Passados seis meses do escândalo do esquema gafanhoto, o desempregado Radaméris Saides, de Palmeira, nos Campos Gerais, que foi usado como "laranja" na fraude, ainda não sabe qual será o resultado da ação judicial que está movendo, desde 2005, contra a Assembleia Legislativa por ter tido seu nome usado indevidamente como funcionário da Casa. Ele, que nunca tinha dado entrevistas antes, ficou conhecido na cidade de 31 mil habitantes, após ter o nome veiculado na imprensa.
Entre os anos de 1997 e 2003, quando ele teria trabalhado no gabinete do ex-deputado estadual Luiz Carlos Zuk, seu rendimento acumulado teria sido de R$ 101 mil, com salários que variavam entre R$ 464 e R$ 5 mil. "Nunca estive na Assembleia, nem sei onde fica", afirma. A consequência mais grave do esquema foi o bloqueio do seu CPF e a exclusão de um programa de casas populares em Palmeira. Ele foi selecionado para o programa, em 2004, mudou-se com a esposa e os três filhos para uma casa de alvenaria, mas teve de deixar o imóvel oito meses depois por não conseguir provar que sua renda estava aquém da informada na Receita Federal.
Quando a fraude veio à tona, Saides morava em um casebre localizado em um terreno invadido em Palmeira e trabalhava como boia-fria. Há poucos meses, comprou uma casa junto com a mãe no mesmo bairro, com a garantia da escritura da residência. "Estamos juntando os salários e pagando as prestações de R$ 200", afirma, lembrando que ainda faltam 20 parcelas para quitar o imóvel. No momento, ele está desempregado e o rendimento familiar, que alcança um salário mínimo, vem apenas do trabalho da esposa, contratada temporariamente para a colheita da maçã na região, e do padrasto, que faz serviços gerais.
O advogado de Radaméris, Cláudio Alves da Costa, afirma que o processo que Saides move contra a Assembleia está na fase de ouvir as testemunhas e que a sentença ainda deve demorar entre seis meses e um ano. "É um processo moroso até pela dificuldade de colher as provas, que não estão na mesma cidade", diz. A Saides, resta aguardar. "Dizem que a esperança é a última que morre não é? Vou continuar esperando", afirma. Se fosse indenizado pelo Estado, o desempregado receberia pelo menos R$ 30 mil, que é o valor pedido no processo por danos materiais e morais, que exige ainda a anulação da sua contratação como servidor do Legislativo e a recuperação da casa do programa de desfavelamento.
Além de Saides, mais moradores de Palmeira tiveram seus nomes usados indevidamente. Assim como o desempregado, eles não sabem como os documentos foram obtidos pelos envolvidos no esquema.
A ex-funcionária da Assembleia Josiane Czaika, moradora de Palmeira, é acusada pelo Ministério Público de recrutar funcionários fantasmas para o esquema através de uma seleção de pessoas carentes que receberiam cestas básicas e que, para isso, precisariam informar os documentos pessoais. Josiane foi procurada pela Gazeta do Povo, mas não quis atender à reportagem. Em entrevista anterior, ela disse ser inocente.
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