Novo advogado de Fernando Baiano descarta delação
O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, não irá aderir ao benefício de delação premiada, como fizeram outros investigados pela Operação Lava Jato. O advogado dele, Nélio Machado, assumiu o caso de Baiano e anunciou que vai recorrer a uma estratégica "clássica" de defesa. Machado não trabalha com clientes que firmam acordo de delação premiada e, por isso, abandonou a defesa do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa que, no ano passado, comprometeu-se a denunciar a corrupção na petroleira em troca de redução da pena. Baiano, preso na sede da Polícia Federal de Curitiba desde novembro, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por supostamente ser o operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras.
Estadão Conteúdo
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal (PF) , que o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, atuou na diretoria de Gás e Energia da Petrobras como intermediário de empresas privadas que queriam fazer negócios com a estatal.
Essa diretoria foi comandada pela atual presidente da Petrobras, Graça Foster, entre 2007 e 2012, e antes dela por Ildo Sauer, entre 2003 e 2007. Ambos foram indicados pelo PT. Segundo Cerveró, Baiano também teria atuado na diretoria de Abastecimento, que era comandada por Paulo Roberto Costa, delator da Lava Jato.
No depoimento, Cerveró não afirmou que os negócios intermediados por Baiano seriam ilegais. A declaração, porém, levanta a suspeita de que o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato teria ocorrido na diretoria que foi comandada por Graça. A PF e o Ministério Público Federal (MPF) não têm provas de que tenham havido desvios de verba nessa diretoria. Mas já concluíram que houve corrupção na outra diretoria citada por Cerveró, a de Abastecimento.
No depoimento, Cerveró disse ainda que conheceu Baiano por volta do ano 2000, quando o lobista representava empresas espanholas do ramo de energia térmica. Segundo o ex-diretor, Baiano continuou frequentando a estatal mesmo depois de fechar um acordo de assistência com uma das empresas representadas por ele, a Union Fenosa.
Sem especificar datas, Cerveró disse que Baiano permaneceu na estatal a partir de então "representando outras empresas, tendo se dirigido a outras diretorias, como a diretoria de Abastecimento e Gás e Energia". O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, acrescentou à fala do cliente que Fernando Baiano frequentava as diretorias para tentar fechar negócios.
Segundo as investigações, Baiano seria um dos operadores do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro investigado na Lava Jato. Ele seria ligado a políticos do PMDB.
Cerveró citou nominalmente Graça Foster apenas uma vez em seu depoimento. Ao ser perguntado sobre as "declarações da imprensa" envolvendo-a, respondeu que "a atual presidente da Petrobras realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela". Um dos motivos para a prisão de Cerveró, anteontem, foi a tentativa de repassar apartamentos para parentes. Segundo ele, seria uma antecipação de herança. Para a PF, uma tentativa de blindar o patrimônio de uma eventual condenação para devolver dinheiro aos cofres públicos.
Mesma cela
Cerveró e Baiano estão presos na mesma cela da carceragem da PF em Curitiba. O lobista foi detido em novembro de 2014, na deflagração da sétima fase da Lava Jato.
Segundo o MPF, os dois teriam recebido US$ 40 milhões em propina para que a Petrobras contratasse navios-sonda da empresa Samsung Heavy Industries em 2006 e 2007. O ex-diretor negou ter recebido recursos, mas alegou acreditar que Baiano "recebesse algum tipo de comissão". Segundo a denúncia do MPF, parte da propina, de US$ 3,1 milhões, teria sido lavada e remetida ao exterior pelo doleiro Alberto Youssef. No depoimento, Cerveró afirmou que viu Youssef pela primeira vez na carceragem da PF.
O advogado de Baiano, Mário de Oliveira Filho, não foi localizado. Em outras ocasiões, ele negou irregularidades. A Petrobras não respondeu à reportagem.
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