O lobista Fernando Moura disse nesta quinta-feira ter mentido durante depoimento à Justiça do Paraná. Na última sexta-feira, ao juiz Sergio Moro, o lobista disse que a indicação de Renato Duque não teria partido do ex-ministro José Dirceu. Ele manteve a versão de sua delação premiada em que garante que o petista participou da escolha de Duque. A mudança do depoimento pode alterar a estratégia de defesa do ex-ministro, que usaria a versão dada por Moura à Justiça semana passada para minimizar o papel do petista na escolha do diretor de Serviço. da estatal.
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Moura disse que mentiu porque recebeu uma ameaça velada às vésperas do seu depoimento à Justiça. A atitude dele põe em risco o acordo de delação que está sendo revisto pela força tarefa da Lava Jato.
“Errei feio. Errei muito feio“, disse ele, ao afirmar aos procuradores que havia mudado sua versão no depoimento a Moro.: “Todo o acordo de delação premiada que assinei integralmente está correto. Apesar de ter afirmado ao juiz Sergio Moro que não tinha lido e assinado. Eu confirmo ele na íntegra.
O lobista voltou a ser ouvido ontem nesta quinta-feira pelo Ministério Público Federal em um procedimento de apuração de violação do acordo. Aos investigadores, Moura pediu desculpas por colocar a credibilidade da Lava Jato em xeque.
O lobista havia dito ao juiz não ter falado nada do que estava na delação. .
“Falei isso?”, questionou Moura.
Moro disse que sim e o lobista respondeu rindo:
“Assinei isso? Se eu falo e depois é colocado no papel, eu nem leio. Eu até pergunto para o advogado, é isso aqui?”.
Além da versão sobre a indicação de Duque, Moura também mudou seu depoimento em relação a outra informação que deu ao juiz. Na sexta-feira, ele dissera ao moro que Dirceu nunca o orientou a sair do Brasil na época do mensalão, quando ele seria chamado na CPI para falar do caso.
Na quarta-feira, no entanto, ele disse ter recebido “uma dica” do ex-ministro para fugir.
“Fiquei quatro meses fora “, disse ele.
Moura tentou justificar a ação afirmando que se sentiu ameaçado quando passava por uma rua em Vinhedo, no interior de São Paulo. Ele foi abordado por um desconhecido que perguntou como estavam os seus netos:
“Eu interpretei que houve uma ameaça velada dessa pessoa. De alguém envolvido neste processo”,l relatou.
Ao ser interrogado sobre quem o teria ameaçado, o lobista não soube dizer. Ele relatou aos investigadores que, desde que foi deflagrada a 17ª fase da Lava Jato, batizada de Pixuleco, só uma pessoa o procurou para falar sobre o caso.
Segundo ele, Roberto Marques, ex-assessor de Dirceu, pediu para que ele não citasse a participação do ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira, no esquema. O pedido teria sido feito quando os dois dividiram cela em Curitiba.
“Tinha um pedido para não falar do Silvio. E quem pediu foi o Roberto Marques.”
O lobista deve voltar ao banco dos réus hoje em novo depoimento a Moro a pedido do MPF. Diante da mudança de versão, seus advogados renunciaram à defesa.
Além do lobista, o juiz Sergio Moro vai ouvir na sexta-feira à tarde o depoimento de Dirceu e do ex-vice-presidente da Engevix, Gersón Almada.
Ainda nesta quinta-feira, a defesa de Dirceu tentou, sem sucesso, adiar o depoimento do ex-ministro a Moro. O advogado Roberto Podval encaminhou uma petição pedindo para saber se Renato Duque está fazendo delação premiada. Podval alega que as supostas informações do ex-diretor da Petrobras poderiam influenciar no depoimento de Dirceu. Moro negou, afirmando que não se pode dar publicidade das negociações ou delações antes de homologadas na Justiça.