O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu em depoimento ao Ministério Público do Distrito Federal que pode ter entregue ao então ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel uma carta de Cuba pedindo um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão que é subordinado ao ministério. O GLOBO obteve a íntegra do depoimento, no qual o ex-presidente nega ser consultor ou ter feito lobby para empreiteiras brasileiras no exterior.
A carta mencionada teria sido entregue a Lula pelo ministro do Comércio Exterior de Cuba, Rodrigo Mamierca, em 1º de junho de 2011, e pedia financiamento do BNDES para pequenos produtores cubanos.
No depoimento prestado na quinta-feira, o ex-presidente disse não se lembrar da carta, mas reconheceu que pode ter recebido e entregue a Pimentel. Tentou minimizar o ato dizendo que o ministro “não manda” no BNDES.
“Que com relação ao expediente 606/2011, não recorda de ter trazido uma carta do ministro do Comércio Exterior de Cuba, Rodrigo Mamierca, ao ministro brasileiro Fernando Pimentel; que caso tenha recebido a carta ela deve ter sido entregue ao destinatário; que apenas ressalta que seria estranho um pedido ao ministro Fernando Pimentel relativo a crédito para pequenos produtores; que de qualquer forma o BNDES é autônomo, independendo de quem encaminhe o pedido de análise; que o ministro de Indústria e Comércio não manda no BNDES”, registra extrato do depoimento de Lula.
O ex-presidente confirma que nessa viagem realizada nos meses de maio e junho de 2011 conversou com o presidente cubano Raul Castro “sobre a importância de garantir fontes de energia para o futuro parque industrial que Cuba pretende fazer” e sobre a “recuperação da industrial canavial” do país caribenho. Lula disse imaginar que a Odebrecht, que bancou sua viagem, tivesse interesse em investir em usinas de etanol em Cuba, mas que não tinha conhecimento de pedido específico de financiamento do BNDES para o setor sucroalcooleiro daquele país. Afirmou que sabia do interesse cubano de receber financiamento do banco de fomento brasileiro para a reforma do aeroporto de Havana, mas disse não ter feito qualquer reunião sobre o tema. Disse desconhecer mudança de entendimento dentro do Ministério do Desenvolvimento sobre o tema.
Depoimento espontâneo
O depoimento de Lula foi prestado espontaneamente e o procurador Ivan Cláudio Marx observou logo no início que o ex-presidente poderia ficar em silêncio, se assim desejasse, uma vez que é investigado. Lula afirmou logo no início ser “responsabilidade” de um ex-presidente defender o interesse de empresas brasileiras pelo mundo e citou o norte-americano Bill Clinton e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair como exemplos. Afirmou que as empresas brasileiras levam a bandeira do país ao exterior e, por isso, merecem apoio. Discorreu ainda sobre o BNDES destacando a “seriedade da instituição” e negou ter feito lobby junto ao banco de fomento.
“Que nunca fez lobby e que respeita os profissionais de carreira que trabalham no BNDES; que o fato de deixar a Presidência da República não lhe fez perder nada o interesse que o Brasil cresça. que toda vez que se discute crescimento e desenvolvimento é necessário incluir o BNDES na discussão”, registra trecho do depoimento.
Lula disse ter recebido convites de empresas e países para atuar como consultor, mas que se negou a exercer tal atividade porque “não nasceu para isso”.
“Que recebeu convites de muitas empresas e países para ser consultor; que não aceitou pois não nasceu para isso”, afirmou.
Perguntas sobre atuação em cinco países
O ex-presidente afirmou que sua relação com o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar era apenas “profissional”. O executivo foi preso na Operação Lava-Jato e liberado nesta sexta-feira. Lula destacou que as empresas brasileiras que pagavam por suas palestras indicavam os seus representantes para acompanhá-lo e que por isso viajou com Alexandrino. Disse não recordar exatamente quantas vezes foi acompanhado do executivo, mas acredita que em “4 ou 5” viagens.
O procurador questionou Lula sobre a atuação sua em cinco países: Chile, Angola, República Dominicana, Cuba e Venezuela. O ex-presidente negou qualquer irregularidade, atribuiu as viagens a palestras e negou ter tratado de negócios específicos nos encontros com autoridades locais.
No caso específico do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, negou ter falado com ele sobre a hidrelétrica de Laúca. Ressaltou que o diplomata que relatou tal tratativa não participou da reunião privada que teve com Santos.
O ex-presidente disse não acompanhar as finanças do Instituto Lula nem da empresa LILS, que recebe os recursos que lhe são pagos por palestras. Ressaltou apenas que tudo está contabilizado.
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