Empresas negam ter cometido ilegalidades
Em nota, o Consórcio CNCC repudiou as acusações do laudo, que seriam "sem embasamento ou comprovação". A empresa diz que "jamais fez qualquer pagamento ilegal nem pode responder por pagamentos de terceiros". "Uma perícia contábil não pode colocar sob suspeita serviços sem ter verificado in loco a efetiva prestação deles. O CNCC dispõe de provas irrefutáveis sobre a realização destes serviços e as apresentará para as autoridades." A Sanko-Sider informou que não houve superfaturamento em seus serviços. Esclareceu que está analisando os laudos. "Definitivamente, não são conclusivos", diz. A Sanko ainda informou que o cadastro de empresa "sempre esteve alinhado com a Petrobras e todas as suas exigências". A Sanko também informou que Alberto Youssef era um "representante de vendas" da empresa e que recebeu as comissões de praxe por vendas legais. Já a Petrobras informou que todos os pagamentos referentes às obras das refinarias Repar e Abreu e Lima foram efetuados com a realização efetiva dos serviços. A estatal negou ter feito pagamentos às empresas Sanko ou MO.
Doleiro Youssef assina a delação premiada
O doleiro Alberto Youssef assinou ontem o acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). A informação foi confirmada pelo advogado dele, Antônio Figueiredo Basto. O defensor, porém, não deu detalhes dos termos do acordo, que são sigilosos. Basto também disse não saber quando Youssef começa a depor na Polícia Federal (PF). "Essa parte depende exclusivamente da Polícia", afirmou.
Os termos da delação foram negociados durante uma semana, mas só agora as partes entraram em consenso. A expectativa era de que Youssef começasse a ser ouvido ainda ontem por um grupo de procuradores da República e por agentes da PF. Ele deve revelar informações do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras e de lavagem de R$ 10 bilhões investigado pela Operação Lava Jato. Em troca da delação, Youssef terá diminuição da pena.
Homologação
Depois de prestar os depoimentos, o acordo ainda terá de ser homologado pela Justiça. Se o doleiro apontar o envolvimento de políticos com mandato no esquema, a homologação deve ocorrer no Supremo Tribunal Federal (STF). A expectativa do MPF e da PF é de que Youssef, acusado de ser o principal operador do esquema, esclareça detalhes da organização e a conexão com políticos e empresas estatais. Além disso, espera-se que o doleiro devolva aos cofres públicos pelo menos R$ 30 milhões que ele adquiriu irregularmente pelo esquema de corrupção.
Katna Baran
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Laudo de perícia criminal encomendado pela Polícia Federal (PF) revela indícios de que a empresa Sanko-Sider recebeu por serviços não prestados para o Consórcio CNCC, formado pelas empresas Camargo Corrêa e CNEC, em obras da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. A mesma empresa é citada nas investigações da Operação Lava Jato por supostamente ter feito o mesmo na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Os valores recebidos também são semelhantes aos que a Sanko repassou, em seguida, a empresas ligadas ao doleiro Alberto Youssef.
Na Repar, os peritos apontam que a Sanko recebeu R$ 3,6 milhões da Construtora Camargo Corrêa mesmo sem comprovação de que a venda de tubulações foi efetivada. A Camargo Corrêa justificou que repassou esse dinheiro à Sanko por serviços prestados que não envolveriam a obra na Repar. Mas documentos apreendidos pela Lava Jato indicam que o pagamento, no mesmo valor e na mesma data, foi contabilizado pela Sanko como serviços prestados na obra da refinaria.
Logo depois de receber o dinheiro, a Sanko fez dois repasses à MO Consultoria, empresa de Youssef, que totalizaram R$ 3,2 milhões. A transação foi documentada em notas fiscais. O procedimento ocorreu em 2009 e foi descrito pela perícia por ser "semelhante" às transações entre as duas empresas na construção da Abreu e Lima, nos anos seguintes.
Ao analisar os dados contábeis da Sanko, os peritos também viram que a empresa possuía um alto nível de endividamento o que não permitiria a aprovação como fornecedora da Petrobras. Em dois anos, a estatal aceitou balanços financeiros de uma empresa com apenas 33% de participação na Sanko. Em 2013, nenhum balanço foi apresentado. A conclusão foi que o sistema de certificação da Petrobras teria sido "burlado".
Modus operandi
Em maio deste ano, um relatório de procuradores que atuam no Paraná já apontava que recursos de contratos supostamente superfaturados da Repar teriam abastecido contas de empresas e pessoas investigadas na Lava Jato. O documento indicava suposta "conexão entre os desvios" nas duas refinarias. Um laudo da Polícia Federal concluído em abril diz que as planilhas de contratos da Repar tiveram sobrepreço de R$ 1,4 bilhão.
O mesmo modus operandi que teria ocorrido no Paraná foi identificado pelos peritos nos contratos da refinaria de Pernambuco. A primeira irregularidade detectada no laudo foi o pagamento de R$ 8 milhões pelo CNCC à Sanko em 2010 para fornecimento de tubulação. Mas a primeira nota fiscal só saiu no ano seguinte. O consórcio explicou que o repasse foi adiantado para "acompanhar a produção dos tubos solicitados". Mas os peritos dizem que, na visita à Sanko e na análise de documentos da empresa, não foram identificados custos alocados diretamente na prestação de serviços.
Repasses
Segundo os peritos, a Sanko recebeu R$ 38,7 milhões do CNCC e fez vários repasses às empresas MO e GFD, entre 2010 e 2013, somando R$ 37,7 milhões. "Os números chamam a atenção em razão de as empresas não possuírem relação direta com a natureza dos serviços supostamente prestados", diz o relatório. O documento também chama a atenção para a existência de uma "correlação em certos pontos" entre os pagamentos recebidos pela Sanko e o repasse às empresas de Youssef.
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