Brasília (Das Agências) O ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), negou que tenha sacado ou se beneficiado de R$ 200 mil sacados das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão. Entretanto, o deputado reconheceu em nota que sua mulher, Márcia Regina Milanesi Cunha, sacou R$ 50 mil.
Mais uma vez, ele evitou dar explicações sobre a operação. "Em breve, explicarei publicamente todas as circunstâncias que envolvem (o saque) e por que ele foi feito", disse na nota.
Lideranças do PT reconhecem que a situação de João Paulo é a mais complicada dos cinco parlamentares da legenda que comprovadamente sacaram recursos das contas de Valério. Além dele, constam da lista de beneficiários da conta de Valério, Paulo Rocha (PT-PA), João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT-BA) e Professor Luizinho (PT-SP).
Um deputado próximo a João Paulo disse que a falta de explicação para o saque, além de complicar sua situação, mostraria que o dinheiro não configuraria caixa dois de campanha, a mais branda das denúncias que pesam contra os sacadores. Outro petista argumentou que, se os R$ 50 mil forem de caixa dois, não há motivos para renúncia de mandato.
Parlamentares petistas que assistiram ao depoimento do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), no gabinete de João Paulo, dizem que o deputado quer renunciar ao mandato. Eles estariam tentando convencê-lo a não renunciar.
Oficialmente, porém, o ex-presidente da Câmara negou ontem que vá abrir mão do mandato, como vem sendo especulado. Indagado pelo interfone se renunciaria ao cargo, João Paulo deu uma gargalhada e respondeu: "Não tem nada disso não".
Tentando demonstrar tranqüilidade, João Paulo disse que iria almoçar e que só não convidaria os repórteres porque faria uma pequena reunião em casa, da qual participaria o deputado Professor Luizinho (PT-SP). "Não vou te chamar para almoçar porque vamos fazer uma reuniãozinha", disse João Paulo, que mora no mesmo prédio de José Dirceu em Brasília, na Quadra 311 Sul.
O tesoureiro do PT, deputado Ricardo Berozini (SP), disse que o partido não recomenda a renúncia, mas reconheceu que a decisão é individual. "O partido não entende a renúncia como boa para nenhum parlamentar. Mas essa é uma decisão pessoal", afirmou.
Sem debandada
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou ontem que nenhum deputado do PT ou de partido da base aliada renunciaria ao mandato. Depois da renúncia do presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), sob o argumento que teria operado recursos de caixa dois nas campanhas do partido, havia a expectativa de que mais parlamentares adotassem a mesma postura.
Ontem à noite, petistas conversaram com o presidente da legenda, Tarso Genro, e discutiram que a situação de alguns deputados difere das denúncias contra outros parlamentares. Integrantes do PT consideram que a situação do deputado Paulo Rocha (PA), por exemplo, é diferente das denúncias contra o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
Rocha teria recebido recursos para pagar dívidas de campanha de candidatos do Pará. No caso de João Paulo, cuja mulher sacou R$ 50 mil das contas de Marcos Valério, o caso seria diferente. Não se configuraria caixa dois na opinião dos petistas, mas outra irregularidade, possivelmente o ''mensalão''. Na opinião de petistas influentes, quem é denunciado por caixa dois não deveria renunciar.