O presidente estadual do PMDB de São Paulo e ex-governador Orestes Quércia, 72 anos, morreu nesta sexta-feira (24), no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital. O câncer de próstata que levou Quércia ao hospital, no início de setembro, havia se manifestado já em 1997. Ele optou então por um tratamento de radioterapia, descartando a cirurgia para retirada do tumor. Os resultados não foram satisfatórios, mas Quércia retomou a vida normal.
Continuou se dedicando à política, na direção estadual do PMDB, cujo controle assegurou com o apoio dos diretórios regionais de São Paulo. Divergindo da orientação nacional do partido, que lançou o deputado Michel Temer para vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, do PT, ele se aliou ao PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin. Candidato ao Senado, renunciou à candidatura, no hospital, para se tratar da doença.
Vereador, deputado estadual, prefeito, senador, vice-governador e governador. Sempre concorrendo pelo voto direto, Orestes Quércia nunca perdeu uma eleição até 1986, quando saiu do terceiro lugar nas pesquisas para vencer Antônio Ermírio de Morais e Paulo Maluf na disputa do pelo Palácio dos Bandeirantes. Fez o seu sucessor, Luiz Antônio Fleury Filho, em 1990, mas daí para a frente só amargurou derrotas - ao se candidatar a presidente da República em 1994, a senador em 2002 e, mais duas vezes, a governador, em 1998 e em 2006. Podia perder, mas não desistia.
Paulista de Igaçaba, então distrito de Pedregulho, na região de Franca, era um caipira do interior, como gostava de se definir, orgulhoso de suas raízes, mesmo quando já era um empresário rico e político de prestígio. Dividia o tempo entre seus apartamentos de Campinas e da capital paulista, mas não esquecia a roça, suas lavouras de café e suas cabeças de gado. Os investimentos imobiliários e a aposta nos meios de comunicação - jornais, rádios e TVs - vieram com o tempo, no ritmo da ascensão na vida pública. Daí as suspeitas de irregularidades, as acusações de desvios de recursos, as denúncias de enriquecimento ilícito. Enfrentou a onda de processos judiciais como se fosse campanha dos adversários.
Descendente de imigrantes italianos, Quércia nasceu em 18 de agosto de 1938, filho de Otávio e Isaura, pequenos comerciantes em Igaçaba, de onde se mudaram sucessivamente Pedregulho, Franca e Campinas. Começou a trabalhar cedo, aos sete anos de idade, como atendente no armazém da família. Depois foi fazer arreios na selaria do pai. Improvisou uma oficina para recuperar e revender bicicletas quebradas, início de sua trajetória empresarial. Trabalhou como escriturário, locutor de rádio e repórter de jornal, juntando economias para iniciar seus próprios negócios. Fundou a firma Irmãos Quércia para exploração de dois armazéns em Campinas e, em seguida, se lançou no ramo de imóveis, que se tornaria sua principal atividade.
Vereador aos 25 anos pelo Partido Libertador (PL), cargo então não remunerado, mergulhou de vez na política. Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica, foi eleito deputado estadual já pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que ajudou a fundar em Campinas. Fez dobradinha com Ulysses Guimarães e obteve 14.800 votos. Em 1968, foi eleito prefeito de Campinas (43.500 votos). Investiu na construção de casas populares, asfaltamento de ruas em bairros e obras sociais.
Foi nessa época que sua família, para a qual havia transferido a administração dos negócios, comprou a Fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Pedregulho, para cultivo de café e criação de bois nelore. Nos últimos anos, apostou na qualidade dos de cafés especiais, apesar da descrença geral de amigos. Plantou seis milhões de pés de café especial no norte do Estado e lançou um plano para instalação de 11cafeterias - as lojas Otavio's , nome dado em homenagem ao pai - começando por São Paulo e Nova York. No ramo das comunicações, Quércia foi dono de emissoras coligadas do SBT em Campinas e em Santos. Foi sócio de emissoras de rádio e proprietário de jornais em Campinas e na capital.
Suspeitas e indícios de corrupção administrativa, tanto na Prefeitura de Campinas como no governo de São Paulo, atribularam sua carreira ao longo dos anos. Foi acusado de desviar mourões do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para construir cercas em sua fazenda de Pedregulho, de importar sem licitação equipamentos eletrônicos de Israel para a polícia, de superfaturar obras do metrô e de ter cometido irregularidades na privatização da Vasp.
Quércia abriu estradas, investiu no saneamento básico, inaugurou linhas de metrô, mas endividou o Estado e saiu do governo sob acusação de ter quebrado o Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Seu nome virou sinônimo de corrupção, mas ele não se abalou. "Foi perseguição política, como ficou provado na Justiça", defendeu-se. Seus bens chegaram a ser bloqueados, mas ele conseguiu se livrar. Era presidente do PMDB em 1991, quando o então governador do Paraná, Roberto Requião, seu companheiro de partido, lançou o serviço telefônico Disque Quércia (depois Disque Corrupção), para receber denúncias contra ele.
Quércia teria um patrimônio estimado em mais de US$ 50 milhões. Ao se candidatar a senador em 2010, ele declarou à Justiça Eleitoral que seus bens somavam R$ 117 milhões. Apesar de sua riqueza, Orestes Quércia sempre teve um estilo simples de vida. Homem caseiro, gostava de passar os fins de semana com a família - a mulher Alaíde, médica, e quatro filhos. Fiel aos amigos e assessores, aos quais ajudava em casos de doença e de aperto financeiro, tentava reaproximar-se dos adversários, esquecendo divergências do passado. "O Requião hoje é meu amigo", disse ele em 1994, depois de explicar como um equívoco a campanha "Disque Corrupção", que o então governador do Paraná fez contra ele.
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