O advogado e escritor João Casillo passeava pelas pequenas barracas de livros usados que ficam à beira do Rio Sena, em Paris, quando viu uma prateleira com selos antigos. Ele reparou que alguns deles tinham temática jurídica. Seus olhos brilharam. Saiu de lá e foi direto para um antiquário. E então não parou mais.
Acervo mostra tradições jurídicas de diversas culturas
- Amanda Audi
A coleção de selos é só um pedaço do vasto acervo que o advogado João Casillo conseguiu reunir nos últimos 50 anos. Quadros, cartazes, esculturas e outros objetos de vários países do mundo, também sempre ligados ao direito, motivaram a publicação do livro “O Direito e a Arte – Uma coletânea”, em 2011.
Nas obras, a representação da Justiça se dá desde a conhecida deusa grega Têmis – a mulher com uma balança nas mãos e que às vezes aparece com os olhos vendados – até o orixá Xangô, que implica a mesma virtude na Umbanda, e a deusa egípcia Maat, que usava uma balança para julgar os espíritos dos mortos.
Foi justamente uma réplica de Têmis que iniciou a coleção de Casillo, em 1966, quando ele ainda era estudante de Direito. Em porcelana pintada de branco, a escultura está até hoje em uma estante do escritório do advogado.
O acervo também conta com cartazes satíricos e jornais antigos, como as edições originais do jornal francês Le Petit Journal, que retratam os julgamentos do oficial judeu Alfred Dreyfus, em um caso que dividiu a França no fim do século XIX.
A renda com as vendas do livro foi revertida para a escola João Paulo II, na região metropolitana de Curitiba, um projeto especial de ensino para crianças carentes desenvolvido pelo professor e colega Belmiro Valverde Jobim Castor, que faleceu em março de 2014.
A cena descrita acima ocorreu há cerca de 40 anos. Hoje, o advogado já chegou à marca de 5 mil selos, distribuídos em expositores em seu escritório e em quase uma dezena de pastas de couro, que ele organiza nas horas vagas.
Depois de uma minuciosa revisão que durou quase três anos, a coleção de selos de Casillo foi resumida em um livro com 460 páginas - um catatau- , que reproduz e detalha cerca de mil selos lançados em 150 países desde o início do século passado. A publicação será lançada no próximo domingo (26), em Curitiba.
Com várias origens, todos os selos têm em comum o fato de retratarem momentos ligados à história e à evolução do direito e dos direitos humanos. Entram como exemplo edições comemorativas de selos que representam a Revolução Francesa, a libertação dos escravos no Brasil e o início do voto feminino .
Aos 71 anos, meio século de profissão, Casillo é um tipo difícil de se encontrar hoje em dia. Metódico e organizado, é dado a guardar coisas que lhe inspiram. Recepcionou a reportagem da Gazeta do Povo com uma gravata decorada com balanças, um dos símbolos mais reconhecidos da Justiça. Tem outras 50 gravatas parecidas. Além de um suspensório, que ganhou da secretária.
Aos poucos, o advogado transformou seu escritório, o casarão rosa em frente à Praça Eufrásio Correia, em um “museu” de obras de arte e outros produtos ligados ao direito. Todas as paredes, corredores, prateleiras, cantos e gavetas foram preenchidas com os objetos, incluindo os selos.
Para formar a coleção, além da busca pessoal em sebos, o advogado também contratou o filatelista [colecionador de selos] curitibano César Lima Otoni para ajudar a encontrar peças de interesse em clubes de colecionadores. Ele também “tenta incentivar” os amigos a lhe darem presentes que possam integrar a coleção. “Isso é uma coisa que não chega até você. Tem que procurar, ir atrás, ter vontade”, afirma.
Serviço
Lançamento do livro O Direito e a Filatelia – A Arte dos Selos, de João Casillo. Dia 26 de abril (domingo), às 11h, no Solar do Rosário (Rua Duque de Caxias, 4, Centro Histórico de Curitiba). Toda a arrecadação com a venda do livro será destinada à Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas. O valor da obra no dia do lançamento é a partir de R$ 80. Depois disso, o livro pode ser solicitado juntamente ao Solar do Rosário, e virá com o carnê para a doação. A publicação foi financiada por patrocinadores a partir da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.
No ponto de vista do advogado, reunir selos, que são a cada dia menos usados no mundo, também tem um valor simbólico, de preservar fatos importantes da história dos homens. Seria um antídoto contra a falta de memória das novas gerações.
“Uma coleção não pode ficar restrita ao mundo do colecionador, ela tem que servir a um propósito. Se difundir alguma coisa para alguém, já fico feliz”, pontua.
Outros fatos históricos que aparecem no acervo de selos comemorativos são os 2,5 mil anos da Tribuna da Plebe, uma das primeiras organizações do povo que levou à criação dos atuais plebiscitos; e os 750 anos da Carta Magna, do rei João da Inglaterra, que submeteu a monarquia à pena da lei, representando o pontapé inicial para o constitucionalismo.
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