O empresário Fernando Moura disse em depoimento de colaboração premiada que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sugeriu que ele saísse do Brasil no final de 2004, época do escândalo do Mensalão. Moura contou aos investigadores que passou alguns meses em Paris na casa de uma amiga depois de “receber a dica de José Dirceu para cair fora”. A partir de 2006, de acordo com Moura, ele passou a receber uma “mesada” de R$ 100 mil para se manter no exterior.
Entre o fim de 2004 e o fim de 2005, segundo o empresário, “ninguém o ajudou com nenhum tostão”, mas quando voltou ao Brasil, no fim de 2005, Moura cobrou ajuda dos empresários das empresas Hope e Personal, que tinham contratos com a Petrobras graças ao seu “auxílio”.
Moura contou aos investigadores da Lava Jato que os envolvidos no esquema do Mensalão evitavam qualquer contato com ele por causa de matérias a seu respeito que circulavam na imprensa nacional. “Por esse motivo a única alternativa do declarante era acertar um cala a boca para ficar fora do país até a poeira baixar”, disse o empresário em depoimento.
O valor de R$ 100 mil mensais foi estipulado pelo operador Milton Pascowitch e pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. “O dinheiro vinha dos contratos da Hope e da Personal, que eram operados por Milton Pascowitch”, disse Moura. Com o dinheiro, o empresário contou que comprou um apartamento em Miami Beach, na Flórida, e um carro de luxo.
O empresário disse que recebeu o valor do início de 2006 até 2010, “quando Milton mandou um recado avisando que o valor de R$ 100 mil ia baixar para R$ 60 mil”. Os pagamentos ocorreram ainda até o início de 2013, quando “eles [Duque e Pascowitch] encerraram o pagamento do cala boca”.
Depois de perder o repasse, Moura disse que resolveu voltar ao Brasil porque tinha “medo de morrer longe da família” e tinha “vontade de ficar mais próximo aos netos”. Segundo o depoimento, o empresário enfrentava problemas de saúde e chegou a tratar um câncer de pele nos Estados Unidos e um câncer na tireoide no Brasil, além de tratar um problema de refluxo vascular que o obrigou a tirar a safena da perna direita.
Fernando Moura é amigo pessoal do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) e foi preso na 17.ª fase da Operação Lava Jato. Ele é apontado como responsável por apresentar o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque a Dirceu, que foi o responsável pela indicação de Duque ao cargo.