É grande a possibilidade de a proposta do salário mínimo regional ser aprovada na Assembléia Legislativa. Os setores de comércio e serviço estão preparados para arcar com esse reajuste?
Cláudio Slaviero (presidente da Associação Comercial do Paraná) - Infelizmente, é grande a possibilidade. Digo infelizmente porque os deputados convidaram inúmeras lideranças paranaenses, que deixaram seus afazeres para mostrar a posição de suas entidades na Assembléia e, ao final das exposições, ouviram lacônicas explicações dos parlamentares, justificando-se porque aprovarão o salário. Na verdade, seu convite à comunidade nos pareceu apenas como desculpa para "fazer de conta" que exercem a democracia. Mas, respondendo à tua pergunta: os setores do comércio e serviços não estão preparados para este aumento. Inúmeros comerciantes nos disseram, literalmente, que como não têm condições de arcar com os custos.
Qual deve ser o impacto desse reajuste? É grande a parcela de trabalhadores do setor que recebem salário mínimo e que não têm acordo coletivo?
Não há como mensurar o impacto real disto, mas haverá, com certeza absoluta.
Quais serão as conseqüências do mínimo regional para o comércio, caso a proposta seja aprovada? O senhor acha que haverá demissões?
Ele pode, sim, comprometer a geração de empregos. Não há como proporcionar um salário mínimo melhor com um PIB paranaense que demonstra estagnação, ao crescer 0,3%, segundo o Ipardes, no ano passado, sendo que as atividades comerciais de varejo registraram variação negativa de 1% do faturamento real. O reajuste do salário mínimo deve, além de considerar a distribuição de renda, a capacidade econômica financeira das empresas e o impacto fiscal sobre as contas públicas, que não podem mais ser pagas por elevação de carga tributária e sim pela redução dos juros ainda absurdos praticados em nosso país. Nos setores de serviço e de comércio, que empregam mais de 4 milhões de trabalhadores, o reajuste salarial tem um peso muito forte, especialmente nas microempresas, muito sensíveis a alterações na folha de pagamentos acima dos ganhos de produtividade.
Que avaliação o senhor faz desse projeto de criação de um mínimo regional, proposto pelo governo do estado, em um ano eleitoral?
Este assunto deveria ser analisado sem paternalismo e sem demagogia, mais acentuados neste período eleitoral, infelizmente. Olhando com racionalidade econômica, os aumentos reais de salários só são justificáveis quando sustentados por ganhos de produtividade do trabalho. Na verdade, a questão é romper as causas estruturais que fazem o salário mínimo tão baixo no Brasil e não fazer demagogia com algo tão sério. E não só por parte de quem o está propondo. Mas, especialmente por parte dos deputados que, com receio das conseqüências eleitorais de sua posição, não analisam os projetos de forma racional. Mas, analisam apenas e tão somente seus interesses políticos/eleitorais.