A CPI dos Bingos tem uma semana que promete ser tensa para o governo. Nesta terça-feira, presta depoimento o juiz João Carlos da Rocha Matos, preso há quase dois anos por venda de sentenças e que diz ter ouvido gravações que comprometeriam o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, no caso Santo André. E o próprio Carvalho participa no dia seguinte de uma acareação com os irmãos do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. Os irmãos do prefeito sustentam que ele morreu devido ao escândalo de corrupção na cidade, do qual acusam Gilberto Carvalho de ser parte importante.
Preso em 2003 durante a operação Anaconda, da Polícia Federal, o juiz Rocha Matos contou, em entrevista à revista 'Veja', que o chefe de gabinete de Lula dava orientações a pessoas ligadas a Celso Daniel sobre como depor no caso Santo André e mostrava preocupação com a investigação policial.
Rocha Matos diz ter ouvido 42 fitas gravadas entre janeiro e março de 2002 com telefonemas de personagens envolvidos no caso. Numa das ligações, Carvalho, então secretário de Governo da prefeitura de Santo André, pedia à namorada de Daniel, Ivone de Santana, que desse entrevista mostrando estar abalada com sua morte. A suspeita é de que ele queria dificultar a descoberta da ligação da morte de Daniel com o esquema de corrupção operado na cidade em favor do PT.
Um dos irmãos do prefeito, João Francisco Daniel, disse na CPI dos Bingos ter ouvido Carvalho admitir o esquema e confessar que lhe cabia entregar o dinheiro obtido de empresários achacados ao então presidente do PT, José Dirceu. Gilberto Carvalho, que também já depôs na CPI, mas a portas fechadas, nega ter feito a confissão.
Celso Daniel foi seqüestrado na noite de 18 de janeiro de 2002. Ele estava em um carro guiado pelo ex-segurança e empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra. Dois dias depois, o corpo foi encontrado com marcas de tiro. Sombra foi acusado pela promotoria de ser o mandante.
O Ministério Público acredita que a morte do prefeito está relacionada com um suposto esquema de corrupção montado durante a gestão dele na prefeitura de Santo André e que, por não concordar com esse esquema, Daniel teria sido morto. Em agosto deste ano, a Polícia Civil reabriu as investigações.
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