Outro lado
Advogados negam que seus clientes tenham relacionamento ilícito
A defesa do ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa entrou na sexta-feira com novos pedidos de habeas corpus para o ex-executivo da estatal, preso desde o último dia 20 de março, pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. O advogado Fernando Fernandes pediu ainda a nulidade dos documentos apreendidos pela PF relacionando o ex-diretor ao doleiro Alberto Youssef, principal investigado da operação. "Os documentos foram apreendidos na mesa do advogado da empresa, mas a lei garante a inviolabilidade dos arquivos de advogados", afirma Fernandes. "Esses documentos não podem ser usados para a investigação, e ainda assim, eles não trazem qualquer ligação do Paulo Roberto com o doleiro [Alberto Youssef]. São apenas ilações da Polícia Federal." O advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Bastos, afirma que seu cliente tinha interesse de adquirir um porcentual do laboratório Labogen como sócio-investidor. Bastos confirma que Youssef procurou o deputado André Vargas, mas descarta crime de tráfico de influência. "Conversar com político não é crime", diz ele. Em pronunciamento na Câmara, Vargas classificou o voo no jatinho de Youssef como "equívoco". Ele afirmou ainda que nunca intermediou nenhum contato do Ministério da Saúde com o Labogen.
US$ 37 milhões teriam sido enviados irregularmente por Alberto Youssef para fora do país, utilizando a Labogen, segundo a PF.
Tudo parecia uma grande trapalhada da Petrobras. Descobriu-se que, em 2006, a estatal pagou US$ 360 milhões por 50% de uma refinaria que foi comprada um ano antes por US$ 42,5 milhões. À época, quem autorizou a compra foi a presidente Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da empresa. Segundo a presidente, o negócio só foi fechado porque ela teria se baseado em um parecer "falho".
INFOGRÁFICO: Conheça a rede de relacionamentos do doleiro Alberto Youssef
A compra está sendo investigada pela Polícia Federal (PF), que suspeita de superfaturamento. No Congresso, a oposição pede para criar a CPI da Petrobras. Os problemas com a estatal já são pintados como a grande dor de cabeça da gestão Dilma nesse último ano de mandato. Especialmente porque o caso da refinaria de Pasadena tem mostrado uma capacidade única de desdobramento de crises.
Tome-se o exemplo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Um dos responsáveis pela elaboração do parecer considerado falho por Dilma, ele foi preso no mês passado na Operação Lava Jato, deflagrada pela PF para combater lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Costa tem ligações com partidos políticos e ganhou destaque na estatal devido a sua ligação com o ex-
deputado federal paranaense José Janene (PP), morto em 2010 e envolvido no mensalão. Foi Janene quem indicou Costa à diretoria da Petrobras, ainda no governo Lula.
Para a PF, Costa tinha uma espécie de sociedade com o doleiro Alberto Youssef, também preso na Lava Jato. Youssef, também ligado a Janene, teria presenteado o então diretor da Petrobras com uma Land Rover. A investigação da PF sugere que Costa e Youssef tinham uma ampla parceria financeira. "Os documentos retratados na representação sugerem a existência de uma conta corrente dele [Costa] com o doleiro, contas comuns no exterior e a entrega de relatórios mensais da posição dele com o doleiro e com pagamentos em haver para ele e para terceiros, alguns deles também relacionados a negócios envolvendo a Petrobras", diz um dos relatórios da Lava Jato, divulgado pelo jornal O Globo.
De Youssef chega-se ao vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR). O parlamentar admitiu ter voado em um jatinho pago pelo doleiro. Em pronunciamento na Câmara, tratou do caso como "imprudência". Mensagens em posse da PF, no entanto, revelam que Youssef buscava de Vargas uma ponte no Ministério da Saúde. O doleiro queria que o ministério contratasse serviços do Labogen (um pequeno laboratório farmacêutico localizado no interior de São Paulo). Para a PF, Youssef utilizou o laboratório para enviar US$ 37 milhões para o exterior.
A ponte entre Janene e Vargas não se resume à relação com Youssef. Depois da morte do deputado do PP, Vargas avançou sobre sobre cidades da base eleitoral de Janene no Norte do Paraná. Coptou também alguns de seus operadores políticos. Um ex-assessor de Janene, por exemplo, era o chefe de gabinete de Vargas, recebendo um salário de R$ 15 mil. O assessor foi exonerado na terça-feira, quando o jornal Folha de S.Paulo revelou que o petista havia utilizado o jato bancado por Youssef.
Colaborou Raphael Marchiori.
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