O desembargador Tadaaqui Hirose toma posse hoje como presidente do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), que atende os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além de dar continuidade ao trabalho das administrações anteriores, Hirose conta nesta entrevista concedida por telefone ao Justiça & Direito que sua proposta é seguir investindo na tecnologia como auxílio na gestão do tribunal. "Não só no aspecto jurisdicional, mas também no processo administrativo", diz.
Para ele, a criação dos novos TRFs, inclusive no Paraná, vai ser benéfica aos magistrados e à população. No entanto, ele ressalta que é necessário que os tribunais já nasçam fortalecidos para serem capazes de atender à demanda que será transferida.
Hirose, que é filho de imigrantes japoneses, nasceu no interior de São Paulo, mas começou a carreira no Paraná, de onde guarda boas lembranças. "Lembro com saudade dessa época, mas, como a atividade exige muito tempo, não deu mais para retornar", conta.
Qual será o foco da sua gestão a frente do TRF4?
Vamos dar continuidade à administração anterior que foi excelente, como sempre aconteceu neste tribunal. Também vamos continuar aperfeiçoando o processo eletrônico, não só no aspecto jurisdicional, mas também no processo administrativo. Inclusive, cedemos nossa tecnologia ao Ministério do Planejamento que vai adotar esse processo em praticamente toda administração pública federal. Também temos desenvolvido a correição virtual, com a qual não é necessário que o corregedor se desloque para fazer uma correição, o que gera menor custo para o tribunal.
Como a sua experiência pode ajudar na administração do TRF4?
Sou magistrado há mais de 34 anos. Conheço bem a 1.ª instância e tomei posse como juiz federal antes mesmo da criação dos tribunais regionais. Como juiz de carreira, exerci também funções administrativas com experiência, inclusive, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. E, aqui no TRF, estou há mais de 14 anos passando por vários setores da administração como, por exemplo, a Escola de Magistratura, a Corregedoria e também a Coordenadoria dos Juizados Especiais Federais. Acompanhei toda a evolução da Justiça Federal desde que foi criada e convivi com muitos magistrados. Creio que esse conhecimento vai me auxiliar bastante nessa administração que vai se iniciar agora.
Essa experiência em gestão e administração deve auxiliar no próprio trabalho do magistrado.
Sem dúvida. Inclusive, antes de ingressar na magistratura, tive minha passagem como advogado militante com escritório próprio no interior do Paraná. Também fui procurador do Banco Central, lecionei em faculdades de Ciências Econômicas em Apucarana, e também sou formado em Economia. Para administrar, você tem de conhecer, e creio que conheço a Justiça Federal. Como diretor da Escola da Magistratura da 4ª. Região, entre 2009 e 2011, quais as dificuldades que o senhor observava na formação dos magistrados?
Hoje, felizmente, posso dizer que as coisas mudaram bastante. Nossos magistrados e servidores são muito qualificados, basta dizer que a maioria dos funcionários é formada em curso superior. E, para os juízes, como o concurso é muito rigoroso, a seleção é eficiente. Mas, sem dúvida, há necessidade de aperfeiçoamento e nas escolas da magistratura temos vários cursos regulares. Temos a Enfam [Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados] que coordena os cursos nacionalmente. Claro que temos um custo bastante elevado com isso, mas os benefícios são necessários.
O senhor via a necessidade de se criar um novo Tribunal Regional Federal?
O novo tribunal já está consolidado, foi uma decisão política e, agora, temos que viabilizar e facilitar sua instalação. Entendo que todo aumento no número de julgadores, seja com a criação de novos tribunais ou com o aumento no número de membros, na 1.ª ou na 2.ª instância, é muito alvissareiro. A população é que vai receber esse benefício, pois a tramitação de processos será muito mais rápida.
Mas há a necessidade de instalar o tribunal já com uma estrutura razoável, com elevado número de desembargadores e funcionários, para que se possa dar conta da demanda, embora hoje haja certa facilidade em razão do processo eletrônico. O senhor possui diversas especializações: Direito Tributário, Ciências Penais e Direito Processual Civil. Qual a área que mais o atrai?
Aqui no TRF4, atuei primeiro no setor previdenciário durante quatro ou cinco anos e posteriormente trabalhei vários anos no campo criminal, antes de sair da jurisdição. Em ambos os campos, posso dizer que gostei de atuar. No previdenciário, você trabalha com aquelas pessoas hipossuficientes e a solução dos problemas nos dá uma satisfação maior. Para atuar nessa área, a experiência que tive no interior foi muito útil, já que conhecia a realidade das pessoas humildes e isso facilitou bastante nos julgamentos. Já no campo criminal, eu atuei desde a Justiça Estadual e gostei muito porque acompanhei a evolução do Direito Penal.
O senhor começou a sua carreira no Paraná. Quais são as principais lembranças que guarda do estado?
Tenho várias lembranças, como do tempo que fui professor na Faculdade de Ciências Econômicas em Apucarana, do contato com a juventude que sempre nos ensina alguma coisa. Lembro com saudade dessa época, mas, como a atividade exige muito tempo, não deu mais para retornar. Lembro também com saudade da época que eu era juiz estadual. No interior, você se sente mais juiz porque convive com os problemas diários da população, com questões familiares, de vizinhança, de Direito Civil, coisas que nos tocam bem de perto.
O senhor conseguiu manter um vínculo com a cultura japonesa? Vi que chegou a receber uma homenagem da comunidade japonesa em Maringá.
Sim, eu falo um pouco de japonês, apesar de ser um japonês coloquial, que eu conversava com a minha mãe. Eu também lia muitas revistas japonesas e isso me ajudou a conhecer um pouco do Japão e da cultura japonesa. Quando fui homenageado pela comunidade japonesa de Maringá, me senti honrado. Obter esse reconhecimento me enche de orgulho e realmente é algo indescritível.
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