A vivência de décadas no mundo jurídico combinada com a cinefilia acabou levando o jornalista Marden Machado a escrever um livro sobre filmes relacionados ao universo jurídico. A obra Cinemarden vai aos Tribunais reúne resumos e comentários sobre 420 filmes que tratam de questões ligadas à justiça e também de questões políticas. Machado já é autor de Cinemarden – um guia possível de filmes, obra que tem dois volumes. Ele trabalha há 30 anos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná e, das conversas com colegas do Judiciário, surgiram muitas ideias e sugestões que ajudaram a expandir a lista, que resultou no livro que lista mais filmes do gênero publicado no Brasil. Em entrevista ao Justiça & Direito, Marden contou como foi o processo de produção do livro e como os filmes relacionados ao mundo jurídico têm apelo para todo o público por, em geral, trazerem histórias inspiradoras. Ele também fez algumas indicações desde clássicos até blockbusters.
Como surgiu a ideia de fazer um guia sobre filmes jurídicos?
Depois que foi lançado o segundo volume do guia normal, do Cinemarden, conversando os editores veio a ideia de lançar guia temático. E aí surgiram muitas ideias. Ainda existem outras que poderão ser aproveitadas no futuro. De todas as ideias, a que pareceu mais interessante foi a de fazer um guia de filmes jurídicos.
Por que essa foi a mais interessante?
Primeiro, pela quantidade. Existe um número de filmes sobre o tema até maior do que eu imaginava. No começo, pensamos em fazer um guia com em torno de cento e poucos títulos – o que já seria uma quantidade razoável, já que o livro que trata do assunto no Brasil tem cerca de 50 indicações. Então um guia com 104 indicações já seria substancial. Essa foi a primeira listagem que eu levantei. Esses primeiros filmes eram referentes a tribunais, até para respeitar o título, cerca de 100. Só que quando comentei com amigos, começaram a perguntar sobre títulos. Alguns obviamente já estavam listados, mas aí cheguei a seguinte conclusão: se eu quiser me limitar só a tribunais, acho que fechei a lista. Mas se eu quiser ampliar para o campo jurídico, incluindo histórias que tratem de questões direito, não necessariamente com tribunal, mas também entrar com ação, ou sofrer dano há mais filmes. Por exemplo, Erin Brockovich não chega a ter um julgamento, mas tem todo o processo da ação. Aí a lista começou a crescer.
Em quanto tempo o livro foi feito?
Em aproximadamente 10 meses. Comecei em dezembro de 2015 e concluí em outubro deste ano. Teve muita coisa que eu não tinha visto ainda e tive que ver. Eu sabia que era um gênero com muitos exemplos, mas me surpreendi com a quantidade. Talvez eu me surpreenda no futuro com outros temas...
Quais outros temas sobre o quais você pensa em fazer guias?
Algumas ideias são sobre filmes que falem de médicos, de jornalistas, ou de professores. Até tenho uma pré-lista, mas se eu aprofundar a pesquisa provavelmente vão surgir mais títulos do que eu imagino. Mas, dificilmente, haverá tantos filmes quanto os de advogado.
Você fez uma seleção ou colocou todos os filmes que encontrou sobre o tema?
Coloquei todos os que, até finalizar, consegui levantar através de pesquisa, memória e dicas. Depois descobri pelo menos três que não estão lá, mas quem saber fica para uma próxima edição.
E como os filmes são apresentados?
Eu faço uma apresentação do filme contextualizando historicamente; em seguida, um rápido resumo da história – sem nenhum spoiler, algo bem suscinto –; e fecho com a minha opinião: por que aquele filme é importante, e destaco alguma coisa relevante ou não do filme. Tem filmes que estão ali de que não gostei muito, mas, como tratam do tema, fiz questão de listar.
Que filmes você destacaria entre os jurídicos? Aqueles que não se pode deixar de ver...
