O juiz de Campo Largo, Gaspar Luiz Mattos de Araújo Filho, afirmou ontem que o policial civil Délcio Augusto Rasera acusado de chefiar um esquema de escutas telefônicas clandestinas não deveria ter sido solto. Araújo Filho, que comanda o processo, disse desconhecer o motivo da soltura e cobrou da polícia uma nova detenção. "Há um mandado de prisão preventiva em vigência. A polícia tem de cumpri-lo e ir atrás dele", declarou o juiz.
O policial foi solto na última sexta-feira, dia 22, véspera do recesso da Justiça. Segundo a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, onde Rasera estava preso desde o dia 5 de setembro, o alvará de soltura foi emitido pela 5.ª Vara Criminal de Curitiba, na qual o policial responde a um processo por porte ilegal de armas.
"Estamos apurando administrativamente o que ocorreu. Ele não deveria ter sido solto. Houve um desencontro de informações", afirmou Araújo Filho. "E o mais estranho é o fato de o alvará ter sido concedido às 19h30 de sexta-feira."
O juiz de Campo Largo alega que o policial não poderia ter sido solto porque responde a um outro processo, por interceptação telefônica ilegal. "A Vara Criminal de Campo Largo não o liberou", afirmou Araújo Filho.
Segundo um investigador da Furtos e Roubos de Veículos, o delegado apenas cumpriu o que foi "determinado pelo juiz e chancelado pela Vara de Execuções Penais". A 5.ª Vara não informou qual juiz teria assinado o alvará de soltura de Rasera. O juiz titular é Antônio Carlos Ribeiro Martins, que está em férias. A juíza substituta é Suzana Loretto.
Mandado
Mais inusitadas ainda são as explicações da Vara de Execuções Penais. "Recebi o alvará e, como o nome do policial não constava com mandados de prisão, encaminhei para a delegacia", afirma Arno Petris, responsável pela análise dos alvarás. "O delegado deveria ter contestado, pois sabia de todo o caso, mas não o fez. Ele deveria ter se recusado a soltar o preso, só que ignorou. Todos estamos passivos de erros", afirmou Petris. Segundo ele, a "bobeada" como chamou o caso pode ter ocorrido porque só na sexta-feira ele analisou quase cem alvarás de soltura de presos.
No dia da liberação de Rasera, o delegado que estava de plantão na Furtos e Roubos de Veículos era Nailor Robert Gustavo de Lima, que não falou com a reportagem. Um policial que trabalha no local explicou que o alvará de soltura do investigador preso estava carimbado no verso pela Vara de Execuções Penais, constando que uma pesquisa havia sido feita e que não havia mais nada contra o réu que o pudesse manter detido. "Todos os trâmites administrativos foram cumpridos."
Deslize
Outra informação da Vara de Execuções Penais torna a soltura de Rasera ainda mais confusa. Arno Petris afirmou que, no registro paranaense do Infoseg e da própria Vara de Execuções, nunca houve qualquer pedido ou mandado de prisão contra Rasera. "Ele não está cadastrado. É muito difícil ocorrer tudo isso que aconteceu nesse caso. Estou há 25 anos nesse setor e nunca houve um deslize desse", afirmou. "Mas tudo foi por causa de não haver troca de informações como se deveria. Daí, um abraço para o gaiteiro. Mas não foi proposital nem houve influência de ninguém. Ninguém me procurou", disse.
Segundo Petris, nem o juiz de Campo Largo nem a Promotoria de Investigação Criminal (PIC), que iniciou o caso, comunicaram a prisão do investigador ao órgão. Para o juiz Gaspar Luiz, todos sabiam da prisão de Rasera e agora só resta uma apuração detalhada.
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