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Fachada da Justiça Federal: processos ficaram nas mãos de Moro. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo/ Arquivo
Fachada da Justiça Federal: processos ficaram nas mãos de Moro.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/ Arquivo

A Operação Lava Jato pode ter o seu berço no Paraná, mas não se manteve restrita ao território de origem. Apesar de a força-tarefa da Polícia Federal (PF) e a do Ministério Público Federal (MPF) concentrarem o caso no estado, além da maior parte das ações em trâmite na Justiça Federal e da custódia dos presos, apenas quatro das 30 fases da operação tiveram mandados cumpridos no Paraná.

Na primeira etapa da Lava Jato, em março de 2014, nem mesmo a prisão de um dos personagens mais emblemáticos da operação foi feita no estado: o doleiro Alberto Youssef estava em um hotel luxuoso na orla de São Luís (MA). A fase da operação teve outros tipos de mandados cumpridos em Curitiba, São José dos Pinhais, Foz do Iguaçu e Londrina, onde houve sequestro do imóvel em que funciona o Hotel Blue Tree, propriedade do doleiro.

INFOGRÁFICO: Veja os números da Lava Jato por estado

Mesmo na primeira fase, o foco principal da operação não foi o Paraná, mas o Distrito Federal, onde eram mantidas as empresas e contas das atividades ilícitas dos doleiros. O nome Lava Jato, inclusive, vem de lá, já que uma das organizações criminosas inicialmente investigadas usava uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos. As operações criminosas, no entanto, se estenderam a diversos pontos do país. Treze das 27 unidades da federação tiveram alguma operação da Lava Jato.

A partir do descobrimento da relação entre Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que recebeu uma Range Rover do doleiro, a Lava Jato estendeu a investigação à estatal petrolífera, atingindo, assim, outros estados. Os locais com mais operações, a partir de então, são Rio de Janeiro, onde fica a sede da empresa, e São Paulo, em que se localizam a maior parte das empreiteiras investigadas por envolvimento no esquema, além do Distrito Federal.

Adotamos o ataque contínuo da infantaria blindada, de modo a não permitir que o outro lado avance, fazendo operações atrás de operações.

Carlos Lima procurador do Ministério Público Federal (MPF).

A operação só voltou a ter fases no Paraná em sua sétima etapa, em novembro de 2014, quando foram presos os primeiros empreiteiros e operadores do esquema de distribuição de propinas obtidas mediante contratos com a Petrobras. Em Curitiba, foram cumpridos dois mandados de busca e um de prisão temporária, do empresário da IESA, Valdir Lima Carreiro.

Políticos

Já na 11ª fase da operação, em abril de 2015, ocorreu a primeira ação envolvendo prisões de políticos do esquema, incluindo a do ex-deputado federal André Vargas, em Londrina. Na ocasião também foi decretado o sequestro de um imóvel do ex-petista. Vargas passou a ser investigado depois que admitiu ter usado um avião alugado por Youssef para viajar de férias com a família.

A última vez que o Paraná viu em ação uma fase da Lava Jato em seu território foi em agosto do ano passado, na Pixuleco II (18ª fase), desdobramento da prisão do ex-ministro José Dirceu, que ocorreu na fase anterior. Foram feitas buscas e apreensões no escritório do advogado Guilherme Gonçalves, investigado por supostamente manter contratos ilícitos com o Grupo Consist, alvo da Lava Jato.

Apuração começou com deputado paranaense

A origem paranaense da Lava Jato remete ao início das investigações, em 2009, com a apuração de crimes de lavagem de dinheiro de recursos ligados ao ex-deputado federal José Janene (PP) - morto em 2010 -, de Londrina. Daí, a Polícia Federal (PF) chegou ao doleiro Alberto Youssef, que já havia sido investigado e processado por crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro no caso Banestado.

Nenhum dos envolvidos na investigação, porém, parece ter previsto o “gigantismo” que a operação iria tomar a partir de então. Fases da Lava Jato já foram cumpridas em 13 dos 27 estados brasileiros, além de uma ação específica em Lisboa, Portugal. O tamanho da operação virou inclusive argumento de diversas defesas: advogados alegam o critério da territorialidade como um dos empecilhos para manter partes do caso no Paraná.

Até agora, o tribunal de segunda instância e as Cortes Superiores não admitiram a saída da Lava Jato do estado por este critério, alegando que os fatos incriminatórios foram revelados aqui. Alguns casos, no entanto, acabaram desmembrados por outro fator: a falta de conexão com a Petrobras. Foi o que ocorreu com as investigações envolvendo o Ministério do Planejamento e a Eletronuclear, que foram para São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Outra consequência gerada pelo avanço da operação é a sobrecarga de trabalho para investigadores e o juiz Sergio Moro. Em abril, o delegado da PF Filipe Pace escreveu em despacho que a deflagração contínua de fases da Lava Jato “impossibilita a conclusão célere da análise de todo o material apreendido em fases pretéritas”, revelando as dificuldades estruturais para se manter o ritmo das investigações em Curitiba.

“Gigantismo” de operações deve continuara até o fim do ano

O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Lima ressalta que o crescimento exponencial da Lava Jato, que partiu da investigação da atuação de quatro doleiros para a situação atual, “não deve mais acontecer”. Ele prevê que o gigantismo das novas descobertas deve se manter até o final do ano, mas, depois disso, a operação deve “esfriar”.

“Investigamos a Petrobras, essa é nossa atuação, e já chegamos a uma cadeia de comando no gabinete da Presidência da República. Podemos investigar mais, mas, para onde mais a Petrobras iria? Posso descobrir alguns problemas laterais, mas o núcleo base já foi descoberto. A operação vai enfraquecer pela própria realidade já ter sido descoberta”, diz.

Ele explica ainda que o alcance da operação advém da própria tática adotada pela força-tarefa, que se compara a de uma guerra. “Adotamos o ataque contínuo da infantaria blindada, de modo a não permitir que o outro lado avance, fazendo operações atrás de operações”, conta.

Lima ressalta, porém, que a previsão de estagnação da Lava Jato não quer dizer que novas investigações não ocorram. “O que tiver aqui e não for nosso, vão gerar filhotes da Lava Jato por todo Brasil. A operação vai perder força pela natureza das coisas, e tem que parar em algum momento, mas não quer dizer que outras investigações não ocorram”, ressalta.

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