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O livro-caixa do doleiro Vivaldo Alves, que trabalhava para a família de Paulo Maluf, comprova uma movimentação milionária do ex-prefeito de São Paulo no exterior. O documento entregue à Polícia Federal, registra as movimentações da conta Chanani, aberta no Safra National Bank de Nova York e é considerado fundamental para estabelecer a ligação entre o desvio de dinheiro dos cofres da prefeitura de São Paulo e divesos beneficiários no exterior.

No livro caixa de Vivaldo, as anotações a mão identificam a origem de depósitos na conta Chanani. As iniciais MJ seriam referentes à empreiteira Mendes Júnior, que fez diversas obras em São Paulo durante a gestão de Maluf na Prefeitura e é acusada de fazer diversos depósitos na conta da família do ex-prefeito. Segundo Vivaldo, os depósitos seriam pagamentos de propina.

Os valores do livro-caixa do doleiro Vivaldo Alves conferem exatamente com os registros do ex-tesoureiro da Mendes Júnior entregues ao Ministério Público e também com os valores que aparecem nos extratos bancários da conta Chanani no banco Safra de Nova York.

Segundo esses extratos, em um ano e meio a conta movimentou US$ 164 milhões.

O doleiro Vivaldo Alves fez questão de apresentar farta documentação em seu depoimento à PF. É assim que ele pretende reforçar as denúncias que faz. Entre a documentação entregue aos policiais estão as fichas de abertura da conta Chanani no Safra National Bank, realizada em outubro de 1997. A Chanani é a principal conta da família Maluf operada pelo doleiro.

Outros documentos do banco mostram sete transferências da Chanani, no valor de US$ 840 mil cada uma, para a Heritage Finance Trust. Segundo Vivaldo, são pagamentos ao publicitário Duda Mendonça pelo trabalho realizado na campanha de Maluf a governador de São Paulo, em 1998.

Com autorização judicial, conversas do gerente do Safra de Nova York foram gravadas no dia do depoimento dele na Polícia Federal.

- Eles entendem tudo. Estão há anos nesse negócio de Maluf - diz o gerente, em conversa com uma interlocutora não identificada.

- E já sabem de toda a história, de tudo o que aconteceu? - pergunta ela.

- De tudo, e só querem pescar as provas, entendeu? Eu sou tão mixo!Tem tanta gente poderosa! - afirma o gerente.

As operações bancárias da família Maluf em contas no exterior era mantidas em segredo e, por isso, eles estavam muito preocupados com o que Vivaldo Alves poderia falar em depoimento à PF, como mostra gravações de conversas telefônicas feitas com autorização da Justiça.

Numa delas, Paulo Maluf conversa com seu advogado José Roberto Leal.

- O cara já depôs ou não? - pergunta o ex-prefeito.

- Não, vai depor amanhã - diz o advogado.

- E como é que vai controlar isso? - questiona Maluf.

- Olha, a forma é outra, que eu não sei ainda qual é - admite Leal.

Em outra conversa gravada, Maluf revela sua preocupação a seu filho Flávio.

- Você acha que ele vai incriminar quem nós não queremos que incrime? - pergunta Maluf.

- Não, eu acho que a chance de ele não falar nada, eu acho boa, entendeu? - afirma, confiante, Flávio.

Flávio liga para Vivaldo e faz "garantias" ao doleiro.

- Como vai, tá se preparando aí? - pergunta Flávio Maluf.

- Não, ficou para amanhã - diz Vivaldo.

- Hum, ótimo. Ganhou um dia a mais. Não esqueça de nossa conversa, entendeu? Eu te garanto, entendeu? É o melhor aí pra você. Te garanto. Te garanto. Você entendeu? Confia em mim que eu tenho certeza do que tô falando - afirma Flávio.

Flávio então instrui o advogado da família, José Roberto Leal, a telefonar para o advogado de Vivaldo, Fábio Lobo, e fazer uma proposta.

- Se você, quem sabe, puder ligar para o Fábio, liga "Fábio, olha Fábio, você pode ficar absolutamente tranqüilo, entendeu? Estamos nisso há vários anos, entendeu? - diz o filho de Paulo Maluf.

O advogado de Vivaldo, Fábio Lobo, conta a seu cliente o que aconteceu e se diz indignado.

- Eu te liguei pra te dizer uma coisa, posso dizer? - pergunta Fábio - Eles me procuraram. Fizeram uma proposta indecente. Parte do pressuposto que eu sou mau caráter e que eu sou venal - afirma.

Em nota divulgada nesta terça0feira, o ex-prefeito Paulo Maluf voltou a afirmar que foi vítima de extorsão por parte do doleiro, que nega a acusação. Maluf diz ainda que, nas conversas gravadas pela polícia, não há uma só palavra que o incrimine ou ao seu filho.

Ao final da nota, Paulo Maluf afirma não acreditar que "qualquer representante da Justiça brasileira se renda à pirotecnia política praticada ao arrepio da lei para decretar a prisão preventiva de quem sempre esteve democraticamente a disposição para prestar esclarecimento."

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