A provável nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma das pastas da Esplanada dos Ministérios foi o principal assunto no Congresso Nacional na terça-feira (15), mesmo em um dia tomado pela homologação e revelação integral do acordo de colaboração premiada do senador Delcídio do Amaral , no qual uma lista de políticos é implicada, de aliados próximos da presidente da República Dilma Rousseff a um dos seus principais opositores, o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
A nomeação do ex-presidente Lula é dada como certa, e poderia até ter sido oficializada nesta terça, não fosse a menção ao nome do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na delação do senador licenciado, obrigando o Planalto a administrar o episódio ao longo do dia.
Aliados amenizam o desgaste que deverá ser enfrentado em relação ao fato de o ex-presidente Lula, investigado no âmbito da Lava Jato, ganhar foro privilegiado a partir da nomeação. Eles têm repetido que a nomeação não evita eventual julgamento pelo Judiciário, mas tira o ex-presidente Lula das mãos de um “juiz justiceiro”, em referência ao juiz federal Sergio Moro, à frente dos processos da Lava Jato, levando o caso para uma Corte “mais equilibrada”.
Além disso, alegam aliados, o ex-presidente Lula teria capacidade para restaurar a base de sustentação do governo federal, barrando o processo de impeachment em curso contra a presidente Dilma na Câmara dos Deputados.
Para o Planalto, a articulação política será a principal missão do petista após sua nomeação. No Congresso Nacional, a possibilidade da nomeação já surte um efeito positivo: há uma certa unanimidade no apoio à volta do ex-presidente Lula.
“Ele tem traquejo político e boa capacidade de comunicação. A gente reconhece que o governo Dilma não comunica bem”, avalia o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).
Tanto o paranaense quanto o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), se esquivaram ao serem questionados pela reportagem sobre a possível mudança na agenda econômica do governo federal, já que o ex-presidente Lula abriu divergências no passado sobre as propostas implementadas na área pela presidente Dilma Rousseff.
A posição do ex-presidente Lula estaria mais em sintonia com a própria bancada do PT no Legislativo, que tem se dividido sobre o ajuste fiscal e rejeitado a reforma da previdência social ensaiada pelo Executivo federal.
Mobilização da oposição
A oposição anunciou que vai protocolar ações populares em todos os estados brasileiros, e no Distrito Federal, para tentar barrar liminarmente a nomeação do petista. No mérito, sustentam que há desvio de finalidade na nomeação e fraude, porque o cargo seria dado apenas para que ele escapasse da Justiça Federal do Paraná.
Além de apelar ao Judiciário, a oposição também classificou a volta de Lula como uma medida “desesperada” do governo federal, após as manifestações de rua realizadas no último domingo (13). Coordenadores de movimentos como Vem pra Rua, MBL e Revoltados On-Line, líderes do PSDB, DEM e PPS afirmaram que a nomeação é um “desrespeito” à população que foi às ruas contra o PT, o governo federal e a presidente Dilma.
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