Recurso está no Supremo Tribunal Federal

A esperança do deputado Jocelito Canto de manter o mandato está depositada num recurso encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que alega que o processo de condenação estava incompleto.

O advogado de defesa do deputado, Antonio Carlos de Andrade Vianna, afirma que Jocelito foi condenado com base num decreto que regulamenta a atividade de prefeito, mas que o serviço público supostamente fraudulento é de responsabilidade do estado. "A Assembléia é que deveria ser responsabilizada. Eu era chefe do erário municipal, que não lesei", argumenta Jocelito. O policial militar Tadeu Fornazari foi cedido à prefeitura através de um ofício assinado pelo ex-presidente da Assembléia Legislativa, Aníbal Khury.

Se não conseguir reverter o processo e perder o mandato, quem assume uma cadeira na Assembléia Legislativa será o primeiro suplente da coligação, Fernando Scanavaca (PDT), ex-prefeito de Umuarama.

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Ponta Grossa – O deputado estadual Jocelito Canto (PTB) poderá se tornar o primeiro parlamentar paranaense a ter o seu mandato cassado depois do fim da ditadura militar. Durante o regime iniciado com o golpe de 1964, seis deputados perderam o direito de exercer o mandato. Desde 1985, porém, nenhuma cassação aconteceu no estado.

Jocelito admite que corre o risco de perder a vaga na Assembléia Legislativa, embora considere "tosco" o motivo do processo a que está respondendo. O processo que pode lhe tirar o mandato teve origem na sua gestão à frente da Prefeitura de Ponta Grossa. Jocelito é acusado de usar um policial militar cedido à prefeitura como segurança pessoal, o que é vedado por lei.

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Curiosamente, o motivo da ação movida pelo Ministério Público é uma das acusações mais leves que o parlamentar já enfrentou. O deputado responde a mais de uma centena de processos judiciais. Todos estão no Tribunal de Justiça, já que os deputados têm direito a foro privilegiado. Somados, os documentos de todas as ações têm 79 tomos da espessura de Bíblias. No entanto, o uso dos serviços do policial é o que está mais adiantado e o único que pode ter um desfecho negativo para ele em breve. O caso já levou o político a uma condenação no TJ paranaense e agora está sendo analisado no Supremo Tribunal Federal, em Brasília.

O deputado tem certeza de que está vivendo o seu pior momento político até hoje. Ele conta que acabou de substituir seu livro de cabeceira: "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, foi trocado por "Sei que Vou Sair Dessa", presente anônimo de algum admirador que deve estar preocupado. Por causa da ansiedade e da depressão, Jocelito conta que voltou a tomar fluoxetina, como em 2000, quando perdeu a reeleição para prefeito. Além disso, viu o peso passar de 102 para 90 quilos em menos de cinco meses. Num momento conturbado da vida, ainda assumiu o comando do Operário Ferroviário Esporte Clube, na missão de levar o time de futebol da cidade à primeira divisão.

Para a enxurrada de ações, Jocelito tem uma explicação. Diz ter sido vítima de opositores que montaram um "governo paralelo", analisando cada passo que dava. "Eles pensaram: vamos propor umas 30 ações, alguma dá", avalia. Mas a maioria acabou sendo infundada, de acordo com decisões do Judiciário. "Veja a situação de Guarapuava, onde a prefeitura usou máquinas públicas para distribuir batatas. Se fosse eu, seria crime", alega. Ele reconhece que cometeu erros administrativos, "mas todos sem a intenção de errar". O deputado diz não ter perdido a esperança na reversão da atual situação. "Mas tem muita gente interessada em me tirar da política porque sabe que eu falo mesmo, que eu luto contra poderosos, que eu não tenho nenhum grupo político por trás, não tenho uma empresa grande que me banca", afirma.

Caso seja confirmada a condenação, Jocelito ameaça: vai escrever um livro sobre os bastidores da política. "Sou bom investigador e guardo muito documento. Se eu for cassado, não volto mais para a política e vou contar tudo o que um político não pode falar. Será um desabafo", avisa. "Não sei se qualquer dia desses não vou morrer, ou do coração ou porque alguém mandou me apagar", acrescenta.

Mesmo a defesa pública feita pelo governador Roberto Requião não acalmou os ânimos entre os dois. Requião disse em público que enquanto outros políticos estão soltos depois de cometer crimes graves, Jocelito pode perder o mandato por um problema bem menor. "Foi uma atitude aos 44 minutos do segundo tempo, não foi espontâneo, era mais para dizer que fez", pondera. Já sobre o "namoro" que o transformou em um dos maiores apoiadores de Requião, Jocelito garante que a paixão passou. Virou amizade, graças ao que chama de autoritarismo e falta de companheirismo do governador. "Estou lendo a biografia do Requião [quando era] deputado e queria ser tão rebelde quanto ele foi". Ainda sobre o aliado, Jocelito lamenta a mudança de atitude. "Ele já mudou muito, faz um governo para o povo, mas se reúne muito com a elite", diz.

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