Uma das petições encaminhadas pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal na sexta-feira, 6, pede que o deputado José Mentor (PT-SP) seja investigado. O parlamentar foi citado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato, preso desde março de 2014. Segundo ele, Mentor teria recebido dinheiro após ordem do ex-deputado André Vargas (sem partido-PR).
“O deputado federal José Mentor recebeu, no início do ano de 2014, a quantia de R$ 380.000,00 de Alberto Youssef, oriunda de operações fictícias destinadas a ensejar a disponibilidade de numerário em espécie, com ocultação de sua origem, as quais foram detalhadamente descritas”, diz a petição assinada por Janot.
A informação de que o deputado teria recebido dinheiro de Youssef foi confirmada pela ex-contadora do doleiro Meire Pozza. O dinheiro teria sido entregue no escritório de Mentor, situado perto da Praça da Árvore, em São Paulo/SP, em final de janeiro ou início de fevereiro de 2014, por volta das 7h, segundo Youssef.
“O valor foi levado em uma maleta e lá chegando colocou em cima de uma mesa, entregou o dinheiro diretamente para o próprio José Mentor, que conferiu os valores, e o declarante se retirou; Que José Mentor estava sozinho; Que o escritório de José Mentor, pelo que parece, na verdade são dois escritórios”, afirmou Youssef em termo de delação complementar.
A quantidade de detalhes que Youssef revelou sobre a entrega de dinheiro a Mentor impressionou a Procuradoria. Segundo o doleiro, Mentor tem no mesmo local, mas em portas diferentes, um escritório político e outro de advocacia.
“Trata de um escritório simples; que defronte ao escritório há um lugar para parar carro, onde o declarante estacionou o seu veículo, e na esquina há uma padaria”, diz a delação de Youssef.
Os R$ 380 mil supostamente entregues a Mentor teriam saído de um total de R$ 2 milhões pedidos pelo irmão de André Vargas, Leon Vargas. Segundo o doleiro, Mentor é amigo do ex-deputado federal. Em dezembro do ano passado, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou a cassação do mandato do ex-petista Vargas. Acusado de trabalhar em favor da rede articulada por Youssef, ele perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar.
O doleiro contou que Leon Vargas o procurou em dezembro de 2013, pois precisava de dinheiro vivo. Youssef disse que era amigo de longa data de André e que os dois teriam se conhecido em Londrina (PR).
“Num primeiro momento, Leon Vargas disse que precisaria em torno de R$ 1,4 milhões em dinheiro e depois mais R$ 600.000,00, totalizando em torno de R$ 2 milhões”, disse Youssef na delação.
Ele contou que a empresa Arbor, de sua ex-contadora Meire Bonfim Pozza, emitiu nota fiscal em favor da empresa IT7, indicada por Leon, e fez duas transferências de dinheiro. O doleiro não soube detalhar qual a razão social, atividade desempenhada, endereço e quadro societário da IT7. Na petição, Janot afirma que o Portal da Transparência revela que a empresa IT7 firmou diversos contratos com a Administração Pública Federal nos anos de 2012 e 2013, tendo recebido vultosas quantias.
“Após o valor ter sido creditado na conta da Arbor, (Youssef) afirma que parte do numerário foi sacado em espécie da própria conta por Meire Pozza e o restante o declarante indicou contas para as quais Meire transferiu os recursos, contas estas que não eram do declarante e sim de terceiros”, disse em delação.
“Essas transferências foram feitas a pessoas que forneciam “reais vivos” ao declarante, mas não se recorda quem foram as destinatárias neste momento; De posse dos R$ 2 milhões em espécie, foi entregue a pedido de Leon Vargas, dentro do apartamento funcional do deputado federal André Vargas, em Brasília/DF, a quantia de R$ 1,62 milhões em dinheiro”, afirmou o doleiro.
Segundo ele, a quantia foi entregue em quatro ou cinco etapas. Ele indicou Rafael Ângulo Lopes e Adarico Negromonte como as pessoas que transportaram o dinheiro para Brasília/DF em voos comerciais. Youssef disse que não sabia o motivo pelo qual Vargas teria repassado os valores a Mentor. O doleiro contou ainda que cobrou 20% de comissão sobre o valor das notas brutas da Meire em favor da IT7.
“O dinheiro era ocultado no corpo durante o transporte; Que nas vezes em que o declarante entregou o dinheiro, o fez nas mãos de André Vargas, sendo que não havia mais ninguém presente no apartamento”, contou.
Em setembro de 2014, Youssef foi condenado a 4 anos e 4 meses de prisão por corrupção no caso Banestado. Onze anos antes, Mentor foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banestado, antigo Banco do Estado do Paraná alvo central do escândalo.
Entre maio de 2003 e setembro de 2007, uma força-tarefa encabeçada pelo Ministério Público Federal denunciou 684 pessoas, das quais 97 foram condenadas, em um esquema que envolvia a remessa fraudulenta de U$ 28 bilhões por meio de contas CC-5 (contas de não residentes no Banestado, Banco do Brasil, Banco Araucária, Bemge e Banco Real).
A Procuradoria conseguiu que fossem bloqueados R$ 380 milhões em contas no Brasil e outros R$ 34,7 milhões, no exterior. Para isso, foram investigadas mais de 1.170 contas fora do país - o que resultou em uma base de dados de 1,9 milhão de registros de movimentações financeiras no exterior.
Mentor diz que ficou “estarrecido” ao receber a notícia da inclusão de seu nome na lista de investigação da Petrobras, já que, segundo ele, não tem qualquer ligação com o objeto dessas investigações. “Sobre as notícias veiculadas vou procurar, com toda a tranquilidade, conhecer o que a mim é atribuído e, posteriormente, prestarei os esclarecimentos necessários”, disse.