Em um período de 12 horas, a Justiça indeferiu na dois pedidos protocolados, em varas diferentes, pela procuradoria jurídica da prefeitura de Campo Mourão solicitando a tramitação sob sigilo de processos em que a prefeita Regina Dubay (PR) e secretários municipais figuram como denunciados pelos Ministério Público. A intenção da prefeitura, registrada nos pedidos, era impedir o acesso da imprensa aos autos.
A alegação da procuradoria municipal, ao pleitear o segredo de justiça, era evitar “a divulgação pela imprensa de notícias tendenciosas referentes aos atos processuais”. Na semana passada, a prefeitura havia sido acusada pelos proprietários do jornal Tribuna do Interior de tentar fechar o jornal, impedindo a circulação de uma edição que noticiava denúncias da promotoria local envolvendo a prefeita. A ordem de “cessar de imediato” as atividades do parque gráfico, onde é impresso o periódico, foi justificada por denúncia de um vizinho que alegava “perturbação do sossego” com o barulho provocado pelas impressoras.
Na terça-feira (3), a juíza Luzia Terezinha Grasso Ferreira, da 2.ª Vara Cível, indeferiu o primeiro pedido de imposição de sigilo, ao despachar em uma ação em que a prefeita Regina Dubay, o secretário de Obras, Renato Ikeda e o coordenador da prefeitura, Carlos Garcia, são denunciados pelo MP em uma ação que aponta fraude e superfaturamento em uma licitação.
No despacho, a juíza asseverou “não haver justificativa razoável a determinar a incidência da exceção (sigilo), em detrimento da regra (publicidade)” do trâmite do processo. Ao negar o pedido, a magistrada registrou que “além disso, os assuntos tratados no presente feito são de domínio público. E como se referem à Chefia do Poder Executivo, além de supostos prejuízos ao erário público, são de notório interesse público”.
Complementando o despacho, a juíza acolheu liminar interposta pela Promotoria do Patrimônio Público e determinou a averbação de todos os imóveis e veículos pertencentes à prefeita, aos secretários e a empresa Eletropel Materiais Elétricos, de Maringá, vencedora da licitação sob suspeita. A medida é uma prevenção para evitar a venda de bens, sem que os interessados na compra, saibam que o patrimônio pode ser bloqueado para reparação de danos, em caso de condenação dos acusados. A decisão da juíza foi registrada no sistema de processos online do judiciário (Projudi) às 12h32 desta terça-feira (03).
Quase dez horas depois, às 22h43, o juíz da 1.ª Vara Cível, Cesar Ferrari, também negou o pedido de segredo de justiça em uma ação onde o MP denuncia a prefeita Regina Dubay e o coordenador geral Carlos Garcia por improbidade por “perseguição política”. De acordo com denúncia do promotor Marcos José Porto Soares, a prefeitura declarou três imóveis de filhos do ex-prefeito e principal adversário político, Tauilio Tezelli, como de utilidade pública, sem demonstrar qualquer necessidade.
Conforme o MP, o município não apresentou justificativa para as desapropriações, exigência legal para o ato. Além disso, não havia projetos para os locais e nem mesmo dotação orçamentária para pagamento das áreas. A desapropriação não havia sido comunicada aos proprietários. O promotor pediu a anulação dos atos de desapropriação e o afastamento do coordenador-geral, Carlos Garcia, que declarou ter escolhido “pessoalmente” os terrenos.
Antecedentes
Esta não é a primeira vez que a prefeitura de Campo Mourão tenta cercear o trabalho da imprensa através da justiça. Em 2012, logo após assumir o cargo,a prefeita moveu ação contra o jornal Gazeta do Povo e 12 outros veículos de imprensa impedindo a publicação do nome dela em reportagens, onde era citada como suspeita de crime eleitoral. A proibição – acatada em primeira instância e pelo Tribunal de Justiça do Paraná – só foi derrubada em 2014 no Supremo Tribunal Federal através de liminar concedida ao jornal pelo Ministro Celso de Mello.
Como Bolsonaro se prepara para reagir ao indiciamento por suposto golpe
Mentor do golpe ou quem o impediu: as narrativas em torno de Bolsonaro após indiciamento
STF decide hoje o futuro da liberdade na Internet; acompanhe o Sem Rodeios
Deputado francês compara carne brasileira a lixo em votação sobre o acordo Mercosul-UE