A impressão é de que há dois mundos paralelos envolvendo a Operação Lava Jato. De um lado, há quem acredite que ainda é possível conter o avanço da força-tarefa, como revelam os áudios envolvendo os ex-ministros Romero Jucá (PMDB) e Aloizio Mercadante (PT), o ex-senador Delcídio do Amaral e até o ex-presidente Lula (PT) – todos flagrados em conversas “comprometedoras” que tratam de tentativas de interferência sobre a operação.
LISTA: Veja quem tentou interferir na Lava Jato e pagou um alto preço
De outro lado, a força-tarefa em Curitiba não parece preocupada com possíveis intervenções políticas. Exemplo disso é a deflagração, na terça-feira (24), da 30.ª fase da operação, e a manutenção do ritmo intenso de trabalho depois de pouco mais de dois anos desde o início da Lava Jato.
“Preocupa [a tentativa de interferir], mas nada que a gente tenha detectado no âmbito da polícia”, diz o coordenador da equipe na PF, delegado Igor Romário de Paula.
“A entrada do ministro Alexandre de Moraes foi superpositiva, está todo mundo trabalhando com mais tranquilidade”, garantiu o delegado, em referência ao novo ministro da Justiça do governo interino de Michel Temer.
Com a mudança no posto, também deve haver troca na direção-geral da PF, o que não assusta os investigadores. “Tenho certeza de que haverá responsabilidade na escolha. Não tenho até agora nenhuma razão para duvidar disso ou ter qualquer temor”, diz um dos policiais.
Mesmo com a expectativa positiva, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal tem aproveitado o momento para difundir a proposta que garante maior autonomia à instituição. Além disso, a entidade está elaborando uma lista tríplice para a escolha do novo diretor-geral da PF. A delegada Erika Marena, integrante da força-tarefa da Lava Jato, é uma das candidatas.
PF deflagra mais uma fase da Lava Jato, a 30ª da operação
Leia a matéria completaDistante das rédeas do Poder Executivo, o Ministério Público Federal (MPF) e o Judiciário seguem com tranquilidade nos trabalhos da Lava Jato. Mesmo assim, citações a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça em gravações que comprometeram políticos acenderam o “alerta” sobre as investigações.
Até agora, porém, qualquer tentativa de interferência acabou derrubada pela própria Lava Jato, como a prisão de Delcídio, no fim do ano passado. Quem apenas criticou métodos da operação acabou caindo antes mesmo da nomeação, como o advogado Antônio Claudio Mariz, que acabou preterido por Temer para a pasta da Justiça.
Apoio popular
A principal explicação de integrantes da Lava Jato para a despreocupação em relação a possíveis interferências políticas é o apoio popular conquistado pela operação.
A Lava Jato não recebe influências políticas. A população não permite que isso aconteça; ela vai para as ruas quando é preciso.
Isso não quer dizer, porém, que não ocorram “ataques”. O procurador do MPF Deltan Dallagnol tem reforçado que tramitam no Congresso medidas que representam “ataque direto às investigações”, como os projetos que pretendem, limitar acordos de delações premiadas e barrar prisões de julgados em segunda instância. “Algumas propostas não têm sentido se o objetivo delas não for afundar a Lava Jato”, afirmou no início do mês.
Até o juiz Sergio Moro tem repetido que deve ser mantido o espírito de “intolerância” à corrupção alcançado com a Lava Jato. “Devemos continuar sendo intolerantes em relação a esses esquemas de corrupção sistêmica (...) no sentido de atuarmos para a resolução desse problema e para que eles não voltem a acontecer”, disse o magistrado, em palestra, logo após a confirmação do afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado.
Caídos em desgraça
Veja quem pagou um alto preço por tentar interferir na Lava Jato, o novo “tabu” da política brasileira:
O ex-senador foi preso no final do ano passado depois que foi flagrado em gravações em que ele tramava um plano de fuga para impedir o acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O político também firmou acordo com o MPF, mas perdeu o mandato e poder político depois do episódio.
Num dos casos mais emblemáticos da Lava Jato, o ex-presidente teve interceptações telefônicas em que trata da operação divulgadas pelo juiz Sergio Moro. Acabou impedido pelo STF de assumir a Casa Civil de Dilma Rousseff. Além de citado em outros episódios da operação, ele é investigado por possível obstrução de Justiça.
Mesmo não tendo caído pela Lava Jato, pois deixou o Ministério da Educação apenas com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, ele foi pego em gravações com o assessor de confiança de Delcídio do Amaral, José Eduardo Marzagão, em que oferece ajuda política e financeira ao ex-senador para tentar evitar que ele firmasse acordo de delação premiada.
O advogado caiu mesmo antes de subir. Cotado para assumir a pasta da Justiça do governo interino, por conta de críticas à Lava Jato, acabou preterido por Michel Temer.
A mais recente “baixa” da Lava Jato ocorreu nesta semana, depois de vazamento de áudio em que o então ministro do Planejamento sugere um “pacto” para barrar a Lava Jato ao falar com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
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