As investigações da Operação Lava Jato e a crise econômica fizeram despencar os valores pagos pelo governo federal às principais construtoras do país. Dez empreiteiras investigadas na operação ou que tiveram dirigentes já condenados na Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro receberam este ano R$ 1,184 bilhão, 64,7% a menos do que os R$ 3,353 bilhões pagos em 2014, segundo dados do Portal da Transparência, que reúne os pagamentos diretos feitos pela União a empresas e pessoas físicas. O levantamento feito pelo GLOBO inclui os desembolsos registrados até a primeira semana de dezembro.
Em 2014, a Odebrecht foi a construtora que mais recebeu dinheiro do governo federal, com R$ 1,13 bilhão pelas obras do projeto de desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro (Prosub). Se consideradas empresas de todos os setores econômicos, ocupou a terceira posição, atrás apenas do Itaú Unibanco e da Embraer.
Em 2015, com a prisão de seus principais executivos, a Odebrecht perdeu o primeiro lugar para a construtora Queiroz Galvão, que aparece na Lava Jato apenas na condição de investigada. Os pagamentos feitos à Odebrecht pelo Prosub caíram para R$ 269,6 milhões – 76% a menos.
A Queiroz Galvão foi a única das dez empreiteiras incluídas no levantamento que conseguiu aumentar o valor recebido do governo federal este ano. O aumento foi de 60% em relação a 2014, passando de R$ 250 milhões para R$ 399,6 milhões. Suas principais obras foram um trecho da Ferrovia Norte-Sul, a segunda ponte sobre o Rio Guaíba (RS) e construções relacionadas ao eixo norte da transposição do Rio São Francisco.
Um relatório da Polícia Federal, encaminhado à Justiça Federal de Curitiba, mostrou que apenas seis empresas que integravam o cartel da Petrobras, alvo da Lava Jato, ficaram com 57% dos investimentos da estatal entre 2004 e 2014. Entre as construtoras, as mais beneficiadas com obras da petrolífera foram Odebrecht (16,6%), Queiroz Galvão (9,6%), Camargo Corrêa (9,2%), Engevix (6,8%) e UTC (5,2%).
Primeira a assinar acordo de leniência com o Ministério Público Federal, reconhecendo a corrupção e se comprometendo a ressarcir R$ 800 milhões aos cofres públicos, a Camargo Corrêa viu os pagamentos do governo federal minguarem. Em 2014, recebeu R$ 545,5 milhões, segundo maior valor pago às investigadas na Lava Jato.
Este ano, foram R$ 71,9 milhões, e as principais obras em curso são a construção de um trecho da Ferrovia Norte-Sul em Goiás, do Perímetro Irrigado Platôs de Guadalupe, no Piauí, e de um trecho da BR-101 na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.
Juntas, as obras de transposição do Rio São Francisco e os investimentos em ferrovias garantiram a continuidade dos pagamentos às investigadas da Lava Jato.
A Andrade Gutierrez, que também deve regularizar sua situação e negocia acordo de leniência, havia recebido R$ 132,4 milhões em 2014. Este ano, ficou com apenas R$ 43,8 milhões, graças à construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que liga Ilhéus a Caetité, na Bahia.
A obra, que faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e foi orçada em R$ 1,4 bilhão, foi a origem também do pagamento de R$ 41,1 milhões à Galvão Engenharia, que em 2014 havia recebido R$ 363,7 milhões da União. A UTC/Constran, que angariou o trecho Caetité/Barreiras, recebeu este ano R$ 109,5 milhões – um terço do faturado em 2014 com a União.
Das principais empreiteiras da Lava Jato, três entraram em recuperação judicial ao longo do ano: Galvão Engenharia, OAS e Schahin.
A OAS viu os pagamentos da União serem reduzidos de R$ 61,4 milhões em 2014 para R$ 24,8 milhões este ano – uma queda de 60%. Atualmente, a empresa é responsável pelas obras de estradas em Alagoas, nas divisas com Pernambuco e Sergipe.
A Schahin, uma das últimas a aparecer na Lava Jato, com contratos vinculados principalmente à exploração de petróleo, teve seus recebimentos da União reduzidos a pouco mais de 10% – de R$ 101 milhões em 2014 para R$ 12 milhões este ano. A obra em andamento é o prédio do Instituto Nacional de Câncer.
Depois das gigantes Odebrecht e Queiroz Galvão, a Mendes Junior foi a que conseguiu manter o maior valor em recebimentos federais em 2015. Os pagamentos à empresa somaram R$ 185 milhões por obras no Rio São Francisco, irrigação no Piauí e na BR-163 no Mato Grosso – 52% a menos em relação aos R$ 390 milhões de 2014.
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