Empresa faz doação para vários candidatos
Algumas empresas adotaram a estratégia de doar dinheiro a vários políticos. A Ouro Verde Transporte e Locação, por exemplo, doou R$ 19,9 mil para 13 eleitos, que receberam entre R$ 500 e R$ 8 mil cada um. Entre os beneficiados estão cinco dos sete componentes da Mesa Executiva da Câmara. Oito partidos foram beneficiados pela empresa, que tem contrato com a Câmara cada vereador dispõe de um veículo locado pela Ouro Verde.
A lista de doadores da campanha eleitoral de 2008 pode dar uma boa pista sobre as bandeiras que os 38 vereadores de Curitiba devem defender a partir de hoje, quando começam as atividades da Câmara Municipal em 2009.
O vereador Sérgio Renato Bueno Balaguer (PSDB), apelidado de Serginho do Posto, por exemplo, recebeu doações de 12 postos de combustíveis, que somaram cerca de R$ 8 mil. Ele está ligado à categoria há 18 anos. Durante 14 anos, gerenciou um posto de gasolina e conta que resolveu se candidatar em 2004 porque o bairro onde morava, o Cajuru, não tinha representante. E diz que, na Câmara pretende regularizar o setor. Um dos projetos de lei que promete apresentar prevê a cassação do alvará de postos que vendem combustível adulterado.
Na votação do projeto de lei que proibia a venda de bebida alcoólica em postos, Serginho foi contra. "Por achar que ela não tinha efeito constitucional, votei contra na época. Achava que o projeto estaria cerceando o direito privado dos donos de postos de comercializar a bebida. O dono do posto é penalizado, mas o cachorro-quente em frente acaba vendendo", afirma. O vereador afirma que, na hora de votar um projeto, sempre analisa a questão técnica.
No total, Serginho arrecadou R$ 69 mil. E defende que a quantia recebida dos postos, que seriam de amigos, é pequena se comparada com o total de doações que recebeu. "Não foram patrocinadores. Foram amigos."
Vigilância
O eleito Emerson do Prado (PSDB), por sua vez, recebeu grande apoio das empresas de vigilância. A Segline Segurança e Vigilância doou R$ 61 mil, e a Centronic Segurança e Vigilância mais R$ 23 mil. Juntas, as duas responderam por 38% dos R$ 222,6 mil arrecadados pelo vereador. Emerson diz que as duas empresas ajudaram porque os proprietários são seus amigos.
De todo modo, o setor de vigilância será uma das prioridades no seu mandato, segundo ele. "É importante regularizar (o setor). O caso Centronic deu toda essa repercussão porque era empresa conceituada e foi fácil, quando deu problema, de encontrá-la. É diferente das (empresas) clandestinas." Em 2007, dois vigilantes da empresa foram acusados de matar umjovem.
No ano passado, Emerson acompanhou como visitante a votação de um projeto da então vereadora Roseli Isidoro, que tornava mais rigorosa a emissão de alvarás para empresas de segurança privada. O projeto rejeitado pelo plenário previa que o alvará de funcionamento só seria expedido depois que as empresas apresentassem o número da licença, liberada pela Polícia Federal. Emerson não revela como votaria no plenário, dizendo que não leu o projeto. "Sou vereador da cidade de Curitiba. Não sou da Centronic nem da Segline."
Sindicato
O vereador Denilson Pires (DEM) recebeu doação de cinco integrantes da diretoria do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), do qual é presidente. "Passei o pinico e bati de porta em porta." Os diretores João Carlos da Rosa, Valdecir Bolette, João Carlos Mesquita, Dirceu Galvão e Ana Ilibia Grein doaram juntos R$ 22,7 mil para Denilson.
Questionado sobre como motoristas e cobradores de ônibus teriam condições de doar a quantia, o vereador explica que os colegas ganham dois salários: do sindicato e das empresas em que trabalham. Alega que são amigos que economizaram, assim como ele. Denilson colocou na campanha R$ 74 mil quantia que teria poupado ao longo de dez anos, desde que está a frente do sindicato. Além disso, vendeu imóveis e pegou dinheiro emprestado.
Como teria recebido metade dos votos de sua categoria profissional e a outra metade de moradores do seu bairro, o Sítio Cercado, diz que vai focar sua atuação na Câmara nesses dois públicos. "Pretendo trabalhar em leis que beneficiem a população", promete.
O presidente da Câmara Municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), explica que ou o vereador é regionalizado, como é o caso dele, ou representa determinado setor. E, quanto mais forte e organizado o setor, maior a possibilidade de a organização investir em determinado candidato.
Outros exemplos de vereadores que representam públicos "segmentados" são Noêmia Rocha (PMDB), Pastor Valdemir Soares (PRB) e Mara Lima (PSDB), ligados a igrejas evangélicas. Além disso, há sindicalistas, como os petistas Pedro Paulo e Professora Josete.
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