Tribunal do Júri durante o julgamento de Vanderson Benedito Correa, acusado pelo homicídio da advogada Katia Leite.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Seis anos depois do assassinato da advogada Katia Regina Leite, o caso está sendo julgado no Tribunal do Júri, em Curitiba, nesta quinta-feira (21). O acusado é o empresário Vanderson Benedito Correa, ex-marido de uma cliente de Katia, que seria o mandante e responde por homicídio qualificado. A advogada foi morta com cinco tiros na cabeça na frente de casa. A execução teria sido cometida por um ex- policial, chamado Flávio, que seria amigo do empresário.

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Foram inscritas 11 testemunhas para serem ouvidas durante o julgamento. A primeira foi um dos filhos da vítima ,Carlos Eduardo Leite Ferras, que tinha 19 anos à época do crime. O jovem afirmou não ter dúvidas de que a mãe foi assassinada por ordens de Vanderson. Segundo ele, o ex-marido de Rosana - a cliente - ameaçava a advogada. Ele teria raiva dela por uma série de medidas protetivas que foram determinadas pela Justiça, como uma distância mínima da ex-mulher. Vanderson chegou a ser preso durante três meses por não pagar pensão.O jovem também afirmou que Rosana sofria violência física durante o casamento, e ele teria visto fotos dela após as agressões.

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No depoimento, Carlos Eduardo também afirmou que Katia havia se tornado muito próxima de Rosana, com uma relação de amizade a ponto de frequentarem as casas uma da outra. Após a morte da advogada, a ex-mulher do acusado afirmou diversas vezes que acreditava ser ele o mandante do crime e, nos primeiros anos após o crime, ainda manteve proximidade com os filhos da vítima.

O filho da vítima também disse que ficou sabendo que, após um tempo, Rosana firmou um acordo com Vanderson na esfera cível em que receberia bens e uma pensão. Esse acordo teria sido feito para que ela deixasse de acusá-lo do crime contra Katia.

OAB

Como Katia foi morta devido à sua atuação profissional, a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR )atua como amicus curiae (parte interessada) na causa. O caso é considerado emblemático para a advocacia tanto do ponto de vista do combate à violência contra a mulher, quanto para a defesa das prerrogativas profissionais.

O presidente da OAB-Paraná, José Augusto Araújo de Noronha, acompanha pessoalmente o julgamento e definiu como bárbaro o crime contra Katia. “É um brutal assassinato de uma advogada no exercício profissional. Ela tinha uma atuação exemplar no âmbito do direito de família e na defesa dos direitos da mulher”.

Noronha acrescentou que a diretoria da OAB-PR vai acompanhar o julgamento até o fim, com objetivo de “garantir contraditório e ampla defesa”. “Estamos aqui para que seja realizada Justiça”, afirmou Noronha.

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O advogado Dálio Zippin Filho foi designado pela OAB-PR para acompanhar o caso desde o dia do crime. “A Ordem espera que haja uma condenação tendo em vista que as provas que estão no processo mostram que o Vanderson foi o mandante do crime em razão da atuação profissional da doutora Katia”, afirma o representante da entidade.

Com relação à defesa das prerrogativas profissionais, o advogado destacou que somente no primeiro semestre deste ano 16 advogados foram mortos no Brasil.

A presidente da Comissão da Mulher Advogada, Luciana Sbrissia Bega, ressalta a relevância do caso para a advocacia.

“O caso é não só sobre a questão da violência contra a mulher, mas contra a advogada no exercício da sua profissão”, aponta Luciana.

Coincidentemente, a Ordem definiu 2016 como o ano da Mulher Advogada. A presidente da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero (CEVIGE) da OAB Paraná,Sandra Lia Leda Bazzo Barwinski, observa que o caso de Katia reflete a situação que muitas profissionais vivenciam ao sofrer ameaças e negligenciá-las. Katia Regina Leite atuou à frente do setor jurídico do Conselho da Condição Feminina durante uma década.

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“Era uma advogada, uma colega nossa, na defesa dos direitos das mulheres. Ela sempre teve uma relação muito forte em relação às mulheres e à violência. Ela não imaginava que isso [ameaças] poderia afetá-la.”

Defesa

Ao questionar a testemunha, a defesa lembrou que outros suspeitos também foram investigados, como o companheiro de Katia, chamado Charles, e o pai dos filhos dela. O advogado Cezar Bitencourt citou o fato de que, em janeiro de 2008, Katia registrou um boletim de ocorrência contra o ex-marido, que teria sido grosseiro com ela. Além disso, ela ajuizou ação para cobrança de alimentos contra o pai que não pagava pensão para os três filhos.

Também foi destacado pela defesa o fato de Charles ter chegado a morar com Katia, mas, por não se relacionar bem com uma das filhas dela, acabou saindo de casa. Foi mencionado, ainda, que após a morte da advogada, Charles voltou a morar com os filhos dela, comprovou a união estável e se tornou beneficiário das pensões da falecida.

Um dos advogados afirmou que as medidas protetivas para Rosana foram solicitadas por um profissional que a atendeu antes de Katia e, por isso, não poderiam ser motivação para Vanderson ameaça-la.

A defesa do réu foi procurada no Tribunal do Júri para conceder entrevista, mas Bitencourt afirmou que não poderia responder porque o julgamento estava prestes a ser retomado. Até o fechamento desta reportagem, não foi possível ter contato com os advogados.

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No total, cinco testemunhas haviam sido ouvidas até o fim da tarde. A perspectiva é que o julgamento adentre a madrugada.