O ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu nesta segunda-feira (4) mudanças na legislação sobre abuso de autoridade. Segundo ele, "a lei atual é muito genérica" e o sistema de normas contra o abuso "está muito fragmentado".
"É norma constitucional, tem Código Penal e tem lei de 65. (...) Quando essa lei foi sancionada, não tínhamos, por exemplo, o tipo de exposição que as pessoas sofrem hoje, às vezes de maneira deliberada, gerando constrangimento e punição antecipada", disse. Ele também defendeu a aprovação da Lei de Escutas Telefônicas.
O ministro deu as declarações à imprensa após participar do debate "O Brasil e o Estado de direito" promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", do qual também participaram presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes), o procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, e o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cézar Britto.
O presidente do STF criticou o modo como são realizadas as operações policiais e criticou a divulgação de conversas telefônicas. "Não podemos transigir com abusos que se perpetuaram. O vazamento hoje não é mais a exceção, mas a regra", disse.
Antonio Fernando de Souza afirmou não acreditar que a alteração na lei vá, por si só, mudar a situação atual. "Existem desvios pontuais que estão sendo apurados. Não se pode, a pretexto de coibir abusos pontuais, obstaculizar determinadas instituições."
O procurador defendeu ainda que, se houver mudanças, que "a garantia das instituições seja preservada".
Para o presidente nacional da OAB, Cezar Britto, a legislação atual "foi feita para proteger o Estado e não o cidadão". "É muito fácil para o Estado cometer abuso. Uma ação judicial demora 15, 20, 30 até 40 anos", disse.
Divergências
No dia 15, o ministro da Justiça e o presidente do STF se reuniram com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e entraram em acordo para reformar o processo penal a fim de evitar abusos policiais e garantir os direitos individuais.
Mendes foi muito criticado após a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, por ter concedido dois habeas corpus que tiraram o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, da prisão. A ação prendeu também o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta que foram beneficiados com habeas corpus Juízes assinaram um manifesto a favor do juiz Fausto de Sanctis, que determinou as prisões da Operação Satiagraha e questionou os habeas corpus concedidos por Mendes.
Grampos
O ministro da Justiça, Tarso Genro, comentou uma reportagem publicada pelo jornal "Folha de São Paulo" no domingo (3). Segundo o jornal, a Polícia Federal teria tido acesso a todos os registros de chamadas telefônicas efetuadas no país. O acesso teria sido concedido pela Justiça para o registro das chamadas, mas não para a gravação de conversas.
"Não é correta a impressão de que teve alguma determinação judicial para grampear livremente quem quer que seja. Não foi assim pelo menos que a Polícia Federal interpretou. Na nossa opinião, não foi essa a ordem judicial", disse.
Questionado, o procurador-geral da República disse que não tinha conhecimento da decisão e que não poderia opinar. Antônio Fernando de Sousa repondeu apenas que "o que for sigiloso só pode ter seu sigilo afastado por decisão judicial".
Polícia isola prédio do STF após explosão de artefatos na Praça dos Três Poderes
Congresso reage e articula para esvaziar PEC de Lula para segurança pública
Lula tenta conter implosão do governo em meio ao embate sobre corte de gastos
A novela do corte de gastos e a crise no governo Lula; ouça o podcast