Juiz usou parentesco com Richa para justificar a prisão especial de Luiz Abi
- Londrina
- Fábio Calsavara, do Jornal de Londrina
O parentesco entre Luiz Abi Antoun e o governador Beto Richa (PSDB) foi a razão apresentada pelo juiz Katsujo Nakadomari, responsável pelo caso, para que o empresário fosse transferido da Unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 2) para uma sala reservada no Batalhão do Corpo de Bombeiros de Londrina. A afirmação foi confirmada em uma entrevista por telefone do juiz da Vara de Execuções Penais (VEP) à reportagem. Segundo Nakadomari, a transferência não é um privilégio, mas uma medida tomada para garantir a segurança do primo do governador. “É uma cautela que nós tomamos. Isso é para garantir a segurança do custodiado. Ele não terá qualquer privilégio. Continua preso e as visitas serão todas monitoradas e autorizadas apenas com ordem judicial”, explicou o juiz. Pela lei, Luiz Abi teria no máximo direito a cela especial dentro da PEL. A lei prevê que presos provisórios com diploma de curso superior têm direito a cela especial. Já os advogados, quando estão presos provisoriamente, têm direito a sala de Estado Maior. No caso de Londrina, como não há sala de Estado Maior em condições de receber esses presos, os advogados detidos vão para o Corpo de Bombeiros. A opção de manter Abi em uma cela isolada dentro da penitenciária foi descartada. “A transferência se deu por esse parentesco e pelo momento político que não é muito apropriado para o governador”, disse Nakadomari. “Em caso de uma rebelião, ele seria um dos primeiros a serem procurados pelos presos.”
O empresário Luiz Abi Antoun, primo do governador Beto Richa (PSDB), teve atuação direta na fraude que possibilitou que a oficina Providence Auto Center fosse contratada de forma emergencial pelo governo do Paraná para consertar os veículos oficiais do estado na região de Londrina. Além disso, Abi é um dos verdadeiros donos da oficina, embora não apareça entre os sócios formais.
Essas são duas das principais constatações a que chegou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço policial do Ministério público que está investigando o caso.
O contrato é de R$ 1,5 milhão, tem seis meses de duração e ainda há suspeitas de que o serviço era superfaturado. Oficialmente, o dono da Providence é Ismar Ieger, que até o fim de 2013 trabalhou como mecânico em duas oficinas da cidade. Uma delas é a Montavel, que consertava os carros do governo até dezembro do ano passado, quando a Providence foi contratada. Ieger é considerado “laranja” de Abi pelo Gaeco.
Além de Abi e Ieger, estão presos o advogado José Carlos Lucca, Roberto Tsuneda (sócio minoritário de Abi em outra empresa) e o empresário Paulo Roberto Midauar. Ernani Delicato, ex-diretor do Departamento de Transporte (Deto), órgão da Secretaria Estadual de Administração que é responsável pela frota do governo, está foragido. Ele deixou o Deto em fevereiro, quando assumiu um cargo no Ministério da Agricultura.
As investigações identificam que Ieger tinha pouca autonomia para gerenciar a Providence ou para tratar de assuntos financeiros da empresa. A oficina foi criada em março de 2013, com um capital social de R$ 100 mil. Além do contrato emergencial, outro objetivo do grupo era tornar a Providence uma das 220 oficinas credenciadas em todo o Estado pela JMK Serviços, a empresa curitibana que ganhou a licitação para consertar os carros oficiais. O contrato é de R$ 57 milhões.
O esquema
Conforme as investigações, seguindo a orientação de Abi, Midauar procurou Delicato para tratar da contratação da Providence pelo governo. Deliberadamente, Delicato não renovou o contrato com a Montavel e nem deu início a um novo processo licitatório para contratar uma nova empresa, o que forçou a contratação emergencial.
Para o Gaeco, o papel de Lucca no esquema foi orientar juridicamente o processo licitatório, já que ele é advogado. As investigações apontam ainda que Ieger teria forjado as propostas apresentadas por outras duas oficinas que disputaram o contrato emergencial. Os investigadores avaliam que o ex-diretor do Deto não só permitiu que a apresentação das propostas forjadas fosse feita como também teve participação direta na fraude.
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