Tem os que considero obrigatórios: Doze Homens e uma Sentença – é o meu favorito, e é uma imagem dele está na capa do livro. Até costumo dizer que esse filme deveria fazer parte do kit do jovem estudante de direito, junto com a Constituição e alguns códigos. Outro filme fundamental é o O Sol é para Todos. Também tem Filadélfia, que segue sendo um grande filme. Tem O Julgamento de Nuremberg; O Vento Será tua Herança, que é um filme importantíssimo.
Do Brasil, indiscutivelmente, O Caso dos Irmãos Naves é um grande filme que reproduz dramaticamente um dos maiores erros da história jurídica brasileira: dois irmãos que foram acusados de um crime que não cometeram e ficam presos muitos anos. Eles foram condenados por causa de uma prova circunstancial porque o delegado queria mostrar serviço já que a pessoa morta era muito querida na cidade e eles tinham discutido com ela um pouco antes do assassinato.
Também tem o Tropa de Elite 2, que também é um bom exemplo na questão do direito, e não do julgamento em si, porque tem a questão do combate à corrupção de diferentes formas. No caso do filme, é com uma CPI que tenta debelar a corrupção na polícia.
Tem bastante filmes políticos na lista?
Alguns têm viés político também. Tanto é que o subtítulo é “Um guia de filmes de viés jurídico e político”. Tem muito filme político que não incluí porque se concentram só na questão política. Mas incluí aqueles que passam pela questão jurídica, por exemplo como O Voto é Secreto e A Batalha de Argel.
E como é a variedade de gêneros no Cinemarden Vai aos Tribunais? Tem comédia também?
Tem de tudo. O Mentiroso, por exemplo, é uma grande comédia e é um filme de tribunal. Legalmente Loira também está na lista.
O livro é para curiosos ou para iniciados nos mundos do cinema e do Direito?
Olha, não precisa ser formado em direito ou estudante da área para apreciar o guia e os filmes. Eu até digo isso na apresentação: o livro pode funcionar como uma boa ferramenta para aqueles que são acadêmicos da área ou estudantes porque traz 420 exemplos em filme, mais uma sugestão em 30 séries de TV que tratam do assunto. Mas também boa parte deles são grandes filmes.
Independentemente da questão jurídica, o grande barato desse tipo de filme e que faz com que existam muitos deles, primeiro é que não são produções muito caras, são produções que se concentram em pouquíssimos cenários. O figurino é normal, nada muito extravagante, a maioria dos advogados aparece vestindo um terno e ponto. E são histórias que lidam com questões clássicas, como combate do mais forte contra o mais fraco, o famoso duelo entre Davi e Golias. Invariavelmente, esses enfrentamentos resultam numa história de superação. Em última instância, boa parte deles são filmes inspiradores. Isso tem grande apelo com o público e supera a questão jurídica.
Como surgiu a ideia de incluir séries no livro?
É uma faixa bônus, eu não me aprofundo nelas, não entro em detalhes, apenas trago a ficha técnica de cada umas. A ideia veio porque há tantas séries [sobre o tema] justamente pelo apelo ao público e o baixo custo de produção.
Qual seria a sua favorita?
Recentemente vi uma brasileira que me chamou atenção pelo formato: Justiça. Lei e Ordem é muito interessante pelo inusitado, não se limita como outras séries policiais, a mostrar o trabalho do detetive; tem essa parte que se completa com o trabalho do promotor que é quem formaliza a acusação e leva o caso adiante para a punição prevista em lei. Tem Suits, que tem uma pegada mais de comédia. Tem o House of Cards, que apesar de ter um viés político mais forte, muito do que eles discutem passa pela questão jurídica também.
E uma curiosidade é que você aparece no livro, não é?
Tenho a colaboração de uma colega minha de trabalho, com três tirinhas da super amiga da Justiça. Ela criou uma personagem inspirada em mim e eu apareço nas tirinhas. Achei curioso colocar.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink