Aos olhos dos brasileiros, o Paraná não é o mesmo de dois anos e meio atrás. Quando a Operação Lava Jato engrenou e figurões do país começaram a desembarcar por aqui, o estado passou a concorrer – fortemente – com o eixo Rio-São Paulo-Brasília no noticiário nacional. Foi então que o bairro Santa Cândida, onde fica a Polícia Federal e a carceragem repleta de investigados, começou a fazer parte do roteiro de jornalistas e advogados renomados do país. Também Pinhais, que abriga o complexo penal para onde muitos presos preferem ser levados, e São José dos Pinhais, município do aeroporto em que pousam delegados, policiais e outros “trazidos” pela investigação são cidades agora frequentemente citadas em reportagens.
Mas tanta exposição ainda não foi capaz de formar uma imagem clara do Paraná. Em uma audiência na segunda-feira (21), um dos defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Roberto Batochio, disse ao juiz Sérgio Moro, em tom provocativo, que o Paraná é uma “região agrícola do país”, sugerindo provincianismo. Não é a primeira vez que Batochio cita o Paraná de forma polêmica para ironizar a Lava Jato.
Em agosto, ao questionar a competência da Justiça Federal do estado para julgar Lula, o advogado disse que Guarujá não é Guaratuba e que Atibaia não é Atobá, “uma cidade do Paraná”. A questão é que o Paraná não tem nenhum município com esse nome. No Guarujá, cidade no litoral de São Paulo, fica o apartamento que seria de Lula. E em Atibaia, município do interior paulista, está o sítio que a Lava Jato também diz ser do ex-presidente.
Sem identidade marcante
O desconhecimento sobre o Paraná não é exclusividade do advogado de Lula. Um levantamento publicado pela Gazeta do Povo em 2013 – antes da Lava Jato! – indicava que 43,7% dos brasileiros não sabem em que região do país fica o Paraná e quase metade não tinha ideia de que a capital é Curitiba. Os dados são do Instituto Paraná Pesquisas, que ouviu 2.550 pessoas maiores de 16 anos em 177 cidades de todas as regiões do Brasil.
Um dos principais motivadores para a dificuldade de associação de ideias talvez seja a falta de uma identidade marcante e de uma cultura forte. A pesquisa mostrou isso: 96% dos entrevistados não souberam citar o nome de algum músico ou banda do estado e, em relação a escritores, 99,1% não se lembraram de um só autor nascido por essas paragens. Nem Paulo Leminski nem Dalton Trevisan.
República de Curitiba
Antes de Lula cunhar o termo República de Curitiba, de forma nada elogiosa, em conversa com Dilma Rousseff grampeada em março deste ano, alguns poucos referenciais, como as obras de Jaime Lerner e atores renomados, remetiam o Paraná ao imaginário coletivo nacional. De resto, em viagens para outros estados, sobrava a muitos paranaenses ter de explicar, que não moravam no Rio Grande do Sul. Quarta maior economia do Brasil, o Paraná sempre teve dificuldade de se posicionar – disputando com as praias de Santa Catarina e a cultura gaúcha o título de referência no Sul.
Mesmo com tanto desconhecimento, talvez o Paraná ainda esteja em melhor condição do que outros estados, como Mato Grosso do Sul e o vizinho quase homônimo do norte, também potências agrícolas e vítimas da confusão regional – é no Centro-Oeste, tá! São exemplos de condições de estados que penam mais a pouca idade do Tocantins (criado há menos de 30 anos) ou a diminuta extensão de Sergipe, equivalente a um décimo do Paraná. Mas é sempre bom lembrar que por aqui moram 11 milhões de pessoas e que não se trata de uma imensa plantação de soja, com as Cataratas do Iguaçu e a capital da Lava Jato nas pontas extremas. O Paraná existe! O Acre, também!
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