Enquanto na prefeitura de Curitiba o pacote de ajuste fiscal vem sendo discutido internamente com pouca margem para pressão e atuação dos sindicatos, na Câmara Municipal a situação será diferente. As discussões públicas e a pressão direta dos servidores sobre os parlamentares vão ser um teste para a solidez da base de apoio de Rafael Greca na Câmara de Curitiba.
O trabalho de garantir a aprovação das 14 propostas de austeridade é do vereador Pier Petruzziello (PTB), que ocupa a liderança do governo há menos de quatro meses. Em entrevista à Gazeta do Povo, Petruzziello afirmou que vai ser fundamental separar o discurso ideológico dos sindicatos da discussão específica sobre as medidas propostas pelo sindicato.
Como tem sido a conversa com os vereadores sobre o pacote de ajuste?
Não tem como você fugir do fato de que a cidade e o país passam por uma dificuldade. Curitiba já poderia ter quebrado, ter ficado sem condições de pagar salário para ninguém, como por exemplo no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. O que os vereadores têm conversado é que nós temos que ser responsáveis com a questão das finanças e votar essas medidas que chamam de amargas. Eu não acho amargas. Amargo é não pagar salário e depois ver professor aposentado chorando porque não tem dinheiro para pagar remédio. Agora não é hora de joguete, não é hora de criar dificuldades.
Esse é um dos primeiros projetos que o Executivo manda nessa gestão. Já dá para ter confiança na base para a aprovação?
Vou te responder depois que o resultado do projeto acontecer. Nos diálogos com os vereadores, todos querem participar. A Câmara melhorou; os novos vereadores são mais calmos, não buscam o holofote. Está todo mundo preocupado. Os vereadores sabem que se não aprovarem esse projeto agora não vai ter dinheiro para tocar a cidade. Nós vamos ficar aqui tentando – e apenas tentando, porque não vamos conseguir – pagar a folha de pessoal.
A Prefeitura contingenciou boa parte dos recursos destinados ao pagamento de emendas parlamentares. Isso pode complicar a aprovação do projeto?
Não. Os vereadores também têm que entender o momento. Claro que a gente lamenta, mas também temos que entender, conversar com o secretário para ver se paga uma parte ou outra. Mas precisamos ver quais são as possibilidades do município nesse momento.
A Câmara vai dar alguma margem para que o projeto seja modificado?
Vem com uma margem. Não muita. Não vem com uma gordura imensa, mas vem com uma margem razoável. O secretário de Governo [Luiz Fernando Jamur] tem feito uma conversa muito franca a esse respeito, quer uma margem de negociação, mas nós também não temos muita coisa para negociar.
A prefeitura está pedindo urgência na tramitação dos projetos?
São 14 projetos que chegarão à Câmara; em nenhum há pedido da prefeitura para pedido de urgência. Mas nós temos que conversar com os vereadores para ver se não é o caso, aqui dentro, de solicitar regime de urgência, o que não significa dizer que tem que pular comissão, mas que possa dar celeridade. Ninguém quer atropelar a discussão; o prefeito não me pediu isso.
Qual o cronograma de votação dos projetos?
A ideia é aprovar todos no primeiro semestre. A prefeitura não deu prazo para nós, mas eu, como líder, gostaria de ver esse dinheiro em caixa – em decorrência dessas medidas – até maio ou junho. Não sei se conseguimos, mas votar até o fim de abril seria o ideal.
Na prefeitura o projeto está sendo feito a portas fechadas. Isso pode levar os sindicatos a pressionar mais os vereadores. Vocês já têm sentido essa pressão?
Já. Houve, de fato, essa pauta de que eles queriam participar dos debates. Mas é importante deixar claro para a população que o plano está sendo elaborado por servidores de carreira da prefeitura. Existe também um receio de que quando se abre para negociação acaba-se não fazendo nada. Se abrir demais, o projeto não sai, o que não significa que no plenário da Câmara eles [os sindicatos] não poderão sugerir mudanças, dar ideias.
E como vai ser essa negociação com os sindicatos?
Nós temos que dar dois recados agora. Um para os servidores de que nós não vamos prejudicá-los, para dizer que eles são o pulmão da cidade porque trabalham na máquina pública, mas existe mais de um milhão de cidadãos que não são servidores, que, neste momento, estão sendo demitidos ou tendo que demitir, porque infelizmente essa é a situação do país. A população tem que entender quais são os movimentos que serão contrários a esse tipo de reajuste. O servidor também tem que entender isso para não ser usado como massa de manobra. Nós temos que ter muito claro que há uma questão de ideologia. Toda vez que você conversa com um sindicalista existe um discurso de “por que pagar as grandes empresas?”. Ora, você tem que pagar todo mundo. Se está prestando um serviço, a prefeitura tem que pagar. Por trás dessa empresa que o sindicalista acha que só gera lucros, existem pessoas, funcionários de carne e osso que sustentam seus filhos e estão sendo demitidos.
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