Envolvidos na maior operação de combate à corrupção do país, advogados criminalistas do Paraná estão passando ao largo da crise econômica brasileira. A Operação Lava Jato, sediada em Curitiba, aqueceu o mercado dos escritórios, que ampliaram equipes e passaram a cobrar mais. Até quem não está atuando no caso saiu lucrando.
“É natural. Tanto pela clientela quanto pela complexidade da causa”, diz o advogado Antônio Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef e outros sete clientes na operação.
Ele e outros defensores da Lava Jato – a reportagem falou com oito, parte deles sob condição de anonimato - dizem nunca ter trabalhado tanto.
Viagens a São Paulo e a Brasília são frequentes. Fim de semana foram tomados pelo serviço. Audiências se estendem ao longo de toda a semana. Equipes dobraram de tamanho.
Alguns escritórios tiveram de recusar ou desistir de outros casos, devido ao volume de trabalho. Em outros, os próprios clientes largaram os antigos defensores, estrelados pela operação.
“Os valores estão ficando inviáveis, exorbitantes”, diz o advogado Mauricio Zampieri de Freitas, que trabalha como criminalista há 17 anos.
Seu escritório, de segundo escalão, como ele mesmo define, não atua na Lava Jato. Atende réus em Tribunal do Júri e sem o poderio econômico de empreiteiros.
Nos últimos meses, ele recebeu pelo menos dois antigos clientes dos escritórios da Lava Jato, que acharam os preços absurdos. Fechou novos contratos e também viu seus honorários subirem. “O meu piso aumentou porque o teto desses grandes escritórios está muito alto”, diz.
Houve ainda quem mudou de status após a operação. “Eu advogava sozinho, sem escritório. Atendia o cliente no fórum, no café, emprestava escritório de amigos. A Lava Jato impulsionou minha carreira”, conta o advogado Jeffrey Chiquini, de 25 anos. Ele virou sócio de seu ex-professor Haroldo Nater, que advoga para cinco investigados. Chiquini agora atende Waldomiro Oliveira, tido como laranja de Youssef.
Preços
Alguns dos profissionais admitem que aumentaram os preços para compensar o esforço. Os da equipe de Alexandre Loper, que defende três réus na operação, dobraram. “Depende do tamanho da bronca do cidadão”, brinca Nater. Ele diz que ampliou em 30% sua equipe, entre advogados e estagiários.
Segundo eles, a complexidade da operação exigiu novas frentes de trabalho.
Figueiredo Basto, por exemplo, contratou uma pessoa exclusivamente para monitorar as notícias da imprensa. “Boa parte dos réus está preso, o que demanda visitas semanais à carceragem. É uma operação extremamente dinâmica”, diz Basto.
Os advogados, porém, sustentam que seus honorários ainda não se aproximam do patamar de grandes escritórios de São Paulo ou Brasília.
Ficar milionário com a Lava Jato, segundo eles, é difícil. “Só quem defende delator é que ganha bem”, comenta um. Basto nega. “Se você colocar o custo na ponta do lápis, ao longo de anos de processo, o ganho é bem diminuto.”
Clientes da operação também têm um risco embutido: o calote. Muitos dos investigados tiveram contas bloqueadas pela Justiça. “Teve um que não pagava nem os custos”, lembra um profissional, que desistiu do cliente.
Os advogados admitem que a operação funciona como vitrine, mas sabem que a bonança terá fim. “Não vai ter Lava Jato todo ano. Uma hora a crise chega”, diz um.
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