Em depoimento à Polícia Federal na Operação Lava Jato , o senador Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu ter estado uma vez com o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, que se tornou delator na investigação em 2015, a fim de pedir doações para as eleições de 2014 em Roraima, quando seu filho, Rodrigo Jucá, 34, foi candidato a vice-governador pelo PMDB.
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O relato de Jucá confirma trecho da delação do empreiteiro, que relatou o encontro com Jucá e a decisão de fazer três depósitos, no valor total de R$ 1,5 milhão, para o PMDB de Roraima, entre agosto e setembro de 2014, com o propósito de ajudar na campanha do filho do senador. Na delação, Pessoa afirmou ter entendido, durante a conversa, que o pagamento estava relacionado à contratação, pela Eletronuclear, para obras de construção da usina nuclear Angra 3.
INFOGRÁFICO: Linha do tempo da Lava Jato
Jucá, porém, negou ter associado o pedido de doação à contratação da UTC. O senador afirmou que o encontro ocorreu no hotel Fasano, de São Paulo, em 21 de agosto de 2014. Ele negou ser amigo de Pessoa e atribuiu a doação “ao respeito e importância [à] sua política, pelo trabalho que desempenha como senador, sendo esse o modelo atual de doações”.
Também em depoimento à PF na Lava Jato prestado no mesmo dia, 11 de novembro passado, o filho de Jucá admitiu ter tomado “um empréstimo” de R$ 500 mil de uma incorporadora. Segundo Rodrigo Jucá, 34, que foi deputado estadual de Roraima, entre 2011 e 2014, e candidato derrotado a vice-governador em 2014, o empréstimo foi tomado entre 2009 e 2010, dívida que ele “vem saldando ao longo dos anos”.
A empresa que emprestou o dinheiro, segundo Rodrigo, é a RN Incorporações Ltda.
Os depoimentos foram dados no curso do inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) por decisão do ministro Teori Zavascki, que acolheu pedido protocolado pela PGR (Procuradoria-Geral da República). O inquérito teve por base os depoimentos prestados por Ricardo Pessoa no acordo de delação premiada. O inquérito concentra as afirmações de Pessoa sobre supostas irregularidades no setor elétrico, caso derivado da Lava Jato que passou a ser chamado de “Eletrolão”.
Renan Calheiros
De acordo com relatório da Polícia Federal, Pessoa afirmou na delação que Jucá pediu, “após acerto deste [Pessoa] com” o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um total de R$ 1,5 milhão “para financiar a campanha política de seu filho, Rodrigo Jucá”. Segundo a PF, os valores “teriam sido pagos por meio de doação oficial da UTC ao diretório estadual do PMDB em Roraima, em três parcelas de R$ 500 mil”.
Pessoa afirmou na delação que os valores estavam relacionados à obtenção de contrato, pela Eletronuclear, do Consórcio Una 3, do qual fazia parte a UTC. Pela contratação, disse o delator, a empreiteira deveria pagar R$ 30 milhões ao PMDB. Desse total, R$ 3 milhões foram divididos entre Jucá e Renan Calheiros, para financiar as campanhas dos filhos dos dois senadores, Rodrigo Jucá e José Renan Vasconcelos Calheiros, também candidato em Alagoas.
Pessoa disse que fez três depósitos ao diretório estadual do PMDB de Roraima, entre agosto e setembro de 2014, cada um no valor de R$ 500 mil.
Uma pesquisa da PF constatou inúmeros repasses, de mais de R$ 4 milhões, do diretório estadual do partido para a campanha de Chico Rodrigues (PSB) em 2014, do qual Rodrigo Jucá era vice.
No seu depoimento, Rodrigo Jucá disse que “quem figurou como captador de doações” na campanha eleitoral de 2014, pelo PMDB, “era o presidente do partido em Roraima”, seu pai. Ele disse que “soube por fontes abertas que a UTC realizou a doação em favor de sua campanha em 2014, porém não sabe o montante doado”. Ele afirmou ainda não saber “informar se a UTC possuía alguma obra no Estado de Roraima ou algum interesse em executar algum contrato nesse Estado”.
Romero Jucá afirmou à PF que procurou “diversos empresários, objetivando captar recursos de doações oficiais para a campanha de governo do Estado”, citando Gerdau e Odebrecht, além da UTC, e “assim procedeu em nome do PMDB”. Jucá disse que, na conversa com Pessoa, ele “sinalizou a doação, mas não definiu valores”. A partir dali, as “tratativas foram feitas entre o tesoureiro do PMDB e o financeiro da UTC”.
Ricardo Pessoa, que havia feito a delação em maio de 2015, foi ouvido novamente pela PF em novembro passado. Ele disse que resolveu realizar a doação para Jucá a fim de “manter a entrada política da UTC no Congresso” e que “entendeu que o pedido de doação [de Jucá] poderia ser ‘abatido’ dos valores a pagar em razão de Angra 3”.
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