Brasília (AE) Em um novo lote de documentos que chegaram ontem à CPI dos Correios, registrando pagamentos e transferências de mais de R$ 50 milhões efetuados pelo empresário Marcos Valério de Souza por meio de suas contas no Banco do Brasil, os técnicos da comissão descobriram dois cheques de R$ 60 mil cada em favor do deputado José Mentor (PT-SP). Os valores foram transferidos da conta da DNA Propaganda no Banco do Brasil para a conta do escritório de advocacia do parlamentar, o J. Mentor Associados, em maio e julho de 2004.
Braço direito da ex-prefeita Marta Suplicy, o petista é acusado pelos seus adversários de ter omitido de seu relatório em outra CPI, a do Banestado, detalhes importantes que envolviam a direção do Banco Rural com o qual Valério mantém negócios no esquema ilegal de remessa de divisas ao exterior.
Em 2003, a agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do empresário, faz três referências a possíveis reuniões de seu chefe com Mentor. Numa delas, está anotado: "J. Mentor transferir a reunião de amanhã para segunda e ver quando é o assunto Rural".
O petista confirma que teve encontros e que recebeu o pagamento de R$ 120 mil, mas nega qualquer relação com o mensalão ou com a CPI do Banestado. "Prestamos um serviço para o dr. Rogério Tolentino", declarou o deputado, referindo-se ao sócio de Valério na DNA. Segundo ele, o "serviço prestado" consistiu em "três ou quatro análises, tipo parecer jurídico" que Tolentino teria contratado. Mentor não revelou detalhes sobre a consultoria. "Não lembro agora de cabeça, mas amanhã (hoje) vou ter acesso aos papéis."
Além do cheque para Mentor, a CPI recebeu milhares de outros documentos do Banco do Brasil com detalhes da movimentação financeira das agências DNA, SMP&B e Graffiti e das contas pessoais de Valério e de alguns sócios. Ao todo, foram 120 quilos de papel, que em alguns casos tiveram de ser transportados de avião desde São Paulo. De acordo com a assessoria do BB, cerca de 100 funcionários foram mobilizados para reunir todo o material requisitado.
Apesar de todo o trabalho, os documentos entregues não atendem às especificações desejadas pela CPI, como a identificação das pessoas beneficiadas pelas transferências. No caso de Mentor, seu nome só apareceu porque se tratava de um cheque nominal à sua empresa. Na maioria dos casos, os cheques pagos pelo Banco do Brasil só mencionam a conta corrente que recebeu o dinheiro, porque não se referem a saques em dinheiro apenas nesse caso há identificação explícita das pessoas, como ocorreu no caso dos milhões que saíram das contas no Banco Rural.
Inicialmente, esse fato chegou a provocar confusão entre os parlamentares da CPI, que interpretaram a falta de identificação como "sonegação de informação". Apenas um dos cheques pagos pela DNA, em 23 de maio de 2003, somava a quantia de R$ 9.700.000, sem identificação do destinatário.
"Estranhamos que o BB não diga quem sacou o dinheiro, nem tenha comunicado esses valores ao Coaf", dizia o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), referindo-se ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), que deve ser informado de todos os saques superiores a R$ 100 mil.
Um técnico do banco foi convocado às pressas pela CPI para prestar explicações. Édson Lobo, gerente geral de Segurança do BB, esclareceu que a maior parte dos cheques apresentados à comissão não foram sacados em dinheiro, mas transferidos para outras contas e que, por isso, não haviam sido informados ao Coaf nem eram acompanhados das carteiras de identidade dos beneficiários. O banco se comprometeu a enviar todas as informações complementares requeridas pela CPI, como a identificação dos titulares das contas que receberam as transferências superiores a R$ 30 mil.
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