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“A Receita é uma instituição de Estado. Não estamos ali para atender governo A, B ou C. Essa é nossa posição.”Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal | Antônio Cruz/ABr
“A Receita é uma instituição de Estado. Não estamos ali para atender governo A, B ou C. Essa é nossa posição.”Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal| Foto: Antônio Cruz/ABr

A versão

O que a ex-secretária da Receita Federal disse na comissão do Senado:

O trajeto

– Saiu do prédio da Receita Federal no carro oficial que atende ao secretário.

– No Planalto, entrou pela garagem.

– Ao sair do carro, passou por um bureau com um atendente, a quem informou seu nome e seu encontro no gabinete da Casa Civil.

– Passou por um detector de metais, onde encontrou mais uma pessoa.

– Entrou no elevador e subiu até o 4º andar.

– Chegou ao andar e foi recebida pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.

– Erenice disse que Dilma estava atendendo uma pessoa e pediu que Lina aguardasse numa sala.

– Lá estavam outras duas pessoas. Tomou café.

– Erenice conduziu-a ao gabinete onde estava Dilma.

– Conversaram rapidamente; Dilma comentando sobre a importância de ter uma mulher chefiando a Receita e pediu que a Receita agilizasse a investigação sobre o filho de Sarney.

– Lina não falou nada e despediu-se.

– Erenice acompanhou-a de volta até o elevador, de onde seguiu para a garagem.

Os furos

– Lina não se lembra da data e horário exatos do encontro.

– Não sabe detalhar a sala onde esperou para encontrar com Dilma.

– Tampouco diz como é o gabinete da ministra.

– Não precisa a duração da reunião.

– Dilma negou ter se encontrado com Lina, disse que nunca tratou sobre o assunto com ela e refutou ter tido ingerência na demissão da ex-secretária, em julho deste ano.

BRASÍLIA - A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira disse ontem que aceita participar de acareação com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Senado para esclarecer o encontro que tiveram no ano passado – quando Dilma teria lhe pedido para agilizar as investigações sobre familiares do senador José Sarney (PMDB-AP).

Em depoimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Lina Vieira disse que está disposta a sentar lado a lado da ministra para apresentar sua versão dos fatos. "Estou disposta a qualquer coisa que possa ajudar a esclarecer (o encontro)", afirmou.

Lina Vieira prestou depoimento por mais de três horas à CCJ e confirmou a versão revelada ao jornal Folha de S.Paulo de que Dilma lhe pediu para agilizar as investigações da Receita sobre a família Sarney. Ao encerrar o depoimento, a ex-secretária disse que fala a verdade e está disposta a provar a sua versão dos fatos – uma vez que o encontro é negado por Dilma.

"Eu não mudo a verdade no grito, nem preciso de agenda para dizer a verdade. A mentira não faz parte da minha biografia", afirmou.

A ex-secretária classificou o pedido da ministra de "incabível". "Eu só achei o pedido da ministra incabível porque a Receita trabalha com critérios. Não há necessidade de ninguém pedir nada para a Receita. A Receita é uma instituição de Estado. Não estamos ali para atender governo A, B ou C. Essa é nossa posição. É incabível porque a Receita trabalha com informações impessoais", afirmou.

Lina disse que, depois que Dilma lhe pediu para agilizar as investigações sobre a família Sarney, retornou à Receita Federal para analisar o processo, mas constatou que a Receita já havia acelerado as investigações a pedido do Poder Judiciário.

A ex-secretária disse que dois servidores da Casa Civil, um homem e uma mulher, a viram entrar no gabinete de Dilma no final do ano passado. "Eu não sou fantasma, eu tomei café, me serviram café. Certamente há registros de que eu estive lá", afirmou.

Apesar de Dilma negar o encontro, Lina Vieira apresentou detalhes de sua conversa com a ministra. "Cheguei no quarto andar do palácio, não tinha ninguém me recebendo. Veio a Erenice Guerra (secretária-executiva da Casa Civil), fui para sala onde estavam duas pessoas e ali fiquei aguardando. Eu não perguntei o nome dessas pessoas. Tomei uma água, um café. Não demorou muito. Dali eu saí e fui para a sala da ministra conduzida pela Erenice. Nós conversamos amenidades. Como foi muito rápido, eu não me lembro dos móveis, ela só me fez esse pedido. Foi simpática", afirmou.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) disse que o partido vai esperar Dilma se manifestar sobre as declarações de Lina Vieira antes de apresentar o requerimento com o pedido de convocação da ministra. "Vamos ver a repercussão do depoimento para avaliar com o partido. Na CPI está difícil de aprovar os requerimentos", afirmou.

A base aliada do governo, por sua vez, não vê necessidade de Dilma comparecer ao Senado para explicar sua versão do encontro com Lina – que a ministra nega ter ocorrido. O senador Renato Casagrande (PSB-ES) considerou como "frágil" o fato de Lina Vieira não ter conseguido mostrar aos senadores o dia em que teria se encontrado com Dilma, no final de 2008.

"O que me estranhou é que não houve capacidade dela comprovar o dia da reunião. Esse foi o ponto frágil do seu depoimento. Também achei estranho o diálogo que ela teria travado com a ministra, já que não perguntou nenhum detalhe para a Dilma sobre as investigações", disse Casagrande.

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) disse estar convencido, após o depoimento de Lina Vieira, que o encontro da ex-secretária com Dilma não ocorreu. "Eu não posso julgar nem entender as mulheres. Mas eu tenho certeza que esse encontro não aconteceu", disse.

Os governistas deixaram a sessão convencidos de que Lina Vieira não apresentou provas suficientes para comprovar que se encontrou com a ministra no final do ano passado em seu gabinete na Casa Civil.

A oposição, por sua vez, disse que a ex-secretária apresentou elementos suficientes para mostrar que a Dilma faltou com a verdade ao negar o encontro. "Eu acho que ela foi bastante convincente, me pareceu consistente. Acho que falou a verdade", disse Demóstenes.

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