
São Paulo e Brasília - No mesmo dia em que confirmou o convite ao deputado federal e ex-gerrilheiro José Genoino para atuar como seu assessor direto, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, saiu em defesa da criação da Comissão da Verdade que não conta com o apoio da ala mais conservadora das Forças Armadas. Em entrevista ao programa radiofônico "Bom Dia, Ministro", Jobim elogiou o parlamentar como uma "figura importante" no Congresso Nacional e disse terem uma relação estreita.
"Eu conheço o deputado José Genoino desde 1988 e tenho relações estreitas com ele. Eu fiz um convite e ele ainda não me respondeu", acrescentou. O ministro disse que ficou de conversar com o parlamentar em fevereiro sobre o convite e disse que sua intenção é "colar" no deputado federal.
Genoino, que renunciou à presidência do PT em 2005 após escândalo do mensalão e é um dos acusados no processo que corre no STF, não foi eleito em 2010 para um novo mandato, estando na segunda suplência. Mesmo sendo dado como certo que aceitará o convite, por enquanto, o deputado desconversa.
"Tenho uma relação política muito forte com o Jobim. Sempre o ajudei na Defesa e defendo muito o trabalho que ele está fazendo. Sempre tive uma relação institucional, de muito diálogo com as Forças Armadas, mas só tomarei decisões a partir de fevereiro [quando a nova legislatura começa], até lá ainda sou deputado", disse.
Apesar de sua atuação na guerrilha do Araguaia e de ter sido preso durante o regime militar, Genoino já foi condecorado pela Marinha, Aeronáutica e Exército. "Entendo a importância das Forças, não há nenhum rancor", disse. Em 2002, ele chegou a ser cotado para a pasta da Defesa. Na atual legislatura, o deputado teve destaque na elaboração do projeto que institui a Comissão da Verdade.
Comissão
Na entrevista de ontem, o ministro posicionou-se a favor da proposta e disse que ela teve "absoluto apoio" do Ministério da Defesa. "O projeto foi elaborado inclusive por mim. Houve divergência em relação a algumas limitações que o ex-secretário [de Direitos Humanos] Paulo Vannuchi pretendeu introduzir, acabou o presidente Lula arbitrando no sentido de manter o texto sugerido pelo Ministério da Defesa. Estou absolutamente de acordo", afirmou o ministro.
Ele ressaltou que as divergências com a Secretaria de Direitos Humanos foram contornadas. "Esse projeto se encontra no Congresso Nacional e não há nenhuma divergência com a secretária atual dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, já que ela conhece muito bem o projeto e temos uma excelente relação", disse. Em cerimônia de transferência de cargo, na segunda-feira, a nova secretária marcou diferença em relação ao seu antecessor, evitando entrar em embate com o Ministério da Defesa sobre o assunto.
Anistia
Jobim, porém, defendeu a anistia dos crimes cometidos durante o período da ditadura seja por militares ou militantes de esquerda. Ele criticou a abertura de processos criminais para investigar ações cometidas na época inclusive no que diz respeito ao desaparecimento de guerrilheiros do Araguaia.
"O conhecimento da verdade tem todo apoio do ministro da Defesa e de toda estrutura do Ministério da Defesa. O que não temos e não podemos ter tendo, em vista a decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à Lei da Anistia, é a pretensão da retaliação deste passado", afirmou. Segundo Jobim, os processos criminais que possam atingir os eventuais envolvidos na ditadura estão encobertos pela Lei da Anistia.
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