Em plena crise financeira no estado e com greve dos servidores, o líder do governo de José Ivo Sartori (PMDB) na Assembleia do Rio Grande do Sul, o deputado peemedebista Álvaro Boessio, chamou os funcionários públicos de “vadios”.
A declaração foi dada à rádio Spaço FM – de Farroupilha, na serra gaúcha – na segunda-feira (31), no mesmo momento em que o governador anunciava o parcelamento, em quatro vezes, dos salários de agosto dos servidores. “Tem alguns funcionários, não todos, uma boa parte dos funcionários são vadio [sic], não correspondem. Depois que passou no concurso e estão [sic] lá há tempo, querem mandar mais que os deputados. E assim é no governo, assim é nas prefeituras. Não todos. Mas uma boa parcela”, afirmou Boessio ao radialista.
Na entrevista, o parlamentar, que atuou como sindicalista, disse que “era um grande defensor de concurso público”, mas que “agora é totalmente contrário”.
Boessio ainda falou especificamente dos professores estaduais. “Temos 80 mil professores no estado. Sabem quantos estão em atividade hoje? 40 mil, a metade”. Segundo ele, a metade que não está em atividade está afastada com licença-prêmio ou por meio de atestados médicos, por exemplo.
A declaração logo repercutiu entre os servidores. O Cepers (sindicato dos professores do RS) divulgou nesta terça-feira (1.º) uma nota de repúdio à declaração do deputado. “É inadmissível que, além de receberem a mísera parcela de R$ 600 de seus salários, os servidores gaúchos tenham que passar por mais esta humilhação”.
Desde esta segunda, os funcionários do estado estão em greve, deflagrada após novo parcelamento de salários anunciado por Sartori. Nesta terça, protestos de familiares de PMs impediram a saída dos policiais dos quartéis, o que provocou a redução do policiamento nas ruas.
Na entrevista à rádio, Boessio disse ainda que não abriria mão do seu aumento salarial para ajudar na crise financeira do Estado e que sempre vota a favor das altas “para ter coerência”.
A reportagem tentou falar com o deputado, mas sua assessoria informou que o político não atenderá à imprensa.
Infeliz
Em nota publicada na sua página do site da Assembleia, Boessio diz que “errou e pede desculpas”. “Eu expressava a minha opinião, buscando afirmar que a máquina pública precisa de mais eficiência, quando usei um termo infeliz em um comentário”, diz a nota.
O deputado cita o “momento difícil do estado” e diz que se exacerbou “por querer tirar logo o Rio Grande desse abismo nas finanças para, justamente, respeitar sempre os merecidos vencimentos dos funcionários públicos”. Boessio tem atuação expressiva em Farroupilha, cidade responsável por um terço dos 37.774 votos que reelegeram o deputado na última eleição, em 2014.
O parlamentar já foi acusado, porém, de ter uma funcionária em cargo comissionado que ficava em casa durante o expediente de trabalho, segundo o jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, cidade vizinha a Farroupilha. Na ocasião, Boessio disse ao jornal que o “horário dela é livre”.