Deputado federal pelo PMDB do Paraná, João Arruda demonstra contrariedade em relação à reunião do partido que pode sacramentar o desembarque do governo Dilma Rousseff. Apesar de defender a independência da legenda, ele afirma que isso deveria ter sido feito desde o início do mandato da petista. “O PMDB é governo há 20 anos, nunca desembarcou. E agora, quando tem a possibilidade de assumir a Presidência da República por meio de um impeachment de sua titular, resolve aprovar por diretório um desembarque. Isso pode até ser construído, mas não da noite para o dia, com uma divisão”, argumenta.
Braço de direito de Temer defende independência do PMDB em relação ao governo
Leia a matéria completaQual a sua expectativa sobre a reunião do PMDB?
Essa reunião não está sendo realizada no momento adequado. O PMDB acabou de fazer uma convenção e o grande avanço dessa eleição interna do partido foi a unidade em torno do nome do Michel Temer. Agora foi deflagrada uma divisão do partido, hoje os ministros querem ficar no governo, têm outros cargos e pessoas que são contra o impeachment e são contra esse desembarque exatamente porque essas pessoas que estão no governo hoje foram indicadas pelo próprio Michel [Temer], pela Executiva do partido. Esse governo também foi construído por lideranças do PMDB. Não existe unidade em torno desse desembarque, é preciso construir essa unidade e isso é possível, com diálogo. Um lado não pode falar por todos. Nós aprovamos a reunião do diretório em 30 dias depois da convenção e ela foi adiantada, e isso vai causar um grande constrangimento para muita gente.
É possível que haja um esvaziamento da reunião pelos pró-governo?
Não é possível porque o diretório é composto por seus titulares e pelos suplentes, então é fácil de mobilizar e dar quórum a uma reunião como essa. Não é essa a questão. Se o PMDB quer desembarcar, quer participar de outro projeto ou tem um pensamento diferente do governo, isso não pode ser da noite para o dia. Não podemos ficar com a marca de golpistas sob todos nós que temos interesse direto nisso porque o vice-presidente é do PMDB. O PMDB é governo há 20 anos, nunca desembarcou. E agora, quando tem a possibilidade de assumir a Presidência da República por meio de um impeachment de sua titular, resolve aprovar por diretório um desembarque. Isso pode até ser construído, mas não da noite para o dia, com uma divisão. O PMDB tem que continuar pregando a unidade, essa possibilidade não pode ser vista apenas na convenção do partido.
Pelas conversas com seus colegas, a possibilidade de saída do governo é maior?
É bem dividido, mas acho que a maioria hoje, pela insatisfação em relação ao governo, na economia e também no relacionamento com o Congresso, quer sair. Até porque eu diria que dos deputados federais, uns 20 ou 25 já nem apoiaram esse governo.
A sua posição é pela manutenção no governo?
A minha posição não é pela manutenção, a minha posição é que se tem que buscar uma alternativa dentro do diretório, mas que tenha apoio de todos. Eu acho o desembarque bom, eu acho a independência boa, até para que cada parlamentar vote de acordo com a sua consciência em relação ao impeachment. Porque as pessoas podem considerar que aqueles que têm indicação no governo, ou que fazem parte do governo, suspeitos para votar sobre o impeachment. A independência é boa para todo mundo, para os favoráveis ou contrários. Sempre defendi essa independência, mas desde o início do governo.
O ex-presidente Lula tem trabalhado para que não haja cisão com o PMDB. Isso tem surtido efeito?
O PMDB que não está dando muita bola para o presidente Lula. Ele tem tentado conversar com o Michel Temer, mas sem nenhum êxito. O fato é que o PMDB vive um momento muito difícil. Com as denúncias da Lava Jato, as principais lideranças do partido não conseguem se movimentar. Têm umas que são mais arrojadas, outras menos, mas o próprio Renan [Calheiros], não vejo muita disposição por parte dele de se movimentar a favor ou contra o governo. Acho que ele está apenas observando à distância.
Essa decisão é fundamental para o processo de impeachment...
Sim, claro que influencia. E acho que aqueles que estão dentro do PMDB e que defendem o impeachment e a posse imediata do presidente Michel Temer torcem para que esse gesto seja algo que influencie outros partidos também. Porque no momento em que o PMDB decidir desembarcar, outros partidos poderão fazer o mesmo. Quando o PMDB está no governo, os partidos sabem que o governo tem uma base sólida. Se o PMDB vai para a oposição ou se divide, sabe que as coisas vão se complicar.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Deixe sua opinião