderam votar nele e citado à exaustão por quase todos os seus sucessores.

CARREGANDO :)

Apesar dos infortúnios, no final da carreira política os antigos adversários se aproximaram e aprenderam tardiamente a gostar dele. No dicionário de política, seu nome é hoje sinônimo de democracia.

A arquitetura dessa notável vida política foi resultado de um binômio sedutor: de um lado, sempre apresentou, em suas candidaturas, ousados projetos de mudança estrutural; de outro, sempre teve uma energia e um dinamismo pessoal que contagiavam seus auxiliares e seu partido, eletrizavam seus eleitores, a cidade, o estado, o país. Os estudiosos realçam nele a coragem pessoal – inclusive para apostar nos seus projetos – e a apurada intuição.

Publicidade

Era mineiro, mas nunca teve sotaque nem dizia ‘uai’; escolheu morar no Rio, ser senador por Goiás e ter um sítio nas redondezas de Brasília.

Depois da presidência, sua naturalidade confundiu-se com a nacionalidade – virou brasileiro.

Para chegar lá, suou. Quase a indicação presidencial não sai: na votação em que o PSD mineiro votou sua indicação à presidência ao PSD nacional, ganhou por apertadíssimos 13 a 12. Pouco conhecido fora de Minas, viajou muito para construir sua candidatura.

Escolheu um vice do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), João Goulart, para colar sua imagem com Getúlio Vargas, um quase anátema para meio Brasil, na época.

Por isso, dentro e fora do PSD, todo o tempo, tentaram desestabilizar sua candidatura e, mais tarde, seu governo.

Publicidade

50 anos em 5

Seu mandato seria demarcado por um suicídio antes e uma renúncia depois; e pontuado pela constante ameaça militar – uma rebelião no começo, outra no fim do governo.

Como slogan propunha "50 anos em 5", expressão que simbolizava o Plano de Metas, um conjunto de 30 projetos que transformariam o Brasil agrícola num país industrializado; como se fosse pouco, ainda construiu Brasília, mudando a geografia do país e alimentando a auto-estima nacional. "Ajudou muito na vitória", diz Carlos Murillo, secretário de JK na presidência.

Sua qualidade mais invejada, opina a cientista política Maria Victoria Benevides, era o empreendedorismo, consolidado numa época em que o Brasil, um país agrícola, enfrentava o desafio para modernizar sua infra-estrutura e criar um parque industrial. "Fazer era muito importante", assinala ela. E isso foi possível porque JK "tinha um altíssimo conceito de sua própria capacidade", observa Victoria. Confiava em sua intuição para fazer apostas políticas arriscadas, como a criação dos grupos de trabalho que tocaram, independente da burocracia convencional, as realizações do Plano de Metas.

Virou paradigma de grande estadista e grande presidente. "Ele foi um grande presidente, mas à sua volta existe um deserto", explica Victoria. "Dutra era medíocre, Getúlio dividiu o país, Jânio renunciou, Jango foi deposto e Collor sofreu impeachment. Sobram JK e Fernando Henrique Cardoso, de quem o povo ainda não tem distanciamento crítico para julgar, porque é um presidente recente", completa.

Publicidade

Metas

8,1%foi o crescimento médio da economia brasileira durante os cinco anos do governo de Juscelino Kubitschek. Excluindo-se o problemático primeiro ano, a média sobe para 9,4%, uma das mais altas da história do país

5 mil kmde estradas pavimentadas era um dos objetivos do Programa de Metas instituído por JK. No fim do governo a meta havia sido ultrapassada em 24%: nos cinco anos 6.202 quilômetros de estradas ganharam pavimentação.